ARTES
Galeria Matriz é inaugurada com exposição de Akira Cravo
Curador da mostra, o designer Lukas Cravo, irmão do homenageado, explica o que privilegiou durante a seleção das fotos
Por Gilson Jorge
O coração do fotógrafo Akira Cravo parou de bater no dia 13 de novembro de 2023, uma semana antes de completar 32 anos. Mas sua obra segue pulsando. Em menos de duas décadas de carreira, e com o peso de ter como avô o escultor e artista visual Mário Cravo Júnior, e como pai o também fotógrafo Mário Cravo Neto, Akira conseguiu imprimir suas próprias digitais no mundo da comunicação e artes com imagens que alternam a velha tradição da baianidade, e os sutis contornos de expressões humanas que, locais, poderiam ter surgido em diversos pontos da Terra.
Essa segunda faceta de seu trabalho foi a escolhida para iluminar a exposição inédita Das Cores e Sombras, que fica em cartaz até 3 de novembro na nova Galeria Matriz, que funciona no Palacete Tira-Chapéu, na Rua Chile, ainda de forma provisória.
Curador da mostra, o designer Lukas Cravo, irmão do homenageado, explica o que privilegiou durante a seleção das fotos. "A escolha das imagens que os espectadores vão ver na exposição traduz algo que Akira fazia muito bem, o uso de sombras e cores", diz Lukas, para quem o irmão captava como ninguém as nuances. "Ao mesmo tempo em que as fotos são escuras, tem uma coisa ali meio misteriosa, mas tem uma explosão de cores nos detalhes", afirma o designer.
Lukas iniciou a seleção por dois trípticos do irmão. Tríptico é a junção de três imagens, semelhantes ou não, que formam um todo. "Quando eu escolhi esses dois que veio o start do que seria a sequência das demais imagens e o título da exposição", declara o curador.
Lukas escolheu fotos produzidas por Akira na Bahia e no Maranhão e aponta no enquadramento do irmão uma singularidade que dificulta os palpites sobre a localidade dos cliques. "Eu optei por não ter nada marcado como ponto turístico ou sítio histórico. Tem uma foto na Feira de São Joaquim que quem conhece bem o local vai identificar, mas quem não conhece pode achar que é outro lugar", explica o curador.
As imagens selecionadas por Lukas foram produzidas entre 2012 e 2016 e permaneceram guardadas ao longo desses anos. O curador afirma que essas peças trazem uma ideia de composição pensada pelo próprio fotógrafo, que também trabalhou por muitos anos com o irmão imprimindo fotos no Estúdio Lukas Cravo.
Akira começou a fotografar aos 17 anos, quando ganhou do seu pai, Mário Cravo Neto, uma máquina fotográfica. No texto de apresentação do fotógrafo no site da Paulo Darzé Galeria, o artista e crítico de arte Justino Marinho afirma que a primeira reação de Akira ao receber o presente de aniversário foi de decepção, pois ele esperava receber óculos esportivos. Mas não tardou a usar a máquina. Deve ser muito difícil ter Cravo como sobrenome e recusar o apelo das artes.
O presente de aniversário ganhou uma dimensão ainda maior para Akira porque um ano depois de receber a máquina fotográfica, Mário Cravo Neto morreu.
Além de retratar a Bahia, o jovem artista fotografou atrizes famosas como Cleo Pires, Flávia Alessandra e Mariana Ximenes. Em 2013, morou por seis meses em São Paulo, onde trabalhou com J.R. Duran.
Emoções
Sobre organizar a homenagem ao irmão falecido há pouco tempo, Lukas declara que foi um processo "tranquilo, mas cheio de emoções", facilitado por ele conhecer bem o trabalho de Akira. Foi a inauguração da Galeria Matriz, um empreendimento do fotógrafo Kiolo e do empresário do setor de tecnologia Moacy Veiga, que ensejou a exposição de Akira. E contou muito o relacionamento pessoal e profissional de Kiolo com o homenageado e com o seu irmão Lukas Cravo, designer com estúdio de impressão com o qual trabalham artistas de renome, como Ayrson Hieráclito.
Kiolo destaca que o seu sócio, além de ser um colecionador de arte, tem interesse em alavancar expressões artísticas. Por isso, a Matriz deve ter ênfase na exposição de artistas contemporâneos em diferentes linguagens, inclusive o grafite.
Sobre a exposição inaugural, Kiolo declara: "Esse trabalho é mais sombrio, mais misterioso, mas extremamente colorido", afirma o fotógrafo e marchand, ao destacar que o trabalho de Akira é extremamente vinculado às marcas soteropolitanas mais facilmente reconhecíveis, como a Feira de São Joaquim, a cultura afro-baiana, o Centro Histórico e o Porto da Barra – como o trampolim de pedra, de onde crianças se atiram nas águas cálidas da baía.
Com a primeira exposição da galeria pronta, Kiolo diz que ele e o sócio estão vivendo cada dia, com as ocupações do presente. "Quando a mostra acabar, em novembro, a gente pretende fazer uma segunda exposição, que a gente não sabe ainda com quem vai ser. Estamos cogitando alguns nomes", afirma o marchand.
A exposição permanece em cartaz até 3 de novembro. O horário de visitação é de terça a quinta, das 16h às 21h; sexta a domingo, das 13h às 21h.
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