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BIKE

Histórias de afeto e superação no grupo Pedal das Meninas

grupo Pedal das Meninas completou nove anos em atividade e coleciona histórias de afeto e superação

Por Renato Alban

17/09/2023 - 6:19 h
Imagem ilustrativa da imagem Histórias de afeto e superação no grupo Pedal das Meninas
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Dezenas de mulheres uniformizadas em bicicletas passam pela Orla de Salvador a 20 km por hora. Elas também podem ter sido vistas pedalando em Itacaré, Morro de São Paulo, Boipeba, Cachoeira, Mucugê e até em Aracaju. O grupo Pedal das Meninas completou nove anos em atividade e coleciona histórias de afeto e superação.

A arquiteta Alba Sena Gomes, 62 anos, está no grupo desde o início. Ela começou a pedalar depois de se recuperar de um câncer de mama e de fazer um tratamento de emagrecimento. “Comecei a buscar um esporte para manter o peso, então surgiu a ideia de pedalar”, lembra a arquiteta. Ela começou a praticar a atividade com outro grupo.

Em seguida, uma amiga a apresentou ao Pedal das Meninas. “Foi uma fase muito importante para mim, porque consegui retornar ao meu peso depois de um tratamento de câncer e também de obesidade”. Alba conta que se sentiu acolhida pelo grupo e, em especial, pela líder do coletivo, a assistente social e professora de ciclismo Karina Silveira, 53 anos.

Karina é a fundadora e coordenadora do Pedal das Meninas. É responsável pela organização e manutenção do grupo desde 2014. Ela conta que há 12 anos se reaproximou do ciclismo, que já gostava na infância: “Na época, eram poucos grupos e eram só de homens, então, comecei a sentir necessidade de ter um espaço só de meninas”.

O sentimento de Karina era compartilhado por muitas outras mulheres em Salvador. No Parque de Pituaçu, ela montou um “pedal”, como é chamada a atividade. Em cinco meses, o coletivo já tinha mais de 100 ciclistas. Atualmente, no grupo de mensagens no WhatsApp, o Pedal das Meninas reúne 350 integrantes.

Nas ruas, o grupo se dividiu em vários, especialmente durante a pandemia. Mas o original permanece ativo, com cerca de 40 a 50 mulheres pedalando juntas, todos os domingos, na Orla de Salvador, entre 20 km e 45 km. “Mas também viajamos para pedais”, destaca Karina. O coletivo já esteve em destinos como Morro de São Paulo e Aracaju, em Sergipe.

Outra mudança nessa quase uma década de Pedal das Meninas foi a estrutura de Salvador, onde é a atuação principal do grupo. Às vésperas do Dia Mundial Sem Carro, na próxima sexta-feira, 22, Alba afirma que a cidade tem mais ciclovias e ciclofaixas que há nove anos, mas destaca que é necessário um maior investimento para melhorar a segurança e a atividade dos ciclistas.

Participação

Karina explica que a participação no grupo é gratuita, mas todas as integrantes passam por uma entrevista com ela antes de frequentar os pedais: “Por questão de segurança, a gente não divulga nenhum roteiro”. O grupo, esclarece a fundadora, não é aberto para qualquer ciclista. “Temos receio de pessoas com má-índole, homens que podem fazer mal às meninas”.

As entrevistas também são feitas para assegurar que as novas integrantes vão conseguir acompanhar o Pedal das Meninas. A interessada precisa ter bicicleta e, caso seja iniciante, deve ir num pedal voltado para esse público, realizado uma vez por mês. Karina também indica às iniciantes participar de outros coletivos de bike.

Esse cuidado, afirma a líder do grupo, ajuda a manter a segurança das integrantes. Segundo ela, em nove anos, houve apenas duas quedas no Pedal das Meninas, mas sem gravidade. Para ajudá-la a manter a segurança, ela conta com a assistência de quatro pessoas que controlam o trânsito e guiam as ciclistas, os batedores.

Acolhimento

A gerente de produto Bete Mercadante, 46 anos, começou a pedalar com o grupo há dois meses. Ela passou a frequentar coletivos de ciclismo para iniciantes e, quando viu o grupo de mulheres, se interessou: “Certa vez, eu andando pela rua, passou uma pessoa com o uniforme do Pedal das Meninas e me olhou sorrindo, com um olhar extremamente acolhedor”.

Bete entrou em contato com Karina e, agora, pedala com o grupo nos dias para iniciantes e também com outros coletivos para quem está começando no esporte. “Pedalo para me desafiar, melhorar a resistência, isso está me dando uma vida mais saudável e intensa. Mudou muito a minha vida”.

Ela diz que, antes, tinha dificuldade de fazer exercício. “Em grupo, tenho um estímulo, além de ter as trocas e orientações para melhorar a performance”, conta Bete, que comemora cada desafio cumprido. “Consegui subir a ladeira do zoológico, era tanta serotonina e dopamina, muita alegria!”, brinca. Para ela, o Pedal das Meninas é um grupo acolhedor que estimula hábitos saudáveis.

Veterana do coletivo, a arquiteta Alba concorda: “É um grupo muito unido”. Ela conta que o Pedal das Meninas chegou a ter um projeto de doação de turbantes e chapéus para mulheres em tratamento oncológico na campanha Outubro Rosa, de conscientização sobre o câncer de mama. As participantes do grupo também conversavam com as pacientes.

“Eu conseguia mostrar que eu já tinha passado por aquilo e que estou aqui hoje pedalando com as meninas, saudável, viva. Era gratificante para eles e muito mais para mim, porque alimentava a minha alma”, lembra Bete, que se reveza entre os pedais e a musculação. “Pedalar regula o meu humor, minha ansiedade, me acalma e consigo manter o peso”.

Machismo

A líder do Pedal das Meninas conta que é comum que as participantes se sintam “fortalecidas e acolhidas” no coletivo, que já sofreu casos de machismo. “Quando o grupo foi lançado, chegou a ter aposta de engradado de cerveja feita por um grupo de homens dizendo que o pedal da gente não duraria um ano”, lembra.

Em outra situação, vários homens pediram para Karina o contato das integrantes. “Respondi rápido que nosso grupo não era bordel. Sempre fui muito clara e direta, e isso foi fazendo com que o Pedal das Meninas fosse respeitado”.

Karina preza pela manutenção de um ambiente familiar no coletivo. “Às vezes, lidamos com meninas em depressão, sem amigos, meninas que se separaram e que só tinham o marido como amigo. No grupo, elas criam vínculos e trabalhamos muito a questão do emocional”, diz.

A assistente social relata que não foi apenas a vida das integrantes do coletivo que mudou com o Pedal das Meninas. Durante a pandemia, ela foi demitida do antigo emprego e, depois de buscar capacitações, se tornou professora de ciclismo, ou “personal bike”. “Se não fosse o grupo, eu estaria desempregada e perdida. Elas me ensinaram que eu poderia viver da bike”.

Com hipertensão e diabetes, Karina também enxerga o ciclismo como uma via para se manter saudável. “O meu corpo mudou, minha saúde mudou. Tenho 53 anos e sinto que vou envelhecendo com a melhor qualidade de vida”, diz ela, que desde a pandemia gera sua renda com aulas de bike. “Foi uma grande mudança. A bicicleta é minha vida, meu sustento”.

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