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ABRE ASPAS

Ítalo Almeida: “Ninguém quer envelhecer todo doente"

Neurologista explica como bons hábitos podem tornar a terceira idade uma fonte de alegria

Gilson Jorge

Por Gilson Jorge

09/04/2023 - 0:30 h
Estudo publicado no fim de março pela Universidade da Geórgia aponta que a expectativa de vida para quem nasceu depois de 1940 pode atingir 125 anos
Estudo publicado no fim de março pela Universidade da Geórgia aponta que a expectativa de vida para quem nasceu depois de 1940 pode atingir 125 anos -

A humanidade está alcançando uma vida mais longeva e em todo o mundo há neste momento histórico mais de um milhão de terráqueos acima dos 100 anos de idade. Mas, como diria um astronauta observando a vida do espaço, nós temos um problema. Como fazer com que os anos acrescidos de existência não se transformem em uma experiência de sofrimento com as doenças ligadas à velhice? Nesta entrevista, o neurologista Ítalo Almeida explica como boas noites de sono, alimentos saudáveis, exercício, relações afetivas, atividade intelectual prazerosa e atenção a eventuais primeiros sinais de demência podem tornar a terceira idade uma fonte de alegria. E é bom estar preparado caso seu destino seja viver muito mais. Um estudo publicado no fim de março pela Universidade da Geórgia aponta que a expectativa de vida para quem nasceu depois de 1940 pode atingir 125 anos, a depender de como se vive agora. Até o final do século, pode-se alcançar 140 anos, dizem os pesquisadores.

Um artigo publicado recentemente pela revista científica Nature Human Behaviour traz uma novidade na relação entre insônia e depressão entre adolescentes. Até então, falava-se da insônia como uma decorrência da depressão. O novo estudo aponta na direção oposta, com a insônia sendo causadora de depressão. Como o senhor vê essa relação?

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As duas coisas podem acontecer, mas eu concordo com o artigo. É mais comum isso, alguém que está sem dormir tem uma chance enorme de produzir mal os neurotransmissores e acabar tendo depressão. A depressão também ocorre por déficit de neurotransmissores. Agora, o contrário também existe. Pessoas deprimidas têm uma tendência a ter distúrbios do sono. O principal neurotransmissor relacionado à depressão é a serotonina, é o precursor da melatonina, que é o hormônio do sono. Então, as pessoas que têm depressão, por produzirem pouca serotonina, formam pouca melatonina e acabam tendo distúrbio do sono também. Agora, sem dúvida um dos pilares da medicina do estilo de vida é a qualidade do sono. Alguém que está dormindo mal pode ter qualquer tipo de distúrbio. De depressão a uma série de doenças, como síndrome de burnout e aí vai. O sono é essencial para regenerar nossas células. É no sono que a gente faz uma limpeza, uma espécie de detox celular.

A jornada de sono mínima por faixa etária seria qual?

Na verdade, isso é muito variável. As crianças pequenas precisam dormir muito mais horas. O feto é como se dormisse o tempo todo no útero. Na vida intrauterina eles dormem praticamente 24 horas por dia. Logo depois que nascem, dormem em torno de 20 horas. E quando chega próximo dos quatro anos de idade, basta dormir em torno de 12 a 14 horas e esse sono muitas vezes é de vários turnos. Eles fazem cochilos diurnos e ainda dormem a noite toda. De quatro a cinco anos, basta um sono só, mas de 12 horas de duração. Depois dos 10 anos, a normalidade do sono varia de cinco a 10 horas. Dormidores curtos, cinco, dormidores longos, dez. Mas a média da humanidade é de sete a oito horas de sono. Há pessoas que com cinco horas estão recuperadas. Outras precisam de dez.

Para algumas pessoas, então, um sono de cinco horas resolve...

Resolve, para algumas poucas pessoas, os dormidores curtos, resolve. Mas o ideal é que essas horas de sono não sejam as últimas horas da noite. O indicado é que a pessoa durma às 23h e acorde 4h ou 5h da manhã. O horário do sono também é muito importante para a regeneração celular, produção de neurotransmissores e prevenção a várias doenças. Os hormônios da limpeza celular precisam que a gente durma um pouquinho mais cedo. O pico desses hormônios é 1h da manhã e quem vai dormir meia-noite e tanta ainda está no sono superficial e os hormônios não conseguem fazer o trabalho deles. Não é só o número de horas que é importante, a hora de dormir também, principalmente quando a gente vai envelhecendo. Eu, por exemplo, que já passo dos 60 anos, é importante dormir antes das 22 h, no máximo 23h, porque o sono vai encurtando no envelhecimento, vai ficando menos profundo.

Um outro artigo, da General Psychiatry, aponta uma relação entre relações afetivas saudáveis e a diminuição do risco de várias doenças, como hipertensão, diabetes, problemas cardiovasculares e até osteoporose. Como se explica isso?

