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Mesa de bar: garçons mostram como driblam clientes incovenientes com humor e experiência

Por Daniel Oliveira

03/07/2018 - 14:28 h | Atualizada em 21/01/2021 - 0:00
O Largo da Mariquita, no Rio Vermelho, chama a atenção pela quantidade de bares
O Largo da Mariquita, no Rio Vermelho, chama a atenção pela quantidade de bares -

Antigo Mercado do Peixe, Rio Vermelho, por volta das 5 horas da manhã de domingo. O movimento de sábado já era pequeno, os proprietários e garçons guardavam as mesas e cadeiras. De repente, um carro subiu no passeio e, em seguida, na área antes ocupada por clientes. Estacionou em frente a um dos velhos boxes. O motorista, então, abriu o vidro e pediu uma cerveja. Perplexos, todos em volta não acreditaram no que estava acontecendo diante dos olhos. “Foi uma das cenas mais malucas que vi trabalhando como garçom, a cara de pau do cliente”, qualifica Alexandre Correia, 27, mais conhecido como Xandy, que atualmente trabalha no Boteco Santa Rita, no mesmo bairro.

“Cara de pau”, aliás, é uma das principais caracterizações do chamado “cliente chato”, muito encontrado por aí noite adentro. Eles tornam a vida dos garçons mais difícil, sobretudo em bares, para além das conhecidas adversidades da profissão – precárias condições de trabalho, instabilidade, jornadas longas... “Existe um tipo de cliente que é cheio de vontade, que sempre quer mais do que está no cardápio e reclama, mas na hora de pagar cria a maior resistência. Já outros esperam um padrão muito mais alto do que o espaço oferece”, opina Xandy, recuperando as experiências de 14 anos no ramo.

As histórias dos bares são intermináveis, e os garçons são testemunhas oculares e, algumas vezes, ativas desses momentos. Como diz Xandy, “a madrugada é a melhor parte”. Isso, sem dúvida, nos lugares como o Santa Rita, que permanecem abertos até as proximidades da aurora. Por quê? “Acho que é a bebida, a galera vai ficando cada vez mais solta e, às vezes, violenta. Mas o clima é diferente aqui no Rio Vermelho”. Apesar de conhecer a diversidade dos temperamentos, não foram poucas as vezes que Xandy ajudou clientes, seja pedindo transporte do próprio celular ou “carregando até o carro por conta de cachaça”.

Num outro ponto tradicional da cidade, epicentro do bairro do Dois de Julho, Manuel Araújo, 62, é o garçom mais antigo do Líder. “Trinta e três anos de casa”, orgulha-se. Figura icônica, já viu muita coisa, construiu laços, mas também lidou com uma variedade de clientes inconvenientes, chatos mesmo. Mais do que a sua memória é capaz de lembrar. No entanto, sempre busca contornar as situações embaraçosas e verter em amizade as pequenas e, na sua visão, irrelevantes contendas.

“A maioria chega aqui e já se torna amigo. Quando vem mais de uma vez e estou, por exemplo, num dia sério ou difícil, já perguntam: o que está acontecendo? Para mim, os garçons precisam dissolver os problemas. Uma vez fui agarrado, expliquei que estava trabalhando, mas depois a cliente ficou minha amiga”, lembra o simpático senhor nascido em Poço Verde, cidadezinha de Sergipe.

Amores perdidos

Para Manuel, existem clientes que acham que os seus problemas pessoais são os maiores do mundo. É aquela história cantada por Reginaldo Rossi, “garçom, aqui nesta mesa de bar / você já cansou de escutar...”. “Apesar de conviver com isso, nunca trouxe problema para cá. E sempre tento ajudar. Não tenho clientes, tenho amigos”, diz. Entretanto, não só de casos de amores perdidos, idealizados e sofridos se faz um boteco. Há muita vida para além disso. Por exemplo, um dia um casal de amigos do garçom do Líder chegou ao bar com diferentes acompanhantes.

