MUITO
Instagram é o novo Tinder?

Por Victor Melo

Imagine estar fazendo vestibular e o fiscal não parar de lhe olhar durante a prova inteira. A reação inicial do estudante Odonilton Lemos foi achar que o rapaz estivesse desconfiado dele, como se estivesse colando. Mas, para a sua surpresa, quando entregou a prova, o fiscal deu um “sorriso daqueles que a gente não dá para qualquer um”. E não deu outra. Poucas horas depois de chegar em casa, Odonilton recebeu uma mensagem no Instagram do tal fiscal, que o encontrou pelo nome na lista de presença. Depois de muita conversa pelo aplicativo, eles acabaram ficando juntos por um tempo.
O Instagram tem mais de um bilhão de usuários ao redor do mundo e é uma das redes sociais mais usadas por jovens. A plataforma, criada em 2010 pelo americano Kevin Systrom e pelo brasileiro Michel Krieger, permite que os usuários postem fotos e interajam com seus seguidores por meio de diversas ferramentas, que vão de curtidas e comentários nas imagens, chat (o famoso direct) e stories (vídeos curtos que só ficam disponíveis para visualização durante 24 horas). A interação entre os usuários se tornou, para muitos, uma forma de conhecer pessoas novas e paquerar.
Após terminar um namoro, a estudante de publicidade Milena Moutinho resolveu usar as redes sociais para encontrar alguém interessante. A primeira que ela tentou foi o Tinder, mas não se sentiu muito confortável com a maneira como as pessoas são apresentadas no aplicativo. Para ela, o formato soou “muito como uma vitrine”, em que as pessoas são apresentadas de forma muito impessoal e não têm a oportunidade de se conhecerem, de fato, para depois partirem para a paquera.
Aqueles que fogem dos aplicativos tradicionais de pegação – como o Tinder, o Happn e o Grindr – encontram no Instagram um lugar menos opressor, digamos, para começar a conversar. Fica mais fácil conhecer gente nova e ficar sabendo do cotidiano delas. Rafael Pereira, também aluno de publicidade, optou pelo aplicativo por considerá-lo “dinâmico”. “Você acaba conhecendo a pessoa e entendendo sobre ela a partir de uma simples análise do perfil”.
E aí existem alguns truques para entender a intenção do alvo. Alguns são universais. Quando alguém curte a foto mais antiga ou curte várias fotos em sequência, há grandes chances de que a pessoa esteja interessada em você.
Odonilton, que faz bacharelado interdisciplinar em saúde, prefere os stories para chamar a atenção do futuro contatinho. “Reagir aos stories da pessoa com o emoji de chamas ou de apaixonado ou usar a função de perguntas sempre rende alguma coisa”.

Milena também aposta nas respostas aos stories como uma forma de quebrar o gelo e fazer a conversa fluir sem parecer, necessariamente, uma paquera. ”No Instagram, você tem uma possibilidade maior de uma conversa mais espontânea. Começa falando de músicas, hobbies, comida, de várias coisas… Não fica uma coisa tão na cara”.
Ter um bom diálogo pela rede social é parte fundamental para fazer com que aquele relacionamento virtual passe para a vida real. Rafael espera a conversa tomar forma para convidar a pessoa para sair: “Quando vejo que o diálogo foi correspondido, sei que é o momento certo para sair da zona de conforto e chamar para algo”.
A sunga do constrangimento
Assim como no mundo real, a paquera pelo aplicativo também pode gerar situações constrangedoras. Depois de postar uma foto de sunga, Odonilton recebeu o comentário de um rapaz que dizia estar no banheiro e que “daquele jeito ele não iria aguentar”, o que deixou Odonilton bastante incomodado. “Fui no perfil dele olhar quem era, porque eu não o conhecia, e descobri que, além de tratar os outros com falta de respeito, ele tinha namorado”, conta.
Algumas pessoas também podem mascarar quem realmente são, mostrando só o que querem que os outros vejam, o que nem sempre (ou quase nunca) é compatível com a realidade. Milena conversou com um rapaz durante algum tempo pela plataforma, mas quando se conhecerem pessoalmente, não foi como ela esperava. “Ele era conhecido de uma amiga minha. Comecei a segui-lo e depois ele puxou papo comigo, me chamou para sair. Era uma pessoal totalmente diferente do que tinha me mostrado, nada interessante”.
Milena fez questão de deixar claro que não tinha gostado do encontro, mas o rapaz parece não ter entendido muito bem isso. Até hoje, responde os stories que ela posta, ainda que siga sendo ignorado.
Estratégias para a batalha
Apesar de um desencontro ou outro, boas histórias podem surgir com os contatos no Instagram. Depois de ficar interessada num cara que viu num show, Milena descobriu o nome dele por meio de amigos e começou a segui-lo no aplicativo. “Foi uma das paqueras que mais deram certo. Ficamos três meses juntos”.
A estratégia, no entanto, deu muito certo mesmo para os universitários Luciana Almeida e Rainer Drummond. Os dois se conheceram em 2014, mas a conversa entre eles nunca tinha passado do ‘oi’. Tudo mudou em setembro de 2018, no dia do aniversário de Rainer, quando uma amiga do casal postou uma foto dele com a legenda: “Solteiro, meninas”.
A deixa funcionou. “Como não tenho vergonha na cara, respondi com outra foto dizendo que estava solteira também”, lembra Luciana. Quando soube do interesse dela, Rainer tratou logo de a seguir e mandar uma mensagem. “Ela me respondeu no dia seguinte. Conversamos todos os dias e, após uma semana, tivemos o primeiro encontro”, conta Rainer. Desde então, não desgrudaram mais. “Ainda me surpreende que nunca a tivesse notado e hoje não passo um dia sem notar”.
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