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02/06/2024 às 0:00 - há XX semanas | Autor: Luisa Sá Lasserre*

CRÔNICA

Mas ainda esqueço

Confira a crônica de Luisa Sá Lasserre

Imagem ilustrativa da imagem Mas ainda esqueço
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Bem que eu senti um cheiro estranho. Alguma coisa queimando? Era o inhame que esqueci cozinhando no fogão. Quando dei por mim, a água já havia secado e o fundo da panela começava a ficar preto. Desliguei o fogo e consegui salvar uma parte do que seria o meu jantar. Essa foi por pouco. Nem tudo é.

Esquecer comida no fogo é fichinha. Quem nunca? Isso a gente resolve fácil. Joga até panela fora e compra uma nova, se for o caso. Nem tudo dá pra recuperar. Tem coisas que eu ainda esqueço e são bem mais difíceis de resolver. Eu sei que preciso, sei que devo, mas… quem disse?! Acabo esquecendo. Quando vejo, já foi.

Eu sei que preciso viver o presente, mas ainda esqueço. Eu esqueço que é só aqui e agora que a vida acontece e não adianta querer me antecipar ao futuro. Com frequência, meu pensamento escorre apressado pelos dias que virão, prevendo, imaginando, se preocupando e criando dezenas de cenários possíveis para uma peça que, na real, eu nem sei se ganhará os palcos. Pode ser que não passe de ensaio. Vai saber.

O que eu percebo é que os dias vão passando e eu, mais ainda, por eles. Mas, volta e meia, me esqueço disso. Toco a vida como se tivesse todo tempo do mundo… pra fazer aquele trabalho, escrever aquele texto, ligar para aquela pessoa, resolver aquela pendência. Quando vejo, passaram-se semanas, meses, estações. O ano pela metade. Por que deixei acumular e não fiz?

Eu ainda esqueço que procrastinar é só um jeito de empacar no caminho. E que para todo resultado que a gente deseja há uma boa dose de escolhas e ações que precisa colocar em prática. Eu sei que não há vitória sem luta, nem caminhada vencida com atalho, mas ainda esqueço. Quando dou por mim, estou buscando um jeito fácil, tentando encurtar caminho e pular etapas.

Agora mesmo, quantos objetos se acumulam no fundo daquele baú, que pode nem ser de madeira nem nada, só na memória? Quantas roupas no fundo do armário? Quantas coisas esquecidas aqui e ali entre as tantas urgências da nossa vida apressada? A fotografia na galeria abarrotada do celular, a dedicatória em um livro da adolescência, a promessa não cumprida, um sonho de menina.

Minhas plantas na varanda me mostram que só cresce aquilo que a gente rega. Mas aí os dias vão se somando no calendário, e olha eu esquecendo de novo… quando vejo, umas folhas estão mais murchinhas, um galho já amarelou. É o mesmo com as relações, principalmente amorosas. Tem que regar e cultivar cotidianamente. Mas quem nunca deu mole e esqueceu? Convém, vez em quando, se lembrar disso antes que seja tarde.

É preciso dar uns goles antes que o café esfrie. Desligar o fogo antes que queime. Aproveitar a sobremesa antes que acabe. Assistir àquele filme no cinema antes que saia de cartaz. Concluir aquela leitura antes de perder o ritmo. Estender a mão antes que seja você que precise. Dar um abraço antes que a vida passe. Aproveitar os instantes enquanto há tempo.

Sim, eu sei de tudo isso, mas, como você ou qualquer um, tem horas que ainda esqueço. E é porque esqueço que também me lembro da urgência de memorizar a própria vida. De grudar na pele das minhas emoções o sabor de cada momento. De fazer com que os minutos bem vividos durem mais. E é por isso que eu escrevo. E aqui, eu não esqueço mais.

*Jornalista e escritora

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