MUITO
Mangalô três vezes
Por Carla Bittencourt

Quantos de nós já não ouvimos nossas sábias mães dizendo assim "pé de pato, mangalô três vezes" quando queriam isolar corpo e pensamento? Pois nessa mágica mora um detalhe que quase esconde outra mágica, de comer. E não é o pato, não, viu? É o mangalô.
Quem circula pelas feiras da cidade deve ter notado como as bancas estão cheias de saquinhos de um grão fresco e meio achatado. Que não é andu, freguês. Nem feijão- de-corda, freguesa. Parece até, porque são todos da mesma família de leguminosas. Mas o mangalô tem identidade própria.
É uma planta alimentícia não convencional (Punc), explica Neide Rigo, do blog Come-se. Desse "punc da periferia", como gosta de chamar, Neide tem memória afetiva. Era a trepadeira que sua mãe cultivava no quintal, em São Paulo, as flores e os feijões sempre se enroscando nas cercas vizinhas: "É uma excelente cultura para plantio doméstico, se adapta bem e dela se aproveita a raiz, as folhas, a vagem, os grãos, tudo".
Comercialmente falando, a conversa é outra. Vai ver por isso é tão fácil achar cozinheiro que diga que achar mangalô é difícil. Eis uma meia-verdade: tem época do ano em que ele anda sumido. Mas também tem época em que o legume vira vedete de feira. Para nossa sorte, o comecinho de setembro ainda é esse tempo.
Truques
Antes do entusiasmo, porém, é importante saber que mangalô pode acidificar o sangue, observa Ana Maria Brasileiro, do restaurante A Saúde na Panela. Ana diz que é possível neutralizar esse efeito tirando uma por uma todas as cascas, do mesmo jeito que se faz com o grão-de-bico. Como esse procedimento não é prático, ela prefere não incluir mangalô no cardápio.
Ainda assim, defende que é sempre uma melhor opção consumir feijão verde ou brotado do que seco. "O feijão seco fermenta dentro da gente, por isso os naturopatas recomendam o verde".
No Viva o Grão, Vera Lúcia Martins conhece outros segredos para fazer um mangalô saudável. O primeiro deles, ela ensina, é lavar bastante os grãos e, em seguida, escaldá-los por cinco minutos. Remover a espuma que resulta dessa técnica garante a eliminação de certas impurezas.
Folha de louro bem refogada assegura sabor, perfume e também o efeito de neutralizar o preparo. O mesmo efeito, aliás, que tem a alga marinha hijiki (usada na sopa missoshiro). Vera concorda que tirar as cascas de cada grão é o ideal, mas fazendo com esses segredos, tem-se quase todo o caminho andado. O resto é comer.
Receita (por Vera Lúcia Martins, do restaurante Viva o Grão)
Ingredientes
Sal marinho a gosto (jamais use refinado), 1 tomate picado, 1 ramo de coentro picado, 1 cebola roxa picada, 2 colheres (sopa) de cebolinha picada, 1 colher (sopa) de alga hijiki (que deve ser hidratada antes do uso), 1 raminho de hortelã graúdo picado, 2 colheres (sopa) de pasta de alho, 2 folhas de louro e 1 colher (sopa) de urucum, para dar cor ao seu mangalô.
Modo de fazer
Lave o feijão e escalde em água quente
Depois de removida a espuma, deixe escorrer
Refogue cebola e alho com azeite e coloque o feijão
Acrescente água, urucum e deixe o fogo baixo
Quando já estiver cozido, acrescente o cheiro verde
Finalize o prato com um fio de azeite de oliva e voilà!
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes