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26/09/2021 às 6:00 - há XX semanas | Autor: Gilson Jorge

MUITO

Museu do Mar Aleixo Belov vai ser inaugurado em novembro

O engenheiro velejador e a embarcação Três Marias | Foto: Olga Leiria / Ag. A TARDE
O engenheiro velejador e a embarcação Três Marias | Foto: Olga Leiria / Ag. A TARDE -

Depois que decidiu montar um museu com as peças que contam as suas histórias pelos mares do mundo, o engenheiro Aleixo Belov procurou a empresa Evolution, da historiadora e museóloga Heloísa Costa, no final de 2018, e ao explicar o que pretendia com o equipamento, justificou a escolha com uma expressão que sintetiza o seu jeito de ir direto ao assunto com uma ponta de humor: “Ouvi falar que a senhora é uma museóloga retada”.

Oito meses depois, recebeu um relatório de 172 páginas fartamente ilustrado que serviu de base o para o Museu do Mar Aleixo Belov, no Santo Antônio Além do Carmo, cuja inauguração está prevista para o próximo dia 4 de novembro.

O casarão de fachada amarela, que ocupa toda a frente de um quarteirão no largo, recebeu no interior o Três Marias, veleiro construído em 1976 quando Belov começou a perseguir o sonho de se tornar um desbravador dos mares. O barco foi colocado no canto das portas de entrada e pode ser apreciado do térreo e de dois mezaninos no lado oposto, que podem ser acessados por uma escadaria ou por um elevador, para pessoas com dificuldade de locomoção.

O mastro do veleiro, que extrapolaria o teto, precisou ser cortado ao meio depois que o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac) vetou a alteração na aparência externa do imóvel. Nas paredes sem reboco da escadaria, quadros adquiridos em viagens, sobretudo à Polinésia Francesa.

Em caixas de vidro, equipamentos de navegação, como um relógio e um sextante, uma gigantesca concha do mar e outros tesouros naturais e culturais encontrados em quatro décadas de navegação.

O museu é, na prática, uma forma de compartilhar com os seus visitantes os conhecimentos adquiridos mundo afora por esse ucraniano que chegou à Bahia ainda criança, junto com os pais, um casal de camponeses em fuga da Segunda Guerra Mundial. O menino que se encantou com os mergulhos na Baía de Todos-os-Santos, formou-se em engenharia e construiu ele mesmo um veleiro com o qual fez três grandes viagens solitárias ao redor do planeta.

Legado

A ideia de Belov é deixar um legado para os jovens que, no seu entender, não sabem sonhar e, quando sonham, não sabem realizar. “Ninguém vai ficar pra semente”, afirma Belov, ao justificar a exposição pública de um material que inclui lembranças pessoais mas também peças que já são história, como um pesado escafandro de ferro que conseguiu em Salvador mesmo, embora não precise a data.

Por excesso de informação, impaciência ou por necessidade de se desapegar, Belov afirma não lembrar detalhes sobre boa parte do acervo. Uma postura que o engenheiro velejador assume no novo livro, Minhas Viagens com outros comandantes, lançado na última quinta-feira no Yacht Club da Bahia. Em um determinado trecho, ele cita a rotina de despedidas durante a viagem e como isso o afetou. “Não resta em mim nenhuma emoção, nem palpita o meu coração, por nada. Dizer adeus às coisas ou às pessoas virou rotina também. É o prato do dia”, escreve, antes de citar a famosa frase de Ernest Hemingway: “Por quem os sinos dobram? Eles dobram por ti”.

A imagem cultivada de durão não convence todo mundo. “Ele é sério assim, mas a gente nota que no fundo ele tem uma afetividade muito grande pelas pessoas”, afirma Heloísa, uma fluminense que desembarcou em Salvador recém-formada em 1976 e que tem no currículo a criação do Museu Geológico da Bahia, no Corredor da Vitória, e do extinto Museu de Ciência e Tecnologia, no Imbuí, além de passagens pela direção do Ipac, pelo Museu Palacete das Artes e pelo Museu Carlos Costa Pinto. Coincidentemente, a chegada de Heloísa à Bahia aconteceu no momento em que Belov construía o veleiro Três Marias.

Em uma conversa que durou uma tarde inteira, entre o velejador e a equipe da museóloga Heloísa Costa, foi definido o projeto que está perto de ser aberto ao público, com ênfase no compartilhamento do conhecimento adquirido em cinco expedições.

Belov gosta de dizer que sempre viajou como marinheiro e como pirata, disposto a “saquear” a cultura dos povos, a capacidade de compreensão e o diálogo entre estranhos. Para ele, o conhecimento é a única coisa que, de fato, pertence aos seres humanos.

A peça favorita de Belov é uma sereia feita em madeira por um artista indonésio. Mas há também artesanato da Namíbia, quadros de artistas franceses radicados na Polinésia Francesa inspirados em Paul Gauguin, uma imagem de Jesus Cristo venerada pela Igreja Ortodoxa da Rússia e uma variedade de fósseis de animais, como as mandíbulas de um javali e de um leão-marinho, o crânio de uma tartaruga marinha e o bico de um peixe-serra. Além da medalha de Cavaleiro da Ordem do Cruzeiro, que recebeu em 2014, da então presidente Dilma Rousseff. Em 1981, ele se tornou o primeiro brasileiro a dar a volta ao mundo em um veleiro.

Curiosamente, no acervo desse brasileiro nascido no interior ucraniano não há referências a mitos marinhos eslavos, como a Rusalka, sereia do folclore de países do leste europeu e que na Ucrânia virou nome de uma companhia de dança criada em 1966. “Minha família era do campo, a gente não tinha contato com o mar na Ucrânia”, explica o velejador.

