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29/09/2024 às 1:00 - há XX semanas | Autor: Celso Cunha Neto, arquiteto e artista visual

MUITO

Leonel Brayner: Conteúdo x Essência

Confira a coluna Olhares

Obra Atlântico de Leonel Brayner, artista plástico
Obra Atlântico de Leonel Brayner, artista plástico -

“Não nos enganemos com as superfícies; na profundidade, tudo se torna lei” (Rainer Maria Rilke).

Leonel Brayner é um artista de temperamento afável e atencioso. Ele é reservado e discreto. Em decorrência, com pouca visibilidade na mídia, porém extremamente sociável e elegante. Artista respeitado aqui na Bahia e, principalmente, nas galerias de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná.

Esse seu estilo calmo e avesso a polêmicas encerra um artista maduro com pleno domínio da técnica que elegeu. Sua fala mansa e amorosa transmite seriedade e uma segurança típica dos verdadeiros artistas. Sua relação de respeito e consciência com o fazer e ser artista plástico é comovente e contagiante, beira a uma relação espiritual, mística.

Sua obra, embora plena de significados, numa primeira abordagem é bela e atrai pela sua plástica, seu cromatismo e luzes que passeiam pela dramaticidade dos fortes contrastes tonais e de luminosidade; pelos climas suaves de cores pálidas e luzes filtradas, sempre com composições rigorosas em que o espaço é tratado com respeito e domínio absoluto, resultando em composições de pura poesia, belos exercícios quase musicais.

Entretanto, sua pintura conserva características marcantes do Realismo Mágico, como herança da sua importante participação no influente grupo artístico de Curitiba, Grupo Independente de Artistas da Geração 70.

Esse grupo teve seu correspondente na época, em Salvador, em um talentoso e seleto grupo da EBA/Ufba, trazido pelo também curitibano, meu saudoso amigo e professor Ivo Vellame, ex-diretor da EBA da Ufba, com a denominação: Artistas da Geração 70 em Salvador, grupo que hoje conserva muitos componentes ainda em plena atividade.

Leonel Brayner, por motivos familiares, aliados a um clima de efervescência artística em Salvador nesse período, transferiu-se para a capital baiana na década de 70 onde logo se integrou aos artistas locais. Embora nascido na capital do estado de Alagoas, Maceió, cresceu no estado do Rio de Janeiro.

Infância –

Seu interesse pela pintura tem origem na infância, influenciado por sua avó materna, Gilberta Brayner, e pelo tio Hélio Brayner, que eram artistas amadores. Teve sua técnica aprimorada na Itália, em período que a família lá viveu.

Seu grande amigo Inos Corradin, artista nascido na Itália, com atelier em Jundiaí (SP), foi seu orientador que o apresentou ao mercado da arte no eixo Rio-São Paulo.

Leonel mudou-se para Curitiba nos anos 70, onde definitivamente iniciou-se na pintura a óleo, no estilo figurativo, que se mantém fiel até hoje. Nessa ocasião, conheceu o marchand de tableaux Benjamim Steiner, que o promoveu e lançou no circuito de galerias e museus, tendo participado assim de inúmeras exposições no Rio de janeiro e São Paulo.

Nesse período em que morou em Curitiba, nos anos 70, logo se integrou ao grupo de jovens artistas paranaenses, entre eles Bia Wouk, Carlos Zimmermman e Rones Drumke, Isabel Backer e Rones Emanhotto, tendo participação atuante dos movimentos de artes plásticas da cidade. Entre as suas atividades artísticas dessa época, destaca-se uma exposição individual no Centro Cultural Brasil-Estados Unidos.

Pintura metafórica –

Entendo Leonel Brayner não com um pintor realista ou hiper-realista, como muitos rapidamente o classificam e definem, embora seja um virtuose da técnica da pintura a óleo, tendo dedicado mais de 60 anos dos seus 80 de vida ao exercício e pesquisa da técnica.

Ele se vale dessa expertise para realizar uma pintura metafórica, em que as frutas, objetos e paisagens recorrentes que definem parcialmente seu estilo, não são o tema, o objeto da pintura, mas sim o meio, com soluções desconcertantes, surpreendentes pelo inusitado, pelo domínio técnico ou quiçá pelo bom humor.

