Menu
Pesquisa
Pesquisa
Busca interna do iBahia
HOME > MUITO
Ouvir Compartilhar no Whatsapp Compartilhar no Facebook Compartilhar no X Compartilhar no Email

OLHARES

Fred Sá, um artista global

Confira a coluna Olhares

Por Celso Cunha Neto, arquiteto e artista visual

22/12/2024 - 3:00 h
Fred Sá, artista plástico
Fred Sá, artista plástico -

Nessa atual geração de artistas baianos, Fred Sá (@fr3d.art), como assina seus belos grafites, é um artista pouco conhecido do grande público e inclusive no ambiente das artes visuais baianas. Ele é um jovem soteropolitano que teve a oportunidade de morar em vários países e conviver com várias culturas, ampliando sua formação, seja acadêmica ou enquanto indivíduo e artista sensível e atento.

É um artista inserido e sintonizado com a atual produção artística mundial e carrega em sua mochila influências dessas várias experiências e culturas, tornando-o um artista global.

Ele morou na França, tendo cursado a Grand École em Lyon, onde aprendeu a desenhar e a pintar de maneira intensa, disciplinada e rígida para os padrões baianos, com 40 horas de prática semanais.

Em Paris, ele frequentou um curso noturno, ou Cours du Soir, na Escola de Belas Artes de Paris, onde conheceu mais uma faceta da rigorosa escola de belas artes francesa, com exaustivas sessões de reprodução de modelos, desenhos e pinturas clássicas e modernas, o que enriqueceu sólida e profundamente sua formação.

Nessa época, ele teve uma vida típica de universitário, experimentando a boemia parisiense com sua riqueza de experiências, camaradagem e liberdade. Foi quando tomou contato com o grafite, ao ser levado por um colega para pintar um muro numa via férrea abandonada de Paris. Essa abertura para o mundo externo, a saída do atelier, o marcou profundamente, fato que o acompanha até hoje, segundo suas próprias palavras.

“Naquele momento que eu pintei aquele muro, era meio que embaixo de um viaduto, eu lembro mais ou menos ainda. A gente atravessou um alambrado, caminhou pela lateral do trem e quando chega na linha do trem é tudo muito caótico, tem pedras soltas no chão, tem várias pinturas e escritos ao redor dos muros, e os trilhos que seguem ao infinito. Eu estava muito acostumado a pintar em ateliê, num ambiente supercontrolado, confortável. Então, foi um choque de realidade muito grande. E aquilo meio que passou a me perseguir. Eu não conseguia mais apenas ser o desenhista de ateliê, porque não me satisfazia”, afirma Fred Sá.

Retornou ao Brasil para concluir seus estudos na Universidade de São Paulo, Escola de Comunicação e Artes, em Publicidade. Nesse período, trabalhou na Rua Augusta, em um estúdio de comerciais de TV, onde foi introduzido ao mundo do audiovisual e das animações. Fred desenhava personagens e os animava, realizava design, catálogos de moda e de marcas. Durante esse período, Fred voltou para a arte de rua, o grafite como sua vocação natural, tendo executado vários painéis, em solo ou com seu grupo.

Nessa época, trabalhou também em Salvador com Chico Liberato, em seu estúdio, e com sua produtora e filha Cândida Liberato em um longa-metragem intitulado Ritos de Passagem (2013), sobre Antônio Conselheiro e Lampião.

Fred é um artista que está sempre em busca de conhecimento, portanto resolveu fazer o Mestrado em Animação e Artes Digitais na University of Southern California (USC), onde estudou e morou durante cinco anos.

Nessa altura, percebeu que seu sonho era naturalmente realizável, porém teria que se adaptar à dura realidade, ao pragmatismo norte-americano. Um universo das artes visuais que está atrelado não ao conteúdo, mas principalmente ao seu glamour, ao seu potencial de comercialização, à participação do artista no ambiente de celebridades e sua exposição nas mídias, enfim, onde a produção artística é mais um meio de produção econômica e como tal é intensamente estimulado e friamente abordado.

Em decorrência, começou a perceber que em Los Angeles, embora certamente tivesse sucesso profissional e econômico, seria apenas mais um na enorme engrenagem da indústria cultural norte-americana, que abraça, engole e anula a maior parcela de seus artistas.