Esse é um tema bastante importante. É mais um pilar da medicina do estilo de vida, as relações saudáveis em detrimento das relações tóxicas. As relações tóxicas deixam as pessoas sob um nível de estresse muito alto. E isso acaba aumentando o risco de muitas doenças, não só na área de saúde mental, como até doenças cardíacas e outras enfermidades. Por outro lado, as relações afetivas saudáveis criam um vínculo de segurança, que todo ser humano gosta, e isso aumenta a produção de neurotransmissores positivos e que causam nosso relaxamento, como gaba e oxitocina, que são muito ligados à amorosidade e à segurança que o nosso corpo necessita para poder funcionar bem. Isso é uma coisa hoje muito bem estabelecida, vínculos saudáveis, amigos queridos e um lar tranquilo são fatores de longevidade muito importantes.

Então, o ditado "antes só do que mal acompanhado " está cientificamente aprovado...

Está correto. Quando há uma relação tóxica em que uma pessoa fica constantemente lhe ameaçando ou lhe cobrando alguma coisa o organismo entra em um nível de estresse que a pessoa adoece. O estresse muda a microbiota, e bactérias do intestino passam a produzir substâncias inflamatórias e isso repercute em todo o corpo.

Há esse dado de que, segundo a ONU, o mundo tem mais de um milhão de pessoas com mais de 100 anos de idade. Mais dias de vida, mais exposição a problemas. Do ponto de vista neurológico, o que pode ser feito com quem se aposentou ou perdeu a companhia de toda a vida, o que eventualmente traz uma sensação de vazio?

Tanto a perda do trabalho e a sensação de se tornar inútil quanto a perda de uma companhia são grandes fatores geradores de estresse. Uma coisa curiosa neste ponto da perda da companhia é que as mulheres são mais fortes do que os homens. Em geral, quando o homem morre, a mulher pode viver em torno de uns dez anos. Por outro lado, um homem que perde a companheira depois de um casamento prolongado pode viver de dois a três anos. Nós, homens, somos muito mais dependentes das mulheres do que elas de nós. Em parte, isso se dá por causa dos vínculos que elas têm. Um número maior de vínculos verdadeiros, mais amigas em quem elas podem confiar, que não é só amigo de farra, como a maioria dos homens. Nós, homens, escondemos mais nossos sentimentos para não parecer fraqueza. Elas, não. Choram. Tudo isso parece ser fator de proteção. Em relação à aposentadoria, eu sou contra. Não ao recebimento do benefício, o retorno daquilo que a pessoa contribui a vida toda. Eu sou contra a pessoa parar totalmente de fazer uma atividade que lhe dê sensação de utilidade e socialização. Nós somos seres gregários, não vivemos em isolamento e nos sentindo inúteis. Eu defendo que a pessoa na aposentadoria se dedique a uma atividade prazerosa, diferente do que ela fazia. Quem tem oportunidade de viajar pelo mundo acompanhado quando se aposentar, obviamente, aproveite.

O senhor então considera que na aposentadoria a pessoa deve procurar uma atividade diferente do que ela fazia?

Sim. Ou, se a pessoa gostava muito daquilo que fazia agora num ritmo muito mais leve, mais agradável, sem tanto esforço. Mas uma pessoa que trabalhou em banco e detesta banco tem que procurar outra atividade.

Às vezes, a família de um idoso não consegue perceber os primeiros sinais de demência. No que é preciso ficar atento quando se mora com pessoas mais velhas?

Isso é realmente bastante comum. Eu já tive pacientes com demência que a família só descobriu seu quadro quando ele perdeu parte do patrimônio. Às vezes, acontece mesmo de a família prestar atenção tardiamente. Os sinais que a gente recomenda ficar atento são desorientação espacial, se perder um pouco nos lugares, e um déficit de memória significativo. O déficit de memória deve ser sempre valorizado. Claro que quando a gente envelhece pequenos lapsos de memória acontecem. Mas quando são frequentes demais precisam ser investigados. É aí a gente precisa fazer os exames necessários para chegar ao diagnóstico.

Como é que faz para chegar em um idoso e sugerir a necessidade de realizar exames para detectar demência?

Eu acho que uma maneira de fazer a abordagem é dizer: fulano, hoje há tantos exames de medicina integrativa e preventiva, quando foi a última vez que você fez um exame? Acho que pode ser assim. Ser forçar, sem impor e sem criticar as falhas. Há pessoas que são teimosas e que quando são confrontadas começam a resistir. Ê qualidade de vida. Todo mundo quer envelhecer, mas ninguém quer envelhecer todo doente.

Como estão os progressos científicos para o tratamento do Mal de Alzheimer e da Doença de Parkinson?

Hoje, além das medicações, a gente trabalha em um monte de regulações metabólicas com a adição de muitos antioxidantes, um monte de anti-inflamatórios naturais, como coco, gengibre, cravo. A otimização de determinadas vitaminas que protegem contra a deterioração cerebral, como a B e a B12, que precisam ficar num patamar adequado para que os circuitos cerebrais funcionem bem. Um monte de minerais importantes como o magnésio e o zinco, que ajudam a formar neurotransmissores. A prática de exercícios físicos, que ajudam a estimular os circuitos antioxidantes, um padrão alimentar com menos laticínios e menos leite, menos carne e muito mais folhas e frutas. Não precisa ser vegetariano, mas comer porções menores de carne. Isso tudo funciona nas fases inicial e intermediária do Alzheimer. Em alguns pacientes da fase inicial eu consigo até retirar a medicação. Todos os remédios têm suas limitações e um número razoável de efeitos colaterais. No Parkinson, é mais difícil retirar a medicação.

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