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Guiga de Ogum lança primeiro disco aos 82 anos

Guiga finalmente pode apreciar no conforto de sua casa um álbum com canções compostas e interpretadas por ele

Por Gilson Jorge

19/01/2025 - 8:00 h
Guiga de Ogum
Guiga de Ogum -

No segundo andar do casarão azul onde mora, na Rua Visconde de Mauá, Centro de Salvador, Guiga de Ogum, 82 anos, reúne-se com dois amigos, sua filha e um neto. O tempo está muito abafado por volta das 15h de uma segunda-feira e, sem camisa, o velho sambista ainda tem os dedos impregnados da refeição que acabou de fazer. Pede desculpas por não poder apertar ainda a mão da equipe de reportagem, vai lavar as mãos e colocar uma camisa azul, a cor de Ogum.

O cantor tem um sorriso largo. Depois de mais de 50 anos de carreira, Guiga finalmente pode apreciar no conforto de sua casa um álbum com canções compostas e interpretadas por ele. As oito faixas do álbum Mundo Melhor, repetem-se gostosamente no aparelho de som colocado sobre a mesa, também azul, onde Guiga escreve as suas obras em folhas de caderno.

Ao lado de Walmir Lima e Regi de Itapuã, Guiga participou da coletânea Bahia dá Samba, lançada em 2018. E dois anos depois, gravou o single Arrasta-pé no Forró do Cais. Entretanto, o sonhado disco autoral só saiu no finzinho de 2024.

Foi uma longa espera. Seja pela recusa de gravadoras, por percalços na produção ou pelos insondáveis critérios dos editais, o poeta da Ladeira da Preguiça, que se define como alguém orgulhoso e pouco afeito a se humilhar, levava a mágoa de não ter registrado ainda o seu trabalho, como Ederaldo Gentil, Batatinha, Riachão, Walmir Lima e Nelson Rufino já tinham feito há décadas. Um descaso difícil de engolir.

Mas, afinal, chegou o reconhecimento ao homem que, ainda no início da carreira, emplacou uma canção no disco de uma das grandes intérpretes brasileiras. Diva do jazz, Leny Andrade lançou há 50 anos um disco de sambas, com canções de Ary Barroso, Egberto Gismonti, Ederaldo Gentil e outros. Uma das faixas, Presentes do Mar, foi composta por Guiga.

A música foi apresentada a Leny por Edson Conceição, compadre de Guiga e autor de Não deixe o samba morrer. "Deu pra ganhar um dinheiro ", lembra o artista, que anos depois pegaria, junto a um amigo, um ônibus da viação Itapemirim, tendo como destino o Rio de Janeiro.

Guiga buscava o sucesso. Encantado com a Cidade Maravilhosa, olhava com entusiasmo a imagem do Cristo Redentor, observando-a de vários pontos da cidade, como quem agradece os degraus da vida que ele tinha subido. Inspirado pela luz azul projetada sobre o monumento, Guiga compôs Cristo Redentor. Mas as coisas não saíram como planejado e ele voltou para a Bahia duas semanas depois.

O primeiro álbum do poeta foi lançado digitalmente no último dia 13 de dezembro, após dois anos de gravação em um estúdio na Boca do Rio, em um longo processo de entrega, determinação e preocupação. Há cinco meses, na reta final do projeto, Guiga foi internado com problemas cardíacos, mas voltou pra casa e já faz planos de lançar um novo disco.

A confecção do primeiro disco, disponível nas plataformas de streaming, não foi fácil. O projeto começou depois que o jornalista, músico e produtor paulistano Camilo Árabe foi apresentado a Guiga em uma roda de samba. Em suas constantes viagens a Salvador para conhecer a cena local, Camilo se aproximou do sambista. "A gente começou a desenvolver uma amizade e ele foi homenageado algumas vezes pelo nosso coletivo, o Sindicato do Samba", lembra o produtor.

Com o passar do tempo, Guiga pediu a Camilo que produzisse um disco seu. "Eu inscrevi o disco em alguns editais, mas sempre bateu na trave, o projeto ficou como suplente", conta o produtor, que inicialmente decidiu custear o disco com recursos próprios.

"Eu pensei: não temos tempo a perder, vamos para o estúdio", lembra o produtor, que por coincidência conheceu o Irmão Carlos, músico da cena punk e dono de um estúdio na Boca do Rio, durante um curso de agrofloresta na Chapada Diamantina. Irmão Carlos, que produziu o disco junto com Camilo, acabou se aproximando do universo do samba baiano e fez captação de recursos para o álbum.

Um dos doadores foi o deputado estadual Robinson Almeida, que também mandou confeccionar um simulacro de um disco de vinil com a arte do álbum Mundo Melhor, entregue a Guiga no dia 13 de dezembro, dentro das comemorações pelo Dia do Samba.

Na época da gravação, o músico Gabriel Batatinha, neto de Batatinha e que mora na Suíça, estava em Salvador e foi convidado a participar do disco. "Ele é um cara que harmoniza e conhece a obra de Guiga muito bem e ia voltar para a Europa", lembra Camilo, ao explicar a urgência de ir para o estúdio.

O produtor paulistano destaca que, em meio à escassez de recursos e a pressa em realizar o trabalho, ficou claro para ele que o disco precisava reforçar a poética de Guiga e a sua ligação com a afro-baianidade. O álbum traz canções em homenagem ao Ilê Aiyê, Muzenza, Olodum e Filhos de Gandhy. No disco, os tambores foram tocados pelo ogan Gabi Guedes.

Geovana Santos, filha de Guiga, faz parte do coral no disco, junto com Patrícia Ribeiro, do Samba do Liba e uma das sócias do Bar Batatinha. De fora da Bahia, foi convidado a participar do álbum o cavaquinista pernambucano Mestre Siqueira, que tocou com Pixinguinha.

Além da possibilidade de o disco ser lançado também em vinil, estão previstos um show esse ano em um teatro de Salvador, um documentário sobre a vida do sambista e um livro.

Último remanescente da escola de samba Ritmistas do Samba, lendário grupo cultural da Preguiça, Guiga pode enxergar a estátua de Castro Alves desde o quintal de sua casa, o Quintal do Poeta, onde uma vez por mês acontece uma roda de samba com amigos.

No térreo, está sendo construída a Casa do Poeta, espaço destinado à preservação da memória de Guiga, que naturalmente não está pensando em parar, justamente agora que gravou o seu primeiro álbum.

"Eu agradeço a Deus, ao Senhor do Bonfim, aos meus protetores e guias espirituais. Eu cheguei a esse patamar. É uma luta constante, sempre muito difícil. Mas a gente supera ", diz o poeta, que retrata o cotidiano do centro de Salvador, como o dia de Carnaval em 2006 em que subiu a Ladeira da Preguiça com o neto Mateus, então com quatro anos de idade, montado em seu pescoço, rumo ao Campo Grande, para ver Bell Marques, ídolo do garoto até hoje.

"Ele diz que eu sou o seu segundo ídolo, o primeiro é Bell", brinca o poeta, que por causa do neto compôs a música Voando com você, em homenagem ao então líder do Chiclete com Banana. "Todas as minhas obras são baseadas no amor, na fé. Os caminhos estão se abrindo", afirma Guiga, que continua acreditando na beleza da vida.

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