Trabalhou para a Sony Entertainment em um estúdio de animação em Hollywood chamado TitMouse e, oportunamente, também com jogos e realidade virtual.

De volta –

Voltando ao Brasil, em São Paulo, se envolve com o grafite, onde recupera sua alegria expressando-se nos muros da cidade com seus amigos artistas. Logo precisou voltar a Salvador por motivos familiares, onde mora e mantém seu atelier.

Tendo uma considerável produção em grafite, seja na California, São Paulo ou Salvador, podemos afirmar que Fred faz parte atualmente de uma casta de jovens grafiteiros, estrangeiros e brasileiros, que têm em comum, além da criatividade, a ânsia de liberdade, o senso crítico social e político, bem como uma formação acadêmica formal em artes visuais.

Seu grafite contém, além do vigor, uma ampla gama cromática particular, um diferencial que não conheço aqui na Bahia, o movimento, o stop motion, técnica adquirida em sua formação de cinema.

Esses grafites se diferenciam, assim como suas pinturas e desenhos, por serem primorosamente planejados e executados com pesquisa e rigor acadêmico ao tradicional estilo europeu, mas com surpreendente resultado contemporâneo.

Fred Sá tem boa formação cultural e demonstra claramente seu pensamento e suas inquietações acerca do seu trabalho, desenvolvendo um raciocínio lógico e crítico sobre seu trajeto e a atual fase, sem eufemismos e confortáveis discursos hiperbólicos conceituais.

Ao analisarmos suas pinturas, percebemos em seu estilo neoimpressionista influências diversas. A mais marcante é a do pintor alemão Lucian Freud, seja por conta do uso do pincel ou da dramaticidade de seus personagens, também de uma certa similaridade de paleta cromática, assim como do solitário pintor impressionista Paul Gauguin.

Encontro também identidade com os importantes artistas dos movimentos expressionistas da vanguarda alemã do início do século 20: o Die Brücke (1905) e o Der Blauer Reiter (1911), seja no aspecto de crítica social ou na abordagem emocional, espiritual.

Com paisagens líquidas com elementos e personagens de forte carga simbólica, Fred nos conduz a seu mundo interior, onírico e poético por excelência, uma fantasia com liberdade calculada. Ele acrescenta momentos de total experimentação, como se o resultado final jamais venha a ocorrer, apenas o processo de exercício, experimentação e surpresa.

Além do misticismo oriental que ronda fortuitamente suas composições, desenhos e pinturas atuais, percebemos a clara presença de referências excelentes, as quais ele capitaliza e multiplica em uma arte pessoal profundamente autoral e com estilo marcadamente próprio. Em que a carga de informações culturais cumpre seu devido e exato papel enquanto substrato sólido na formação do artista.

Fred Sá pensa e expressa suas certezas e dúvidas naturais e saudáveis de maneira clara e direta, envolvendo o receptor em seu mundo prático, porém carregado de fantasia e poesia, atributos indispensáveis da arte de boa qualidade.

*O conteúdo assinado e publicado na coluna Olhares não expressa, necessariamente, a opinião de A TARDE

Compartilhe essa notícia com seus amigos

Compartilhar no Email Compartilhar no X Compartilhar no Facebook Compartilhar no Whatsapp

Cidadão Repórter

Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro

ACESSAR

Siga nossas redes

Siga nossas redes

Publicações Relacionadas

A tarde play
Fred Sá, artista plástico
Play

Filme sobre o artista visual e cineasta Chico Liberato estreia

Fred Sá, artista plástico
Play

A vitrine dos festivais de música para artistas baianos

Fred Sá, artista plástico
Play

Estreia do A TARDE Talks dinamiza produções do A TARDE Play

Fred Sá, artista plástico
Play

Rir ou não rir: como a pandemia afeta artistas que trabalham com o humor

x

Assine nossa newsletter e receba conteúdos especiais sobre a Bahia

Selecione abaixo temas de sua preferência e receba notificações personalizadas

BAHIA BBB 2024 CULTURA ECONOMIA ENTRETENIMENTO ESPORTES MUNICÍPIOS MÚSICA O CARRASCO POLÍTICA