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Festival Os Filmes que Eu Não Vi está com inscrições abertas

Evento começou a ser planejado há mais de quatro anos

Por Gilson Jorge

13/10/2024 - 9:00 h | Atualizada em 13/10/2024 - 18:54
Sol Moraes produz o Festival Os Filmes que Eu Não Vi
Sol Moraes produz o Festival Os Filmes que Eu Não Vi -

Ex-presidente da Associação Brasileira de Documentaristas e curta-metragistas, e com 35 anos de experiência no mundo do cinema, Sol Moraes conhece, do Oiapoque ao Chui, histórias de filmes que ficaram prontos mas nunca foram exibidos em salas de cinema. Aliás, ela estima que mais de 90% das produções brasileiras não chegam ao público por dificuldades na distribuição.

Em outros setores, como alimentos e bebidas, distribuir um produto é basicamente fazer com que eles cheguem da indústria aos centros de distribuição e depois a atacados e varejos para que um saco de feijão chegue às mãos de um consumidor que já sabe da existência desse artigo e precisa comprá-lo.

No caso dos filmes, depois que a obra fica pronta é preciso que haja um investimento significativo para que as pessoas saibam que ele existe, desejem vê-lo e que haja cinemas disponíveis. Faz parte do investimento com a distribuição, por exemplo, pagar passagens aéreas e hospedagem para que os protagonistas dos filmes viajem às cidades e gerem notícias sobre a produção. As despesas com a distribuição podem representar até um terço do orçamento de um filme.

Essas dificuldades levaram a produtora Sol Moraes, da Água Doce Produção, a abrir duas frentes de trabalho. Uma foi a criação do curso de engenharia de produção, em que mostra aos realizadores caminhos para o financiamento da produção. O próximo módulo acontece esta semana, de 14 a 20, em João Pessoa, na Paraíba.

A segunda frente é o Festival Os Filmes que Eu Não Vi, que garante às obras selecionadas a exibição até março de 2025 na Sala Walter da Silveira, na Biblioteca Pública dos Barris, e aos filmes não selecionados, a exibição na plataforma de streaming www.cinebrasilia.com, que reverte aos produtores 50% da renda gerada pela exibição.

O festival começou a ser planejado há mais de quatro anos, mas só pôde ser viabilizado recentemente, por meio da Lei Paulo Gustavo, via Ministério da Cultura e Secretaria da Cultura do Estado da Bahia, e sua primeira edição acontece no mês de dezembro, quando todos os filmes selecionados serão exibidos na Sala Walter da Silveira.

As obras podem ser inscritas em quatro categorias, sendo três delas abertas a profissionais de todo o Brasil: curta-metragem, média-metragem e longa-metragem. A quarta categoria é produção regional, voltada a filmes de qualquer metragem que tenham sido feitos por realizadores baianos.

Para concorrer, as obras precisam ter sido concluídas até 2017 e não terem sido exibidas na TV, nos cinemas ou em plataformas de streaming como Netflix e Prime Video, ou mesmo no YouTube. A cerimônia de premiação acontece no dia 21 de dezembro. As inscrições podem ser feitas até o próximo dia 20 no site www.osfilmesqueeunaovi.org. O festival é promovido em associação com a produtora Água Doce, de Amanda Lima, sobrinha de Sol.

Até o fim desta semana, 51 produções estavam inscritas. Os 10 filmes selecionados durante o festival deverão passar por uma análise de sua trajetória no processo de produção. "Eu acredito que a gente vai fazer um trabalho bem profundo. Eu vou trazer a oficina de engenharia de produção para dentro do festival, a gente quer pegar os oito longas-metragens e os dois curtas-metragens selecionados e fazer um debate para entender por que eles ficaram sem distribuição até agora", afirma Sol.

Publicidade

Mesmo quando se chega às salas de cinema, o filme tem que lutar contra a falta de publicidade, que impede a exibição por mais de uma semana. A obra entra em cartaz e quando começa a ser comentada sai da programação da semana seguinte porque não rendeu na bilheteria.

Para dar uma dimensão da importância da produção de um filme, a produtora ouviu moradores de áreas usadas nas locações e que eventualmente participaram como figurantes ou técnicos. "Agora, para o festival, estou buscando depoimentos de pessoas que acompanharam o filme sendo rodado, mas não o viram depois", conta Sol.

Os critérios para a seleção dos filmes inscritos no festival ainda estão sendo definidos. "O que a gente vai olhar é o conjunto das obras inscritas, mas existem algumas linhas gerais que a gente deseja trabalhar, como a diversidade de formatos, de temáticas, nos projetos. Também a diversidade de origem, que contemple as várias regiões do país", afirma a cineasta Sofia Federico, curadora do festival.

Sofia enaltece a iniciativa de Sol Moraes. "É um festival muito sensível e interessado em difundir obras que já têm esse tempo de lançadas e que não conseguiram completar o ciclo", afirma a curadora.

Diretor do remake de Dona Beja, a nova produção do canal Max, que deve entrar no ar no ano que vem, o baiano Rogério Sagui até assinou um contrato de distribuição com uma empresa carioca para o seu filme Rosa Tirana, mas a obra nunca foi exibida nos cinemas.

"Os filmes que têm distribuição são os que a Globo produz, que vão para direto para o catálogo da emissora, passam na Tela Quente", explica o cineasta.

Rosa Tirana, que aborda os dramas da vida adulta sob o olhar de uma menina sertaneja, ainda carrega o ônus de ter como protagonista o ator José Dumont, que posteriormente foi acusado de armazenar pornografia infantil e aguarda julgamento. O filme foi inscrito no festival.

Sagui elogia a possibilidade de apresentar ao público filmes de vários estados que ainda não foram exibidos. "Imagine o tanto de filmes especiais que tem por aí", avalia o cineasta.

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