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05/12/2022 às 5:59 - há XX semanas | Autor: Vinicius Marques

LITERATURA

Maria Fernanda Tourinho Peres estreia com livro de contos

Na obra, publicada pela Editora Patuá, autora reúne 22 contos, todos narrados por mulheres

Para Maria Fernanda, 'o livro foi uma forma de processar eventos
Para Maria Fernanda, 'o livro foi uma forma de processar eventos -

A médica e professora Maria Fernanda Tourinho Peres, filha de pai poeta e mãe psicanalista, não sabe muito bem qual o motivo que a fez seguir a área da saúde. E não possui nenhum outro familiar próximo na mesma área que escolheu. Seu irmão mais velho, hoje é professor de filosofia, por exemplo. “A minha família é muito de humanas, se fizer algum sentido fazer esse tipo de classificação”, diz ela.

Nascida em 1970, em Salvador, a maior lembrança que tem da sua primeira residência, onde viveu até os 10 anos, é o nome do prédio que morava: País Tropical, localizado na Avenida Centenário.

O lugar tem o mesmo nome da famosa canção do cantor Jorge Ben, a qual a jovem Maria Fernanda acreditava que havia sido composta para sua casa. “Quando ouvia 'Moro num país tropical', achava que aquilo era para mim. Me deixava muito feliz”.

Depois, mudou-se para um outro prédio que ela classifica como o lugar que foi muito importante para ela, porque era um local que havia muitas crianças da sua idade. “Era um grupo muito grande, e que me deu também uma confiança”, lembra. Além dos pequenos amigos, tinha também em casa os vários livros que eram muito importantes para os pais.

“Os dois sempre foram pais muito voltados para letras, para a leitura, e eu tenho lembranças de infância muito fortes dos dois sempre lendo, com livros na mão, estudando, e isso me permitiu também ter contatos com muitas pessoas interessantes. Seja pela via da psicanálise, que é o campo de atuação de trabalho da minha mãe [Urania], como também pela via das letras, da literatura, da poesia e das artes, por meu pai”, conta Maria Fernanda.

O pai, Fernando da Rocha Peres, além de escritor e poeta, foi também professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), hoje aposentado. Desde pequena, Maria Fernanda frequentou o campus de São Lázaro e fazia do lugar um playground, brincando no jardim com o irmão. Junto dos pais, frequentou também diversas festas promovidas pela universidade.

Ela lembra de uma vez, quando passava de carro no Vale do Canela, ter visto pichado na parede a palavra universidade com o R de cabeça para baixo. Ao perguntar para o pai o que significava a palavra, ele respondeu que é de onde ele era e trabalhava.

“Ficou muito marcado para mim que era um lugar que se produzia conhecimento. Eu lembro que ali, muito pequena, mesmo sem saber direito o que era universidade, era onde tinha essa coisa da produção de conhecimento, da pesquisa. Acho que nasceu ali o meu desejo de ir para universidade, fazer a minha carreira, que eu não sabia muito bem o que era, porque eu era uma criança”, explica.

Epidemiologia

Depois de passar pela Gurilândia, Escolinha de Arte da Bahia e Colégio São Paulo, Maria Fernanda inicia a graduação em Medicina pela Ufba. Já no segundo ano de curso, ao cursar a disciplina de epidemiologia, se encantou pela área e decidiu seguir nisso.

Foi bolsista de iniciação científica do CNPq, primeiro na disciplina de Farmacologia, depois no departamento de medicina preventiva, com foco em epidemiologia ambiental.

Já formada, estagiou no Juliano Moreira e no Hospital Dia. Depois, embarcou para o mestrado em Saúde Coletiva e produziu uma dissertação no manicômio judiciário da Bahia, hoje chamado de Hospital de Custódia e Tratamento.

"Acho que foi um ponto muito importante na minha vida. Pelas coisas que eu vi, que eu vivenciei, acho que foi um mestrado muito difícil porque era uma realidade muito dura que eu via ali no manicômio”, reflete.

Por conta desse trabalho, hoje Maria Fernanda pesquisa a temática da violência. Do mestrado, foi para o doutorado, quando pesquisou a relação entre violência e loucura, até se mudar para São Paulo, em 1998, para fazer uma formação mais sólida em psiquiatria clínica, seu primeiro sonho na medicina.

Na Universidade de São Paulo (USP), trabalhou por 20 anos no Núcleo de Estudos da Violência (NEV), onde atuou como coordenadora de pesquisa e desenvolveu projetos em colaboração com a Organização Mundial de Saúde (OMS).

A partir de 2010, tornou-se professora no departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP. Hoje, ministra a disciplina de Epidemiologia e desenvolve pesquisas de violência e saúde, com foco em violência juvenil e prevenção da violência.

Neste ano, abraçou o lado escritora e publicou seu primeiro livro de contos, intitulado O balanço das coisas paradas, lançado nesta semana em Salvador.

No livro, publicado pela Editora Patuá, ela reúne 22 contos, todos narrados por mulheres em torno de situações traumáticas da vida, reflexões sobre mudanças, despedidas, afetos feitos e desfeitos.

“Acho que o livro tem essa marca de pontuar coisas que acontecem, que me mobilizam. Acho que foi uma forma de processar eventos”, explica Maria Fernanda.

Curiosamente, embora tenha crescido num ambiente com muitos livros e sempre tenha gostado de ler, como o pai e a mãe, que são pessoas que têm a leitura como um valor muito importante, ela nunca imaginou que fosse escrever literatura.

“Eu acho muito difícil. E esse impulso para escrever surgiu na pandemia. Acho que muito em função do isolamento, de uma necessidade de falar com pessoas, de falar pela escrita. Falar das coisas que eu estava vivendo”.

A professora titular de Teoria da Literatura, da Ufba, Evelina Hoisel, escreveu que “impressiona a capacidade que tem a escrita de Maria Fernanda T. Peres de flagrar o que se passa na subjetividade das personagens, isto é, do ser humano”.

Ela destaca que o conto de abertura, Além do horizonte, a tristeza é senhora e a mariposa morre, é crucial para compreender o conjunto das narrativas da coletânea de Maria, que levanta uma série de questionamentos sobre o ato de escrever, por que escrever, qual a relação da escrita com o autor, e a relação entre ficção e realidade.

Trecho do conto Um duplo da sua vida, uma cópia imperfeita de cada um deles:

Chegou como que perdida dentro de si. Precisava decidir como seguir, encontrar a melhor forma de lidar com a vontade de a um só tempo mudar e manter. Aquele era um sentimento inédito, que a desconcertava e assustava. E se eu descobrir que não sou triste, mas infeliz?

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