No terceiro nível, que deve receber exposições temporárias, há fotografias de celebração do ano novo em ilhas do Pacífico e de interação com uma família dinamarquesa que visitou o seu barco. “É bem a cara dele fazer um museu meio antropológico”, ressalta Heloísa.

Fraternidade

Com base nas conversas, delineou-se a proposta de um museu que falaria sobre a vida de Belov, sua capacidade de fazer um sonho se realizar, mas também sobre a experiência de estar no mar.

Uma das suas atrações, proposta de Heloísa, é a possibilidade de conjugar a visita ao museu com um passeio em grupo no veleiro Fraternidade, o mesmo com o qual o engenheiro bancou com recursos da fundação que leva seu nome duas viagens de estudantes pelos oceanos.

“Vai ser instalado isso de um tíquete casado. Se você faz uma visita ao museu e quer fazer um passeio depois no barco, marca outro dia e fica inscrito numa turma que vai lhe levar a um passeio de meia hora de barco”, explica. O veleiro encontra-se ancorado em Simões Filho.

Heloísa sublinha que é um modelo de museu inédito em Salvador, cidade voltada para o mar, mas que demorou muito a ter um curso de oceanografia, e que ainda se relaciona de forma pouco profunda com esse gigante azul que banha a cidade pela orla atlântica e pela Baía de Todos-os-Santos.

“Não temos cursos ensinando as pessoas a como estar no mar, como aproveitar o mar. Em Ciências Humanas fala-se muito do mar como trajetória das embarcações dos invasores, dos portugueses, mas ninguém fala do mar como algo necessário, que vivemos e comemos dele, nadamos nele”, pontua.

Experiência viva

A Fundação Aleixo Belov, cuja sede fica a poucos metros do museu, já oferece cursos de marinheiro, noções de primeiros socorros e outras atividades marinhas.

Com a abertura do novo equipamento, a sugestão da Evolution foi ampliar os horizontes de um museu documental para uma imersão nas possibilidades marítimas. “A experiência viva lembra mais do que qualquer coisa que você possa ver aí”, afirma Heloísa.

Em meio a cartas náuticas e documentos emitidos por autoridades migratórias, Belov diz que não há como escolher um lugar como o mais bonito do mundo.

Para a hipótese de existir alguém com uma única possibilidade de viagem e que não sabe que decisão tomar, o velho marinheiro que afirma não gostar de sorrir declara enfaticamente que, então, é melhor morrer, viajar para o cemitério, para depois cair na gargalhada. Refeito do gracejo, aponta para uma foto da Polinésia Francesa com montanhas e o mar.

Profissional da área de exatas, Belov ressalta a importância que as dezenas de cadernos de anotações que guardou tiveram para os seus livros. “Qualquer ideia que eu tinha, eu anotava. O perfume está nos detalhes, mais do que no grosso das informações”, pondera.

Na última viagem feita, ao Alasca, preencheu 17 cadernos de 200 páginas que geraram o livro Alaska, muito além da linha do horizonte, utilizando a grafia em inglês do estado norte-americano.

O museu terá também um centro de projeção, destinado a conferências. Além de uma cafeteria no mesmo prédio, está previsto um restaurante num casarão do outro lado da rua, com vista para o mar, que também pertence à Fundação Aleixo Belov. Ambos os empreendimentos gastronômicos serão terceirizados.

Parte da marcenaria do museu foi feita na empresa do seu fundador, a Belov Engenharia, especializada em obras marítimas. Foi a empresa que executou o novo píer do restaurante do Solar do Unhão e é atuante na indústria petrolífera, especialmente em construção de plataformas.

Originalmente, o museu estava previsto para dois casarões na Praça Cayru, no Comércio. Mas em função de entraves para a cessão dos imóveis, optou-se por um plano B. E a escolha recaiu sobre três unidades que haviam sido adquiridas pela família Rique, proprietária do Shopping da Bahia, que chegou a cogitar a implantação de um quarteirão de cultura, entretenimento, gastronomia e compras no Santo Antônio, mas desistiu do projeto.

Bem-vindo

Apesar de ainda não estar completo, o museu recebeu a visita de uma vizinha, de 91 anos, moradora do Santo Antônio Além do Carmo há 60 anos. A aposentada Dinorah Rodrigues diz que conversou com Aleixo para que até a inauguração só seja permitida a entrada de pessoas que se identifiquem para mostrar a idade. “Menos de 90 não entra. A minha não precisa, que ele já sabia”, ri a aposentada.

Ela considera que o museu é bem-vindo ao bairro: “Você viaja pela Europa, qualquer botequim é antigo. Aqui não tem nada para mostrar. Tem a detenção (Forte do Santo Antônio), que agora é escola de capoeira. Com esse museu, o local vai se valorizar. Estou encantada. Vou ligar para São Paulo e dizer que meu bairro agora é bairro de rico“, brinca a aposentada, que teve familiares morando no imóvel na década de 1960.

O velejador, que recebeu em 2019 o título de cidadão simõesfilhense, está prestes a se tornar também cidadão soteropolitano. A cerimônia, prevista para o próximo dia 5 de novembro, foi adiada por questões de agenda.

A inauguração do Museu do Mar Aleixo Belov chegou a ser planejada para o dia 1º de novembro, Dia da Baía de Todos-os-santos, uma segunda-feira. Mas por causa do feriadão de Finados, a data foi mudada para 4 de novembro. O preço do ingresso deve ser R$ 20. Mas esses dados ainda podem mudar. Vai depender dos ventos.

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