A cada nova abordagem, embora utilizando os mesmos elementos compositivos, será sempre uma nova e mais elaborada pintura. Leonel, embora pratique uma pintura figurativa – acadêmica, diriam alguns – desde seus tempos de Curitiba, prima pela desmitificação desse imaginário subjacente da média da sociedade.

Primeiro, por eleger objetos simplórios e rotineiros do nosso cotidiano e alçá-los ao proscênio do elitizado teatro das artes plásticas. Depois, ao atribuir-lhes (os elementos da composição plástica) importantes papéis, onde o protagonista muitas vezes se confunde com outros personagens do texto ou da figuração.

A busca metódica, tranquila e estoica é qualidade da pintura. A análise, a crítica, a aprovação é papel, é função do fruidor, do apreciador final, seja ele o colecionador, a galeria ou o observador.

A aparente mimeses da pintura de Leonel Brayner pretende desafiar a si mesma, ou seria apenas uma imitação de uma imitação, como parecia sugerir Platão? A dialética entre forma e conteúdo torna-se visível na arte de Leonel, que ao “caminhar entre ideias” revela uma subjacência de similitude, onde uma é causa e resultado de outra.

Conteúdo –

Na pintura de Leonel percebe-se que o conteúdo, embora paradoxal, é essencial; e a forma, acessória. Atualmente, o mundo das artes não está muito atento, porém, à importância; o valor de uma obra de arte é fundamentalmente seu conteúdo.

É essa a característica que muitos críticos e amantes das artes identificam facilmente e classificam como arte metafísica nas pinturas de Leonel Brayner. Concebendo-se a metafísica enquanto parcela da filosofia, na medida que se esforça para compreender assuntos que estão além de nossa vã compreensão.

Pergunto: será que Leonel Brayner, depois de mais de 60 anos de exaustivos exercícios práticos, conhecendo e dissecando todos os objetos de composição plástica, quer sejam frutas, ovos, objetos do seu seleto acervo compositivo, ainda não tenha decifrado seus próprios enigmas ou proposições metafísicas, continuando intencionalmente nos mantendo a uma distância segura da compreensão de suas obras?

Certamente, Leonel Brayner, faz tempo, muito tempo, já solucionou esse seu gigante e complexo puzzle e com seu sofisticado fair-play diverte-se nos convidando gentilmente a uma jornada lúdica pelo seu universo onírico fantasiado de objetos do nosso cotidiano, atribuindo-lhes sua dignidade e elevados à condição de estrelas do seu show.

Penso que Leonel criou seu código e, pressuponho, suas normas de interpretação. Suas pinturas, suave e jocosamente, nos observam a questionar: Você não sente um desconforto ao observar essa manga? Apesar de tão realista, percebes que tem um quê de artificial?

Ela comporta-se estranhamente na composição? Será um acaso ou foi uma decisão intencional de brincar com sua percepção, estrutura, crenças, princípios, formação e valores? Como o problema encerra em si os elementos da sua solução, cabe-nos observar sem açodamento e com acurada atenção.

Assim, certamente ficaremos felizes com as respostas que encontraremos e, consequentemente, Leonel Brayner cumprirá sua função artística e cultural, compartilhando sua visão particular da realidade, seu espírito com outro ser humano.

Um raro exemplo de dedicação e respeito pelo fenômeno socioexistencial, que estudiosos de todo mundo se dedicam há centenas de anos a tentar entender e explicar com clareza que chamamos arte.

Como perceberam, não abordei parcela importante da produção de Leonel Brayner. As excepcionais paisagens, que resumirei em uma pequena frase por absoluta limitação de texto: Elas são pura poesia pictórica. Oportunamente, faremos uma resenha complementar.

Atualmente, além de atender algumas encomendas, Leonel dedica-se à produção de obras para sua próxima exposição no Rio de Janeiro.

*O conteúdo assinado e publicado na coluna Olhares não expressa, necessariamente, a opinião de A TARDE

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