Imagem ilustrativa da imagem Mesa de bar: garçons mostram como driblam clientes incovenientes com humor e experiência
| Foto: Adilton Venegeroles / Ag. A TARDE
Manuel Araújo, do Líder, diz não ter clientes, mas amigos. Foto: Adilton Venegeroles / Ag. A TARDE

“Primeiro, ela entrou com um garotão, levei lá para cima. Minutos depois, entrou o marido com uma menina. Evitei o pior e avisei discretamente para cada um que o outro estava no bar. O rapaz logo foi embora, e até hoje são casados”.

Para ele, no cerne das reclamações dos clientes, ao menos em relação à temperatura da bebida, há muita fantasia. O segredo do negócio é o bom humor. “Já vi gente reclamando que a cerveja não estava gelada e eu sabia que estava. Voltei com a mesma e o cliente falou: ‘Essa agora está ótima’”. O tempo de estrada, nas suas palavras, “ajuda no trato com os chatos”.

Coisa boa é interagir, conversar e ter o reconhecimento. Assim pensa sobre a profissão Marivalda Souza (Mari), 39, que completou dez anos no Ponte Aérea 2, na Pituba. “O carisma não se paga. Busco sempre cativar os clientes, conversando, dando atenção. Tudo isso é um incentivo. Muita gente fica apegada, demonstra carinho. Mas tem aqueles cheios de frescura e que reclamam de tudo. E para uma garçom mulher tem situações desagradáveis com alguns clientes também. Mas isso acontece até entre os colegas”, fala.

Clientes ilustres

Embora exista uma rotatividade das pessoas que frequentam os bares, principalmente nos bairros boêmios, como Rio Vermelho e Dois de Julho, os clientes fiéis e queridos são os preferidos. “Chegam algumas pessoas aqui que vi criança e atualmente são meus amigos”, afirma Manuel, do Líder, que já chegou a morar no mesmo edifício onde funciona o bar. Segundo ele, essas relações se transformam, mas os conselhos também fazem parte. “Não posso ver um amigo, qualquer que seja, fazendo besteira e não falar”.

Imagem ilustrativa da imagem Mesa de bar: garçons mostram como driblam clientes incovenientes com humor e experiência
| Foto: Adilton Venegeroles / Ag. A TARDE
Alexandre Correia, mais conhecido como Xandy, trabalha no Boteco Santa Rita, no Rio Vermelho. Foto: Adilton Venegeroles / Ag. A TARDE

Os vínculos de Antônio França, 68 anos, também são construídos com muito papo, cachaça mineira e reflexões. Começou como garçom no Yacht Clube da Bahia, chefiou a equipe do antigo Extudo e, atualmente, é proprietário da Confraria do França, no Rio Vermelho. Coleciona histórias e amigos ao longo de mais de 20 anos de experiência na área.

Os problemas com “clientes chatos”, macaco velho que é, afirma saber “tirar de letra”. “Quando reclamam do prato, aceito tranquilo, mas digo, com humildade, para escolher outro. Na noite você conhece muita gente, do bem e do mal”.

Próximo de figuras da política, de artistas e professores – frequentadores recorrentes do restaurante –, conta que recebe todos com respeito, quem quer que seja. Mas relembra um fato marcante, ainda do período do Extudo, quando, por um problema de falta de comunicação, foi surpreendido com um murro e saiu na porrada com um cantor e compositor, já falecido, que andava por essas bandas de verão em verão. “Isso foi no Mercado do Peixe, um tempo depois de um problema que tivemos resultado de uma conta lá no bar”.

França menciona que, recentemente, teve a visita da atriz Camila Pitanga. Mostra fotos com ela, tanto suas como de integrantes de sua equipe. “Gente boa, conversamos muito. Conheci o pai dela (o ator Antônio Pitanga) há bastante tempo”. Sem esquecer o passado de garçom, defende tanto a importância dos 10% (opcional), que faz questão de incluir integralmente no pagamento, como o bom tratamento dos clientes. “O cliente e o garçom precisam sentir carinho e respeito”.

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