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23/10/2023 às 0:00 - há XX semanas | Autor: Gilson Jorge

MUITO

Franklin Carvalho, um trabalhador da escrita

Confira o perfil do escritor na íntegra

O escritor Franklin Carvalho está lançando o romance Tesserato, a tempestade a caminho
O escritor Franklin Carvalho está lançando o romance Tesserato, a tempestade a caminho -

Quando chegou a Salvador, aos 15 anos de idade, em 1983, vindo de Araci, no norte do estado, o agora escritor Franklin Carvalho decidiu cursar a Escola Técnica, atual Ifba. Não porque fosse apaixonado por física e química, mas pela necessidade de ter uma profissão. Só depois fez vestibular para Comunicação Social.

Da pobreza de sua infância e juventude, Franklin Carvalho trouxe ao menos duas experiências determinantes em seu destino com o uso das palavras. O trabalho na feira permitiu que ele, ainda menino, empregasse o seu sentido de observação para imaginar o quão diferentes seriam as vidas de aracienses que tinham dinheiro para comprar 10 laranjas em uma compra, dos que só podiam adquirir uma e dos que vinham no final da feira recolher de graça frutas descartadas pelos comerciantes.

E o município na região do semi-árido, que atualmente tem pouco mais de 48 mil habitantes, segundo o Censo 2022, deu outra colaboração importante ao escritor. A biblioteca da escola municipal onde ele tomou emprestado os livros que não pôde comprar, e que até hoje frequenta, como um homem de classe média em suas constantes viagens à terra natal. Hoje, por exemplo, ele participa em Araci da Feira Literária do Colégio Olimpos.

Há cinco anos, Franklin voltou a estudar física depois de ler o livro Hiperespaço, do teórico estadunidense Michio Kaku. A partir da ciência, surgiu a ideia do protagonista de seu novo romance, Tesserato – A tempestade a caminho, que será lançado no próximo dia 28, às 17h30, na livraria LDM, no Shopping Bela Vista.

"O que eu percebo, em relação à ciência, é que existe muita mistificação. Hoje em dia existe até xarope quântico. As pessoas tentam se aproximar da ciência, mas de forma muito enviesada", sustenta Franklin.

O protagonista de Tesserato traz em si essa confusão mística quando tenta se aproximar da ciência. "A gente não vive em um mundo que tem um entendimento linear das coisas, é como se as pessoas estivessem embriagadas", afirma.

Ao mesmo tempo, o escritor nota que no mundo lógico da ciência há partículas que desaparecem, coisas que aparecem do nada. “Você não sabe o que é vazio e o que não é", explica o escritor, mencionando que há temas não compreendidos plenamente mesmo por físicos.

O autor define seu novo livro como uma obra sobre um ser místico para pessoas que estão em busca de soluções mágicas. O enredo traz um homem com limitada formação profissional de volta ao seu povoado, acreditando que, em meio à precariedade absoluta, sua vida está sendo guiada ao sucesso com a ajuda de Ivan Hermínio, personagem místico, que funciona como uma alegoria à imagem do homem de negócios que progride graças à meritocracia.

O nome, aliás, e uma referência ao empresário Antônio Ermírio de Moraes, símbolo do capitalismo nacional. "O Brasil tem uma coisa de endeusar o rico", diz o autor.

Respeito

Franklin é incapaz de caçoar de uma crença alheia, ainda que definitivamente não a compartilhe. Ele pode descrever com respeito quase reverencial coisas em que não acredita, como se fossem seus próprios dogmas.

Outra característica do escritor é a sobriedade. Num momento em que as redes sociais estão repletas de célebres escribas expondo seus egos e lutando com o noticiário de guerra na Terra Santa, para ver quem tem a indignação mais louvável, Franklin destaca-se por seguir, por crença ou não, o aconselhamento bíblico de que não se deve exaltar os seus próprios feitos.

Vencedor do Prêmio Sesc de Literatura em 2016, por seu romance de estreia, Céus e Terra, e do Prêmio Nacional de Literatura da Academia de Letras da Bahia (2019) com o livro de contos A ordem interior do mundo, Franklin tem seu novo trabalho referendado por um texto de apresentação de Antônio Torres, da Academia Brasileira de Letras.

Mas o tranquilo morador do Dois de Julho, em Salvador, que conversa suavemente com os comerciantes, moradores de rua e com os loucos, não demonstra afetação intelectual: "Eu não me vejo como um escritor, mas como um trabalhador da escrita".

Maravilhoso

Dono da Editora Noir, que publica o romance, Gonçalo Júnior elogia tanto o escritor quanto a pessoa de Franklin. "Eu sempre achei que ele escreve muito bem. Além de ser um ser humano maravilhoso, gentil, cordial, sem estrelismo. É um escritor que foca mais em sua produção do que em se exibir", constata Gonçalo, que também é escritor e jornalista.

Sobre a qualidade do trabalho em si, o editor do livro arremata: "Franklin está construindo uma obra que anda por si, sem marketing, nesses tempos digitais", define Gonçalo.

O convite para que Franklin publicasse pela Noir foi uma deferência. Criada há seis anos, a editora não tem em seu catálogo muitos livros de autores nacionais experientes e vivos. "Eu já tinha dito que queria publicá-lo. Aí ele aparece com Tesserato, que é absolutamente bem escrito, com o completo domínio da narrativa", declara o editor.

Durante a entrevista no bairro em que mora, Franklin sugeriu a passagem pela frente de um casarão à venda na Rua do Sodré, que tem parede azul piscina e um intrigante olho místico na fachada, um dos seus lugares de interesse e que poderia figurar em um de seus textos. Antes de posar para fotos em frente ao Casarão, surge a dúvida se a pessoa que possui o imóvel faria objeção.

Pouco depois, uma senhora chega da rua, apresenta-se como dona da casa, que está à venda, e não só permite a foto como convida todo mundo para conhecer o interior. Franklin contempla os enormes espaços interiores e conta que, na juventude boêmia dos anos 1980, terminou algumas farras com amigos dormindo em casarões parecidos com aquele, só que abandonados. Uma prática conhecida como urbex, sigla em inglês para exploração urbana, que está presente também em Tesserato.

A vida adulta no Dois de Julho tem sido bem mais tranquila, sobretudo depois da pandemia. Com o home office, Franklin se habituou a passar longas temporadas em sua cidade natal e, depois de voltar à rotina de trabalho presencial, o agito dos bares na vizinhança o seduz menos.

Mas as histórias estão por ali, nesse bairro que para Franklin é uma espécie de portal para quem chega a Salvador de outra cidade, onde é possível se acostumar aos poucos com as idiossincrasias da capital baiana.

O escritor, ou trabalhador da escrita, como se define, gosta desse lugar onde colhe histórias, na fila do mercado, na barbearia ao ar livre. Muitas dessas conversas ouvidas na rua viram crônicas no caderno Muito+, de A TARDE, no qual é colaborador. O bairro também é onde marca para rever amigos e encontra pessoas muito mais arrumadas do que ele e também outros com trajes mais informais. De sorte que ele mesmo sempre acha que saiu de casa com a roupa errada. O certo é que sempre há caminhos a serem explorados nos textos de Franklin.

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