PRODUÇÂO MUSICAL
Massaepê revela potência sonora do Recôncavo
Participam do álbum artistas e coletivos baianos
Por Gilson Jorge
Há cerca de um ano, o curso superior tecnológico em produção musical da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), o primeiro do Brasil no gênero, inaugurou dois estúdios de gravação. Foi mais uma conquista dessa graduação oferecida pelo Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias Aplicadas (Cecult), no Campus de Santo Amaro, e que tem acolhido jovens do Pará ao Rio de Janeiro.
Um dos frutos mais recentes dessa exitosa experiência acadêmica é o álbum Massaepê, que passeia por diferentes estilos musicais e contou com a participação de 22 estudantes, a partir das tradições culturais do Recôncavo. "O disco foi muito nessa linha do som da terra, mas em diálogo com alunos de vários lugares do Brasil", afirma o professor do Cecult, Armando Castro, um dos responsáveis pelo projeto, que ressalta a importância do olhar de graduandos forâneos sobre a produção artística local, assinalando que a graduação também tem muitos alunos do Recôncavo. O disco foi lançado no último dia 20 nas principais plataformas digitais, como YouTube e Spotify.
Participam do álbum artistas e coletivos baianos, como o Grupo Catumbi, o niteroiense Be Guimarães, a paulista Suzi Jardim, entre outros, além de estudantes da licenciatura em música popular brasileira, incluindo integrantes de filarmônicas.
O disco é oriundo de um Projeto de Extensão do Cecult chamado Amaruê Lab, que funciona como laboratório de produção musical e um grupo de pesquisa que produz um "banco de canções".
No disco, são 13 obras entre canções e faixas instrumentais e inclui uma homenagem ao músico argentino que se radicou na Bahia, Ramiro Musotto, morto em 2009, e outra ao lendário pernambucano Naná Vasconcelos, morto em 2016. Além disso, o álbum presta tributo a expoentes do Recôncavo, como Mateus Aleluia, Dona Dalva, Vovó Cici, entre outros.
Na composição das faixas há elementos de samba-de-roda, do reggae, do samba-reggae, das filarmônicas, dos grupos de choro, da sofrência, do ijexá, do samba-soul e da sonoridade dos povos originários, além do resultado de três live-sessions de improvisação musical feitas pelos alunos.
O curso de produção musical da UFRB trabalha com três vertentes: criação, técnica e a parte executiva. "Esse álbum é importante no processo de formação dos estudantes porque eles vão poder entender a lógica da cadeia produtiva da música na prática", diz o professor.
Estruturação
Além de se reunir para compor as músicas, o grupo decidiu conjuntamente a estruturação da equipe técnica do disco, quem seria assistente de estúdio, quem faria a mixagem e quem gravaria as canções. Na parte executiva, os estudantes tiveram contato com a burocracia para o licenciamento das canções, como a liberação autoral por parte dos compositores e o licenciamento artístico dos intérpretes. "Para os alunos, a formação fica mais completa porque há uma dimensão prática do curso", pontua o professor.
No curso de produção musical da instituição não há testes de habilidade artística e Armando afirma que, na definição de quem se concentra em cada área, são levados em conta os planos dos próprios estudantes. "Aqueles que são mais interessados pela parte técnica se responsabilizaram por isso. E aqueles que são mais interessados na parte executiva ficaram com toda a questão legal", explica o professor.
A duração média do curso é de dois anos e meio, mas alunos oriundos do Bacharelado Interdisciplinar de Cultura (Bicult) conseguem concluir esse curso em um ano e meio. "Como a gente tem um curso menor do que o bacharelado, é preciso ter mais prática", avalia Armando.
Autor e intérprete da faixa 4, Maro Maro, o fluminense Be Guimarães sempre trabalhou com arte e quando fez o Enem em 2022 identificou a possibilidade de estudar produção musical em Santo Amaro, cidade da qual já tinha referências culturais. Não só de Caetano Veloso e Maria Bethânia, mas do samba-de-roda.
"Eu fui pesquisar o curso, ver quem coordenava, quem eram os professores e achei incrível a proposta. Mas vim não só pelo curso, também por entender o papel de Santo Amaro na cultura brasileira", afirma Be, que topou mudar de estado em nome da música.
O artista niteroiense, que está no meio do curso, afirma que valeu a pena a vinda. "Aqui a gente descobre que está no berço mesmo. A gente vai aprofundando a pesquisa e entendendo vários mestres e mestras em linguagens populares que dialogam diretamente com a nossa história", afirma o músico.
Além da experiência de gravar um disco na Bahia com artistas de diferentes partes do Brasil, Be tem aproveitado a estadia aqui para realizar uma parceria musical com a paulista Suzi Jardim, da graduação em música popular brasileira. "A gente se encontrou por aqui, conversou e tem feito coisas juntos. Eu a acompanho em uma faixa do álbum", conta Be. A faixa em questão é a 11, Caí na Feira, de autoria de Suzi e interpretada por ambos.
Sobre a sua composição, Maro Maro, uma faixa instrumental, Be afirma que é fruto de uma reflexão sobre o universo sonoro local, sua audição de samba-de-roda e de pagodão, dos carros de som e dos paredões, a paisagem sonora típica de certas regiões da Bahia. Em Santo Amaro, alguma coisa acontece no coração de artistas que são os novos baianos, ainda que apenas durante o tempo de graduação.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Cidadão Repórter
Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro
Siga nossas redes