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31/01/2022 às 6:00 | Autor: Vinícius Marques

TRILHOS URBANOS

'Histórias do Metrô Bahia' revela cotidiano de 15 personagens

Websérie, exposição fotográfica e podcast traz personagens de Salvador e Lauro de Freitas

Com 33 km de percurso, 20 estações e oito terminais integrados, muita coisa deve ter sido vivida nos vagões do metrô de Salvador e Lauro de Freitas. Nas mais de um milhão de viagens realizadas nos sete anos, desde a instalação dos trilhos na Bahia, é impossível imaginar todas as experiências coletivas e individuais dos clientes e das pessoas que trabalham para o metrô.

É dessa curiosidade que surge o projeto Histórias do Metrô Bahia, realizado pela CCR Metrô Bahia em parceria com a ONG Cipó – Comunicação Interativa. Através de uma websérie, exposição de fotos e podcast, histórias de personagens de Salvador e Lauro de Freitas, que utilizam ou foram de alguma forma beneficiados com a chegada do metrô na Bahia, ganham luz e são contadas para todos.

Estudantes, empreendedores, professores, colaboradores, entre outros, formam as 15 histórias que serão contadas até o dia 16 de fevereiro num hotsite especial para o projeto. A cada semana, três histórias serão publicadas. Na página de cada história, é possível ver um vídeo de cerca de dois minutos, um podcast com até sete minutos e uma galeria de fotos dos personagens. Paralelamente, uma exposição com todos os participantes pode ser conferida presencialmente na Estação Campo da Pólvora até o dia 20 de março.

A ideia para o projeto é semelhante ao que a CCR Nova Dutra realizou algum tempo atrás, entretanto, de acordo com Nilton Lopes, coordenador da ONG Cipó, o Histórias do Metrô Bahia foi pensado para ser além de uma campanha, mas também uma ação de impacto para as comunidades ao redor das estações do metrô. Para produzir os vídeos da websérie, a Cipó convidou a produtora Cine Kurumin, dos Barris; para o podcast, o Coletivo Move o Bar, do Subúrbio Ferroviário e Pele Preta, da Fazenda Grande; já as fotos foram produzidas por Magali Moraes, de Lauro de Freitas.

E é por conta disso que a Cipó foi a escolhida para viabilizar essa campanha, pois para além de um parceiro executor, produtora de vídeo ou agente de comunicação, eles são uma produtora social com experiência em contação de histórias.

“Antes desse projeto, realizamos o Minha História de Vida Importa, onde contamos histórias de jovens negras e negros do Nordeste de Amaralina como uma ideia de fazer com que essas histórias sejam vistas”, lembra Nilton.

Lupa

Para o coordenador da ONG, foram priorizadas histórias que a princípio poderiam passar despercebidas pela cidade. Ele destaca que a maioria delas são de pessoas que rodam Salvador e Lauro de Freitas todos os dias pelos trilhos do metrô, mas que podem não ser vistas e o desejo principal era colocar uma lupa nessas pessoas. No total, foram mais de 100 pessoas consultadas para chegar nas 18 que formam as 15 histórias.

“Praticamente todos os personagens são negras e negros que vivem a cidade de uma forma muito visceral. Fizemos uma curadoria dessas histórias privilegiando comunidades no entorno do metrô, para entender como essas histórias impactam no desenvolvimento dessas comunidades”, destaca Nilton.

Rosa Dias, esteticista: pesquisa para peles negras
Rosa Dias, esteticista: pesquisa para peles negras | Foto: Magali Moraes | Cipó

Entre uma dessas histórias está a de Rosa Dias, 40 anos, esteticista e cosmetóloga dona da RD Dermocosméticos. Antes de empreender, ela era supervisora em um banco e por conta da alta demanda no trabalho desenvolveu dermatite. “Quando fui ao dermatologista saber do que se tratava, ele me explicou que a dermatite pode vir proveniente de estresse, mas que é uma doença crônica, não tinha cura, e eu teria que lidar com isso”, lembra Rosa.

Inconformada com o diagnóstico, ela decidiu estudar sobre a doença e foi então que o interesse pela pele surgiu. Um curso técnico e uma graduação depois, Rosa se prepara para uma pós onde pretende alavancar ainda mais seu empreendimento e desenvolver pesquisas voltadas para peles negras.

“Na faculdade, a gente não aprende a tratar peles negras. A gente só estuda artigos científicos que foram pesquisados em peles brancas”, conta Rosa.

Vendo essa lacuna e considerando que a pele negra possui característica totalmente diferentes da pele branca, ela entendeu que precisava se especializar para atender essa demanda e foi então que surgiu a RD Dermocosméticos.

Mas para isso se tornar uma realidade, Rosa precisou participar de um curso online chamado Acelerando Seu Corre, promovido pela Wakanda Educação com apoio da CCR Metrô Bahia.

“Vi a necessidade de estar buscando mais informações referentes à organização do meu negócio. Me joguei, fiz o pitch da minha empresa e fiquei em segundo lugar numa competição entre os três melhores”, lembra a cosmetóloga. Agora, sua trajetória está documentada e ela acredita que isso pode servir de inspiração para os milhares de baianos que viajam pelo metrô.

Já a professora da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia, Denise Ribeiro, 62, tem uma história mais antiga com os trilhos. O pai dela era ferroviário e desde pequena ela se interessou pela área do pai. Na faculdade de engenharia civil, Denise estagiou na mesma empresa dele, a Rede Ferroviária Federal, que depois passou a se chamar CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos).

“Esse vínculo da minha profissão com a minha vida pessoal, com pai ferroviário, deve ter sido o que fez com que a CCR Metrô Bahia tenha visto uma possibilidade de eu estar contando minha história”, afirma a professora.

Visitas de campo

Docente das disciplinas de Ferrovias, no curso de Engenharia Civil, e da disciplina Transporte Sobre Trilhos, no curso de Tecnologia e Transporte Terrestre, Denise sempre realizou visitas de campo nas unidades do metrô de Salvador. “Esses encontros sempre foram muito ricos, porque os alunos tinham contato com a prática. Desde o planejamento, operação e a manutenção”, conta Denise.

Em 2020, por conta da pandemia, criaram o projeto Embarque, que proporcionava visitas dos alunos de forma virtual. Nessa nova versão, alunos de todo o Brasil podiam participar das ações.

Denise lembra que seus alunos já participaram de encontros virtuais nos trilhos do metrô baiano acompanhados de alunos das universidades do Rio Grande do Norte e Pernambuco.

A analista de Sustentabilidade da CCR Metrô Bahia, Luana Xavier, conta que o projeto está sendo bem aceito pelo público e mesmo com poucas histórias publicadas até o momento, já tem recebido bastante acessos.

“Provavelmente, receberemos muitas outras histórias a partir dessas que promoveremos a divulgação semanalmente até o dia 16 de fevereiro”, conta a analista.

Ela destaca que sempre convida as pessoas para irem ao site do projeto para que possam participar enviando suas histórias por e-mail. “Vamos estimular através das nossas redes sociais internas e é possível, assim, que o projeto se estenda”, afirma.

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