MUITO
Nairzinha lança hoje o livro infantil Casa de Vó
Lançamento acontece hoje às 15h na LDM do Shopping Bela Vista, com entrada gratuita
Por Gilson Jorge
Em 1938, quando o petróleo jorrou pela primeira vez em solo brasileiro, com a descoberta casual de um poço no subúrbio de Salvador, confirmaram-se as projeções do escritor e ex-adido brasileiro nos Estados Unidos, José Bento Monteiro Lobato, de que o país tinha sim essa riqueza em seu território, como apregoou no ano anterior em seu livro O Poço do Visconde.
Quinze anos depois, o presidente Getúlio Vargas criou a Petrobras e o local da descoberta do poço já se chamava Lobato, sobrenome que o escritor compartilhava com o primeiro proprietário daquele mesmo terreno.
No ano da criação da estatal, uma menina de cinco anos, que morava no bairro do Garcia, aguardava todos os dias no final da tarde a chegada em casa do seu pai, o alfaiate Walter Spinelli, dono de uma loja no centro e criador do slogan "Adão não se vestia porque Spinelli não existia".
O comerciante era também o parceiro de brincadeiras da pequena Nair Spinelli, que teria mais tarde em Monteiro Lobato uma de suas grandes inspirações. "Meu pai vive tatuado na minha alma. Ele era um brincante maravilhoso, chegava em casa de noite da alfaiataria e se jogava no chão para brincar com a gente", conta.
Agora avó de quatro crianças, Nairzinha está lançando o seu primeiro livro infantil, Casa de Vó, reflexo de suas lembranças da própria infância, da relação com a sua avó, Dona Naná, e dos 48 anos de atuação como pesquisadora do folclore infantil brasileiro.
"Eu fui aluna da Hora da Criança, aprendi a tocar e cantar com o folclore nacional. Quando cresci, fiz serviço social e fui trabalhar em comunidades. O povo celebrava tudo cantando", lembra.
Dessa experiência, ela selecionou cantigas que passaria a usar em suas apresentações como cantora em locais públicos. Mas a falta de entusiasmo das crianças com o repertório levou-a a se indagar quais seriam as causas desse desinteresse: "As crianças diziam que era coisa de velho, do tempo dos seus avós”.
Depois de entrar em contato com a biblioteca do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, Nairzinha foi até lá e ouviu 140 discos do folclore brasileiro e considerou que o problema principal era, possivelmente, a concepção musical envelhecida.
"Juntei 240 cantigas em pot-pourris, com diversos ritmos. Rap, samba-reggae, xaxado, baião e funk, entre outros".
Com o resultado, Nairzinha passou a trabalhar com a divulgação do repertório em eventos, a educação de jovens e a formação de corpo docente. "Capacitei mais de 41 mil professores na Bahia".
Quando veio a pandemia, Nairzinha acreditou que era o fim do seu trabalho com o folclore. Mas, a convite do Irdeb, foi contar histórias para crianças na TVE. "Sempre quis usar imagens na contação de histórias, porque a humanidade foi educada pela oralidade. Ao ver as imagens, as crianças estimulam sua fantasia", explica.
Lúdico
O programa rendeu um convite da plataforma digital para que ela ocupasse um canal fixo, contando 60 histórias infantis, o canal Nairzinha, Vovó Naná. Mas o envolvimento de Nairzinha com o lúdico sempre teve, também, a faceta acadêmica. Em 2007, ela foi a Portugal fazer um doutorado sobre a história da brincadeira no mundo e entrou em contato com a obra do pintor renascentista belga Peter Bruegel. Especialmente com o quadro Children's Games (jogos infantis, em tradução livre), no qual o artista retrata 250 crianças em 84 atividades lúdicas.
"Fizemos uma pesquisa e constatamos que todos os jogos do quadro são praticados até hoje", conta Nairzinha. Entre eles, a perna-de-pau, pular corda e rodar aro.
O resultado da pesquisa influi definitivamente no livro que Nairzinha começou a escrever durante a pandemia, em função do tempo livre que passou a ter. "Eu comecei a experiência de contar a história do mundo e dos povos pela brincadeira", diz Nairzinha.
Como recurso narrativo, ela usou os seus quatro netos para representar as crianças do mundo, com suas diferenças físicas e de personalidade, chegando à Casa da Avó para repetir o comportamento lúdico e o desejo de brincar que a própria escritora tinha em sua infância, quando chegava à casa da sua avó Naná.
"No livro, estão os animais, as comidas, as rezas", conta a escritora, que também traz uma personagem de três anos inspirada em sua neta mais velha, que na vida real já tem 18 anos.
A ilustração ficou a cargo da artista recifense Kuy, formada em desenho pela Universidade Técnica Federal do Paraná (UTFPR), que atualmente está baseada em Aracaju. "Foi uma experiência extraordinária. Nairzinha me mandou fotos dos netos e falou sobre suas características de personalidade e a partir daí fiz os desenhos", explica Kuy.
Por falar em crianças com características diferentes e em Monteiro Lobato, a escritora opina sobre as acusações de racismo na obra da principal referência em literatura infanto-juvenil do país. "Aconselho considerarem o contexto da época. Sem legitimar, mas compreendendo a cultura da época", afirma.
Nairzinho destaca que gravou Reinações de Narizinho, livro de Lobato, no Spotify, "sem deturpar nada e sem ofender ninguém". A escritora sugere que a versão seja escutada e pontua: "Toda uma obra encantadora julgada por palavras como negona, beiçola, etc. Um dia superamos isso. E vamos ver a beleza da obra".
O livro A Casa da Vó, publicado pela Guaxe Produções, é o primeiro da série de 10 livros Vó que Brinca. O lançamento acontece hoje às 15h na LDM do Shopping Bela Vista, com entrada gratuita.
O livro custa R$ 40. Através do site www.voquebrinca.com.br é possível obter informações sobre brinquedos antigos utilizados em diferentes culturas.
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