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Luiz Caldas celebra 40 anos da axé music com show no MAM

Luiz, que compunha desde os 12 anos de idade em Feira de Santana, sua cidade natal, veio para Salvador adolescente

Por Gilson Jorge

12/01/2025 - 4:00 h
Luiz Caldas
Luiz Caldas -

Atualmente, de segunda a sexta a partir das 17h05, quem estiver sintonizado nas emissoras da Rede Globo de Televisão assiste a reprise de Tieta, uma das novelas de maior sucesso da TV brasileira, reproduzindo o universo do livro Tieta do Agreste, de Jorge Amado. Nas vinhetas do intervalo, pode-se ouvir um eletrizante arranjo de teclados indiscutivelmente ligado à cultura do Carnaval baiano.

O tema de abertura da novela, exibida pela primeira vez em 1989, no auge da axé music, foi gravado por Luiz Caldas, o grande fenômeno musical da época no país, que dois anos antes estampou a capa da revista Veja ilustrando o sucesso da música produzida na Bahia. Sua força midiática era tamanha que a Globo o convidou para gravar o tema da novela que havia sido composto pelo poderoso José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, em parceria com Paulo de Sousa.

"É uma canção maravilhosa e por estar ligada a uma novela da Rede Globo, baseada em um livro de Jorge Amado, tem uma penetração mundial gigantesca. Ela foi para 60 países. Eu a gravei em alguns idiomas", conta Luiz Caldas.

O cantor e compositor, que nos últimos anos lança em média um álbum por mês no seu website, declara gostar de toda a sua obra, mas destaca a importância de três canções em sua carreira, nesses 40 anos de axé music. Além da própria Tieta, o músico aponta a inevitável Fricote e Haja Amor.

"Eu destacaria Fricote, por ter sido a canção número um desse movimento, que é tão importante para a música mundial e a música brasileira, principalmente, que é o axé music, e que foi desencadeado por essa canção, minha e de Paulinho de Camafeu", afirma Luiz. O compositor considera Fricote uma obra singular em termos técnicos. "A parte instrumental marcou muito. Marcou um novo modo de se compor e de se gravar discos”.

E o outro marco em sua carreira é Haja Amor, que Luiz considera um hino do Carnaval da Bahia, semelhante a Chame Gente, de Armandinho Macedo e Moraes Moreira, e We are Carnaval, de Durval Lelys e Nizan Guanaes.

Mas quando se pensa em álbuns completos, não se pode saltar o impacto do seu primeiro trabalho, Magia. Luiz considera que esse é um disco importantíssimo para a música brasileira, principalmente para a música da Bahia. "Ele vira uma chave no Carnaval, ali em 1985. Até aquele momento a gente vinha curtindo mais o frevo e o galope, esse disco vem recheado de possibilidades e se torna o marco zero desse movimento que veio a ser chamado de axé", explica o compositor.

A história do disco é complexa. Luiz, que compunha desde os 12 anos de idade em Feira de Santana, sua cidade natal, veio para Salvador adolescente e um dia recebeu o convite para tocar no Trio Tapajós.

Para se manter, conseguiu trabalho para si e para a banda Acordes Verdes, que ele havia montado, como músicos fixos do estúdio WR. Eles gravavam jingles e álbuns de outros artistas. No tempo livre, a banda aproveitava os equipamentos ligados e gravava o material composto por Luiz, uma produção de estilos diversos.

"É um disco de música baiana, mas com uma sonoridade e uma linguagem que podem chegar a qualquer parte do planeta, como chegou. E abriu um novo modo de dançar, um novo modo de compor. Em 1978 eu comecei a compor canções nesse estilo, para que as pessoas pudessem dançar, mais do que pular. Eu acredito que a magia do axé está aí", afirma o músico.

Luiz, que completa 62 anos no próximo domingo, era apenas um garoto de 22 quando apareceu no Fantástico, o principal programa da TV brasileira aos domingos, surpreendendo o país com Fricote, uma música extremamente dançante feita em parceria com Paulinho de Camafeu, mas que rendeu acusações de racismo, por causa de versos como "Nega do cabelo duro que não gosta de pentear".

Alheio à discussão, o público de outros estados tentava imitar a coreografia baiana que implicava a inclinação do corpo para a frente e as mãos para baixo, com os dedos indicadores em riste, balançando de lado a lado. Uma movimentação ensinada no videoclipe pelo jovem baiano, de cabelos longos, um exuberante brinco na orelha direita, torso desnudo e os pés descalços.

Com os seus dedos apontados para baixo, Luiz Caldas indicava não apenas os passos de dança, mas o caminho do sucesso nacional para um pequeno exército de músicos talentosos atuantes no Carnaval baiano que conquistariam o Brasil inteiro. Músicas feitas para animar multidões em solo baiano durante poucos dias de fevereiro invadiram as rádios e TVs do país. Gerônimo, Banda Mel, Banda Reflexu’s, entre outros, viraram atrações constantes dos programas de auditório.

Em 1987, pela primeira vez uma mulher do universo da axé music despontava no cenário nacional. Com apenas 19 anos, Sarajane colocou o Brasil inteiro para fazer a dança da galinha no Cassino do Chacrinha, ao som de A Roda. Quem não cantou "vamos abrir a roda, enlarguecer, tá ficando apertadinha, por favor", no final da década de 1980, viveu errado. Sarajane, que além de cantar é uma das autoras da música, em parceria com Alfredo Moura e Robson de Jesus, foi descoberta por Chacrinha durante uma apresentação do Velho Guerreiro em Nazaré, no Recôncavo, e a convidou para ir ao Cassino, conforme relato de ambos durante um dos programas.

