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Marcio Pimenta refaz rota da expedição de Charles Darwin na Patagônia

A expedição vai seguir os passos de Darwin na Terra do Fogo e Patagônia

Por Gilson Jorge

27/02/2023 - 7:00 h
Fotógrafo baiano fará primeira missão como National Geographic Explorer
Fotógrafo baiano fará primeira missão como National Geographic Explorer -

Nesta segunda-feira, dia 27, um Jeep Renegade vai sair de Porto Alegre para uma viagem de 15 mil quilômetros até a Patagônia, na Argentina. Ao volante, estará o fotógrafo baiano Márcio Pimenta, que mora na capital do Rio Grande do Sul há quatro anos, desde que se casou.

Pimenta está ansioso e exultante. Vai refazer a rota da expedição do naturalista britânico Charles Darwin, efetuada entre 1831 e 1836, e fundamental para a Teoria da Evolução, obra científica que balançou a Europa em um momento em que o continente oscilava entre a adesão ao criacionismo e os avanços científicos.

Mas para Pimenta não há o que se discutir. A viagem à Argentina é um marco evolutivo na carreira desse ex-acadêmico que deixou o doutorado em economia no Chile para se dedicar à fotografia e que, desde setembro do ano passado, ostenta o título de National Geographic Explorer (explorador, em português), concedido pela National Geographic Society, que edita a prestigiosa revista National Geographic.

Essa é a sua primeira missão depois de entrar para o seleto clube. A expedição Encontrando Darwin é uma viagem plena de excitações em torno de um dos maiores trabalhos científicos realizados na história. "Um aspecto interessante é que Darwin só foi convidado a integrar a expedição pelo segundo comandante, Robert Fritz Roy, uma vez que o primeiro comandante do navio HMS Beagle, Pringle Stokes, suicidou-se", explica Pimenta.

Stoke matou-se com um tiro na cabeça em agosto de 1828 ao perceber que as pesquisas na Terra do Fogo, sob sua responsabilidade, haviam fracassado. As missões do HMS Beagle, entretanto, não eram predominantemente científicas.

Na segunda expedição, por exemplo, enquanto Darwin se ocupava da evolução das espécies, algo ainda a ser estudado, o capitão Fitz Roy tratava de algo bem palpável para o império britânico: as relações comerciais e diplomáticas com as nações sul-americanas que haviam conquistado a independência recentemente.

Pouca aptidão

Em seu relato aos reis George IV, Guilherme IV e Vitória sobre as passagens pelo Brasil, entre 1828 e 1839, Fitz Roy enalteceu o clima tropical brasileiro, mas criticou o que considerou a pouca aptidão da sociedade local para as atividades econômicas. Décadas depois, por exemplo, o Reino Unido desempenharia um importante papel no desenvolvimento ferroviário na Argentina.

Mas essa parte econômica não é o foco do trabalho do explorador baiano que agora faz parte de dois grupos seletos. Antes de se tornar um National Geographic Explorer, o fotógrafo já pertencia ao The Explorers Club, fundado em 1904, e que tem sede em Nova York.

"No The Explorers Club você precisa ser indicado por dois membros e, para ser um National Geographic Explorer, você submete o seu trabalho a uma avaliação", explica.

Filho de um casal mangabeirense, Pimenta nasceu "por acaso" em São Paulo, quando os pais migraram para lá, mas voltou para a Bahia ainda com dois anos de idade. Em Salvador, morou no Matatu e no Itaigara, fez graduação em economia na Unifacs, mas desde cedo demonstrou interesse pelas lentes. Viajou ao Chile onde fez mestrado em política internacional.

Quase um autodidata, Pimenta teve, na verdade, apenas um professor de fotografia, Paulo Lima, que atesta o foco da carreira de seu pupilo famoso: "Desde o primeiro momento, ele apontou o interesse em fazer o tipo de fotografia que faz hoje", afirma o fotógrafo, que se declara orgulhoso e lisonjeado por ter participado da trajetória profissional de Pimenta.

Sobre a qualidade técnica do trabalho de seu pupilo famoso, Lima usa a definição "excelente". Além disso, o ele exalta as temáticas escolhidas nos trabalhos de seu ex-aluno: "Acho superinteressante o trabalho dele, primeiro pela temática. São questões relevantes para o momento que a gente vive".

Em 2020, Pimenta lançou, em inglês, o seu primeiro livro, Yazidis, sobre a tragédia humanitária dos iazidis, povo que divide com os curdos o sofrimento de não ter um território próprio e ocupar áreas do Iraque e da Síria sem ter autonomia. O livro de Pimenta, já esgotado, aborda inclusive a escravidão sexual a que mulheres iazidis foram submetidas durante o domínio do Estado Islâmico na região.

Pegadas

Este ano, Pimenta lança um novo livro com edição em inglês e português, O Homem e a Terra (Man and Earth). "O livro é sobre as nossas pegadas no planeta para obter água, energia e alimentos. E como a falta de percepção de sermos parte do planeta, e não algo separado, está arruinando nossa casa", declara o fotógrafo.

Desde janeiro de 2018, Pimenta viaja por toda América do Sul com o objetivo de pesquisar, testemunhar e documentar como o ser humano se relaciona com a Terra para explorar os recursos naturais e seus impactos na paisagem e nas gerações futuras. "É uma questão importante no que diz respeito às mudanças climáticas".

Pimenta ganhou o mundo, mas não se afastou da Bahia e nem renunciou à baianidade. Vem sempre que pode visitar a família e amigos e, às vezes, vira fera nas redes sociais quando sua terra natal é depreciada.

Quando o deputado federal Maurício Marcon (Podemos-RS) usou seu perfil no Instagram no dia 5 de fevereiro para dizer que a Bahia é suja e pichada, Pimenta foi ao Twitter e fez comparações entre seu estado natal e o de adoção: "Estive mês passado em Salvador e posso dizer sem medo de errar que a capital está anos-luz à frente de Porto Alegre, e no interior não vi nada aqui (Rio Grande do Sul) melhor que lá", escreveu Pimenta, desafiando o parlamentar a também fazer uma expedição, mas à Bahia. Aliás, como se vê, o Congresso Nacional não evoluiu como as espécies pesquisadas por Darwin.

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