LIVRO DE ARTE
Manhã Ortiz lança a coletânea de cartuns Trago verdades
Obras têm desenhos recheados de humor político sobre questões ligadas ao universo feminino
Por Gilson Jorge
Depois que se mudou para São Paulo, na década passada, a artista baiana Manhã Ortiz, com uma considerável experiência em teatro, começou a publicar cartuns em sua conta no Instagram. Os desenhos ganharam engajamento e logo surgiu o convite para publicação em periódicos. Revista TPM, Folha de São Paulo, Mina Bem Esfar e, agora, na Piauí.
No embalo da nova profissão, a baiana lançou recentemente o livro Trago Verdades, uma coletânea de desenhos recheados de humor político sobre questões ligadas ao universo feminino. Um trabalho que também ilustra campanhas em prol dos direitos humanos, especialmente das mulheres.
"Os meus cartuns são utilizados em diversos fins quando se trata de feminismo, mulheres em relacionamentos e maternidade. Meu trabalho já foi exposto inclusive através de parcerias internacionais", conta Manhã, que enxergou nos cartuns um canal para explicar as situações que as mulheres vivem, seguindo a linha do "quer que eu desenhe?", que por sinal é o nome de uma oficina ministrada por ela.
"Quer que eu desenhe? no sentido de explicar as contradições que as mulheres vivem, das regras machistas que fazem a gente acreditar que tem que ser diferente do que é", declara a artista.
Manhã se refere ao roteiro, escrito por homens, de que a mulher precisa casar, ter filhos e satisfazer o marido. "A gente acaba não fazendo contato com quem realmente a gente é, o que a gente realmente deseja e bancar isso", afirma Manhã, ponderando que a mulher está permeada pelos desejos que o patriarcado cria para ela.
O livro faz um apanhado dos seus cinco anos de produção publicada, além de 20 desenhos inéditos. Manhã prepara um lançamento presencial em Salvador, ainda sem data, além de outro em São Paulo, onde ela morou por dez anos. "O Sesc me convidou para lançar o livro lá, no início do próximo ano".
Publicação independente, Trago verdades sai através da empresa que a baiana montou em parceria com Frederico Amazonas, chamada Muda Edições e Studio, voltada para livros de arte e projetos culturais. A edição, com capa dura, custa R$ 199. "É um livro de arte, com acabamento mais caro", explica Manhã. O livro pode ser adquirido pelo site mudastudioeditora.com, em que há nele um cupom chamado Greg 03 que oferece 3% de desconto.
Crianças
O talento de Manhã despertou muito cedo. Aos 7 anos, ela ingressou no grupo de teatro Fantasia, dirigido por Hilda Figueiredo, que tinha em suas fileiras crianças chamadas de Maria Marighella, atual presidente da Funarte, e Vladimir Brichta, o Coronel Egídio do remake de Renascer. "Era um grupo de crianças fazendo espetáculos para crianças, mas que era profissional. A gente se apresentava e recebia por isso", lembra a artista.
Depois, Manhã apareceu em campanhas publicitárias e, na adolescência, voltou a fazer teatro, com Maria Eugênia Millet. "A gente ensaiava no mesmo espaço do Bando de Teatro Olodum", conta a artista. Nessa época, ela encenou O Que você acha disso tudo? e O Rei do trono de barro, e se apresentou na Alemanha em um projeto teatral guiado pelo Goethe Institut.
Manhã também integrou o elenco original da montagem que a Companhia Baiana de Patifaria fez do texto de Capitães da Areia, livro de Jorge Amado, em um projeto que contou ainda com os atores Fabrício Boliveira e Luiz Pepeu, com direção de Fernanda Paquelet e Lelo Filho. Além de contracenar com Harildo Déda em A Mulher sem pecado, texto de Nelson Rodrigues, com direção de Ewald Hackler, tendo trabalhado com teatro em Salvador até 2013.
Manhã, que sempre escreveu para teatro e desenha desde cedo, também deu aulas de aspectos visuais da cena no Bacharelado Interdisciplinar de Artes e na Escola de Teatro da Ufba. Em 2014, Manhã se mudou para o Sudeste, morando primeiro no Rio de Janeiro e depois em São Paulo. A viagem para a Cidade Maravilhosa aconteceu quando ela ficou entre as finalistas para o musical que Ernesto Piccolo estava montando sobre a vida de Beth Carvalho, chamado Andanças. A vaga não veio, mas ela seguiu trabalhando como atriz e programadora cultural de casas como o Sesc e o Itaú Cultural.
Amigo de Manhã de longas datas, o músico Julio Caldas leu os originais do livro de Manhã. "Eu já acompanhava os cartuns e tinha a maior expectativa sobre o livro. É uma espécie de poesia audiovisual, que traz situações que parecem engraçadas, mas são superrealistas", afirma Julio, ressaltando que o trabalho de Manhã aborda pautas sérias, de uma maneira que soa como brincadeira.
Julio descreve Manhã como uma "super multiartista", enumerando suas habilidades como atriz, cantora, cartunista, escritora e produtora. "É uma mulher muito inteligente, , uma figura de quem sou muito fã", afirma Julio, que conhece a cartunista há mais de 20 anos.
A artista baiana recebeu elogios também do escritor e humorista Gregório Duvivier, que declarou. "Manhã traz verdades inconvenientes. Ou melhor, que seriam inconvenientes se não fossem tão engraçadas. Nesse livro você encontrará todo o amargor da existência encapsulado em pílulas doces e fáceis de tomar. Afinal, aí reside a função final do humor, lubrificar o supositório da desgraça", afirma Gregório.
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