Ao longo dos anos seguintes, o samba-reggae de Neguinho do Samba levou o Olodum a gravar com Michael Jackson e Paul Simon, Carlinhos Brown se tornou uma estrela internacional com grande sucesso na Espanha, Chiclete com Banana e Asa de Águia se tornaram presenças obrigatórias em eventos corporativos em São Paulo, Daniela Mercury, Ivete Sangalo e Claudia Leitte reinaram, em diferentes momentos, como divas nacionais do Carnaval baiano.

Mas como músicos de estilos tão diferentes foram catalogados com um único rótulo, o de axé music? Sob certos aspectos, pode-se notar até uma dissonância musical e uma briga por espaço entre os blocos afros e os cantores de trio, por exemplo, como retrata elegantemente a canção Eu sou negão, de Gerônimo. Aliás, o músico, que lançou o clássico É d'Oxum, em 1985, mesmo ano de Fricote, pode ser considerado axé music?

Caiu no gosto

Pesquisador de música baiana e autor do site www.oganpazan.com.br, especializado em música, o licenciado em filosofia e professor Danilo Cruz discorda da nomenclatura, que surgiu como uma brincadeira depreciativa feita pelo jornalista Hagamenon Brito e acabou caindo no gosto de músicos, produtores e da mídia.

"Eu não considero a axé music um gênero musical, é uma construção da indústria cultural", afirma Danilo, que vê como fundamento da axé music um processo de gravação e distribuição a partir da estrutura do Carnaval. "Dentro disso, tem todo o aspecto racial. É uma indústria segregacionista", declara.

Quanto à musicalidade de Luiz Caldas e a explosão de artistas em Salvador há 40 anos, Danilo define como uma microrrevolução. "A Bahia vivia ali no final dos anos 1970 e começo dos anos 1980 uma efervescência muito grande musicalmente, com artistas experimentando novos caminhos", aponta o pesquisador, que cita Lazzo e a banda Estúdio 5, uma fonte onde Carlinhos Brown foi beber no começo dos anos 1980, produzindo uma música entre o reggae e uma pegada pop rock.

Sobre Luiz, Danilo ressalta que antes do lançamento de Magia foi gravado o compacto Luiz Caldas e Acordes Verdes, banda que tinha entre seus integrantes Tony Mola e Carlinhos Brown. "Além do próprio Luiz, com toda a sua qualidade de showman, de cantor e compositor. Luiz Caldas foi o primeiro acerto comercial de uma geração que estava buscando caminhos na música", pontua o pesquisador.

Danilo acentua que além do frevo e do galope, já presentes na música carnavalesca, Luiz Caldas acrescentou ao seu trabalho elementos do merengue e de uma música mais percussiva. " Magia é o primeiro sucesso comercial da música feita na Bahia que eu não boto na conta do axé, boto na conta de termos uma geração que PQP", reafirma o pesquisador, lembrando que no meio da década de 1980 o Ilê Aiyê tinha gravado o disco Canto Negro, Gerônimo já era uma potência e Carlinhos Brown é, em suas palavras, alguém que ainda precisa ser estudado. "Do começo dos anos 1980 até a criação da Timbalada, ele é um cara que vai percorrer absolutamente todos os caminhos da música feita em Salvador", avalia Danilo.

Titular da Escola de Música da Ufba, compositor premiado pela Academia Brasileira de Música, membro da Academia de Letras da Bahia e dono de um perfil no Instagram com 161 mil seguidores, onde explica pormenores de composições diversas, Paulo Costa Lima concorda que não há um estilo musical que se possa chamar de axé music, mas considera o termo adequado como referência à coletividade dos músicos do Carnaval baiano daquele período.

"Uma coisa não precisa ser gênero para ser um movimento. E movimento é aquilo que ocupa a imaginação das pessoas e, portanto, é indexado no mesmo lugar cognitivo, embora musicalmente não tenha os mesmos traços", afirma o professor.

Paulo recorre ao ensaísta e professor mineiro Silviano Santiago para descrever a Bahia como um entre-lugar, que tem aportes civilizatórios de várias partes do mundo. "Como exigir desse entre-lugar que tenha coerência de gêneros?", brinca o professor da Ufba, que é partidário da destruição das noções de pureza.

Coisas várias e misturadas

Sobre a noção de gêneros musicais, o compositor considera que essa é uma separação forânea. "As coisas daqui são várias e misturadas. E não é bem a salada, a filosofia da salada. É a filosofia de que organicamente nasce uma coisa de dois ou três mundos distintos", considera o professor, que entende a unidade da axé music como unidade de movimento, embora ressalte que não havia na coletividade um manifesto. Esse movimento da axé music, na visão do professor, tem duas grandes raízes, os trios elétricos e os blocos-afro.

Autor da dissertação de mestrado A Trajetória de vida de Luiz Caldas, o jornalista César Rasec conhece como poucos a história do homem que abriu os caminhos da chamada axé music, uma história que começou por acaso. "Luiz Caldas, adolescente, tocava em bailes no interior. Ele foi visto por Orlando Tapajós, que o convidou para vir a Salvador para tocar em seu trio elétrico. Nos bailes, ele tocava de tudo, de samba a heavy metal. E essa gama de estilos ficou impregnada no trabalho dele", afirma Rasec.

No próximo domingo, Luiz Caldas celebra o seu aniversário tocando o repertório do disco Magia, em show no Museu de Arte Moderna da Bahia, no Solar do Unhão. Preços R$200 (inteira) e R$ 100 (primeiro lote de meia). Ingressos no site www.bilheteriadigital.com.br

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