PERFIL
João Fonseca: um empreendedor pioneiro em Guarajuba
Livro conta saga do engenheiro e empreendedor, um dos pioneiros de Guarajuba, que recebeu o selo Bandeira Azul
Por Gilson Jorge
O engenheiro agrônomo sergipano João Fonseca tinha a sua vida assentada, com mulher, quatro filhos, uma fazenda em Jacobina e um ótimo emprego na Suvale (Superintendência do Vale do São Francisco), estatal que deu origem à Codevasf, quando um passeio de automóvel até a Praia do Forte, no fim dos anos 1970, mudou sua vida.
Ao conhecer a vila de Guarajuba, então uma área destinada à pesca e ao plantio de coco, decidiu desfazer-se de sua lucrativa propriedade rural na região do Piemonte da Diamantina para adquirir um terreno naquele pedaço ainda quase intocado de litoral e investir no sonho de ter um espaço permanente de lazer junto ao mar para os seus quatro filhos.
"Na época, havia apenas outras 14 casas em Guarajuba, todas no local que viraria depois o Condomínio Paraíso", lembra o empresário Fábio Araújo, um dos filhos de Fonseca, um dos pioneiros de Guarajuba, que completa 83 anos de idade no próximo mês de junho.
Mais de metade desse tempo de vida está intimamente relacionado ao loteamento que se tornaria o primeiro bairro planejado do Litoral Norte da Bahia e que hoje conta com cerca de quatro mil imóveis, entre casas e apartamentos e é umas das praias mais concorridas do litoral baiano.
A história dessas quatro décadas e meia é contada no livro João Fonseca e Guarajuba, histórias que se misturam, escrito por Fabrício Gomes, sobrinho-neto do empreendedor e também autor de um livro de ficção, convidado pela família a prestar essa homenagem ao patriarca.
Gomes destaca a visão de futuro que Fonseca tinha: "Imaginar que alguém, décadas atrás, idealizaria um shopping à beira da estrada, uma área comercial referência para a região, e que Guarajuba iria crescer tanto, mesmo vendo, à época, apenas fazendas de coco e areia, é algo incrível", diz o escritor, que narra no livro quando o irmão de Fonseca brigou com ele por sua vontade de querer trocar a fazenda produtiva por um monte de areia.
Negócios
Filho de um comerciante da cidade de Laranjeiras, no interior de Sergipe, Fonseca viveu uma tragédia familiar com a morte de seu pai no mesmo ano em que ele nasceu. Depois de mudar para Aracaju com a mãe e os irmãos, numa época em que às mulheres nordestinas não lhes era permitido cuidar dos negócios, João teve na figura do tio Sílvio Teixeira o responsável por cuidar dos negócios da família e transferir mensalmente a quantia financeira necessária para o sustento.
Até que em 1952, com 13 anos, João mudou-se para Salvador para continuar os estudos. Junto com o irmão Paulo, morou em um pensionato, graduou-se na Escola de Agronomia de Cruz das Almas, hoje parte da Universidade Federal do Recôncavo, e iniciou sua bem-sucedida trajetória profissional.
Mas apesar de ter participado de projetos importantes na Suvale e de suas viagens internacionais a trabalho, uma parte importante da sua realização pessoal não está ligada ao campo, mas ao sonho de ver a urbanização de Guarajuba.
"Somos quatro filhos, mas brincamos que Guarajuba é seu quinto filho", declara Fábio, com bom humor, ao explicar a relação do local com seu pai, que manifestou a vontade de produzir uma biografia em 2018, para deixar de legado para os descendentes, ao sentir o avanço do mal de Parkinson em seu corpo.
Hoje, ele fala com muita dificuldade, o que impossibilitou o lançamento do livro. Dos 200 exemplares impressos, 50 foram distribuídos a familiares e amigos. Os outros serão oferecidos gradualmente a pessoas do seu círculo de relacionamentos.
Paraíso
O sucesso da administração do Condomínio Paraíso, por João e por outros condôminos, serviu de exemplo para a primeira etapa do Loteamento Canto do Mar, que apesar de mais antigo não tinha uma administração tão organizada, e de espelho para os empreendimentos que surgiriam depois.
Fonseca também ajudou na melhoria da infraestrutura do distrito de Monte Gordo, no outro lado da rodovia, onde mora a maioria dos trabalhadores dos condomínios de Guarajuba e onde os moradores e veranistas desse pedaço de litoral fazem as compras.
Também ajudou a organizar alguns livros de ouro nos anos 1980, para que moradores contribuíssem com barraqueiros de Guarajuba que naquela época tinham dificuldades para compra de bebidas que nos finais de semana seriam vendidas a moradores e visitantes, evitando o desabastecimento.
Fonseca também ajudou na Criação da Ascon (Associação de moradores e condomínios de Guarajuba) na década de 1980, colaborando para o crescimento planejado da região, o que resultou em 2019 na conquista do selo Bandeira Azul, criado em 1980 na França pela Foundation for Environmental Education (FEE), ONG que certifica praias e serviços turísticos em todo o mundo que cumprem com 34 requisitos de boas práticas ambientais.
Guarajuba, que serve como segunda residência de algumas famílias soteropolitanas de classe média alta, viu o número de moradores fixos crescer durante a pandemia e com a adoção do home-office. "Estimamos que cerca de 30% dos imóveis sejam de moradores ", avalia Fábio.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Cidadão Repórter
Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro
Siga nossas redes