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Klhordas comemoram 19 anos com baba de saia no Santo Antônio

Nome do bloco remete aos tempos de juventude carnavalesca dos integrantes

Por Gilson Jorge

06/02/2023 - 10:00 h
Após a partida, um minitrio desfila por três horas no bairro com o time
Após a partida, um minitrio desfila por três horas no bairro com o time -

Aos 12 anos e com 1,80m de altura, Arthur Cosendey pratica basquete como esporte preferencial, mas sempre pega um baba ao lado do pai, o administrador de empresas Tadeu Cosendey. Na noite da última segunda-feira, ambos foram avaliar o novo piso do local onde vão jogar bola no próximo dia 12, no Santo Antônio Além do Carmo, no trecho da Cruz do Pascoal.

Com a reforma que foi feita no bairro durante o período da pandemia, surgiu um calçadão elevado e um meio-fio bem em frente ao Bar do Lula, onde há 19 anos acontece o Baba de Saia, no domingo que antecede ao Carnaval.

Nesse dia, a partir das 9h, um grupo de amigos nascidos e criados nessa parte do Centro Antigo une duas práticas soteropolitanas, jogar futebol entre o asfalto e os automóveis, e homens vestindo roupas femininas durante o período de folia momesca. Assim surgiu a jovem tradição santo-antoniense do bloco em que um homem se veste de mulher para jogar uma pelada.

O nome do bloco, Os Klhordas, remete aos tempos de juventude carnavalesca dos integrantes, em que terminado o Baba os jogadores abriam outro tipo de placar: o campeão era quem beijasse mais bocas no circuito carnavalesco. E aí, na hora de explicar a origem do klhordas surge um coro de "ahhhhh" entre os jogadores.

"Naquele tempo, machismo não era como é hoje. Você sabia que a mulher estava a fim no olhar", declara o comerciário Ednaldo Silva Morais, 44 anos.

Todo beijo era contabilizado, desde que houvesse a validação do testemunho ocular dos amigos, uma espécie de árbitro de vídeo no circuito.

Nos primeiros anos, os adereços para o baba eram improvisados com peças dos armários das mães, irmãs e namoradas. Depois de um tempo, chegou-se à decisão de adotar uniformes temáticos a cada ano.

Escolhido o modelo, compra-se o tecido em quantidade adequada e o material é entregue a Dona Helena, costureira do bairro, que entrega o pedido em até cinco dias. O valor do pano e da mão de obra é rateado entre os integrantes do bloco.

Assim, Os Klhordas já exibiram os seus dotes futebolísticos sobre os paralelepípedos do Santo Antônio Além do Carmo vestindo fantasias individuais, como a de Carmem Miranda, ou uniformes de cheerleaders, as líderes de torcida muito comuns nos Estados Unidos. Nesse ano, 2017, as cores do uniforme foram verde e branco, em homenagem à Chapecoense, time catarinense que protagonizou em novembro de 2016 um desastre aéreo na Colômbia, que deixou 71 mortos.

Tempos depois, uma notícia envolvendo um ex-jogador de futebol trouxe o luto para bem mais perto. Sivaldo Cosendey, atleta do Vitória entre 1978 e 80 e morador do Santo Antônio, morreu de infarto em 18 de dezembro de 2018, um dia depois de completar 68 anos. Ele passou mal depois de jogar futebol com amigos na Ribeira.

Fantasias

Sivaldo foi uma figura importante no baba de saia. Além de ser o árbitro, devidamente travestido, era o pai dos gêmeos Tadeu e Daniel, integrantes do grupo e que se tornaram torcedores rubro-negros graças à influência paterna.

Ainda que Daniel tenha virado a casaca em 1994, depois da final do campeonato baiano em que o tricolor Raudinei fez um gol nos acréscimos, empatou o jogo e deu o título ao Bahia.

Na emoção da conquista, quando os gêmeos ainda tinham 13 anos, Daniel foi convencido a mudar de time por Lula, o dono do bar cuja parede recebe as boladas no baba de saia.

Incluir a fantasia no futebol parecia inevitável no bairro com jeitinho de cidade do interior e que tem uma tradição carnavalesca que remete aos anos 50, quando surgiu o bloco Os Fantasmas, que só aceitava homens e foi o embrião de dois blocos famosos que tardaram a aceitar mulheres em suas fileiras, Os Corujas, que tinham sua sede no vizinho Barbalho, e Os Internacionais, que se instalaram na Mouraria.

Depois que o Santo Antônio virou atração para moradores de outros bairros, com seus bares e restaurantes da moda, outros blocos saíram pelas suas ruas estreitas. Juntamente com o Que Beleza, composto por foliões da Igreja do Boqueirão, há os modernos De hoje a Oito e o Baile do Urso da Meia Noite, criado pelo falecido artista Flávio Oliveira, vítima da Covid-19 no verão de 2021, quando não houve Carnaval e a Rua Direita do Santo Antônio ainda estava esburacada pelas obras que ajudariam a transformar o perfil do bairro.

A obra terminou, os bares estão cheios de gente durante o verão, mas para os amigos do Os KCalhordas, a celebração é à moda antiga, ainda que com mudanças. Os fundadores do baba de saia já estão quase todos acima dos 40 anos, com lesões no corpo, e jogar futebol é uma tarefa que eles delegam ao máximo para os mais jovens.

Cabaré

O tema deste ano vai ser Cabaré e todo mundo vai se fantasiar. Mas, para uma parte do grupo, a maior diversão, atualmente, é sentar em uma cadeira com um cooler ao lado e tomar cerveja, enquanto saboreia um prato de peixe, feito na casa de Osmar Castelo Branco. O bloco é aberto e qualquer um pode jogar desde que esteja vestindo roupas femininas.

A cerveja em lata para quem não é do grupo sai por R$ 4. Depois do baba, um mini-trio desfila por três horas no bairro. Como parte das obrigações, cada integrante do bloco leva dois quilos de alimentos não-perecíveis que são doados a uma instituição de caridade. "Normalmente, em outros lugares, o Baba de saias acontece na Semana Santa. Aqui, a gente faz antes do Carnaval e na Semana Santa faz o Baba do Vinho", explica Tadeu.

Em meio a um fluxo regular de turistas e sob o olhar do filho, Tadeu Cosendey vistoria a área com suas novas dimensões, reduzidas, e sugere a localização ideal para os gols. Mas em meio à organização do primeiro baba de saias pós-pandemia, o reencontro da turma é também tempo de atualizações, especialmente para quem não mora mais no bairro.

"Eu moro na Barra, mas é só pra dormir. Minha vida é aqui", afirmou Osmar, o "Mamá", 51 anos, enquanto os amigos comentavam as notícias de falecimento de pessoas conhecidas se tornam mais constantes a essa altura do campeonato. Mas, enquanto houver vida o Baba de saias está garantido.

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