MUITO
Nina Lua, jovem promessa do hipismo baiano, almeja as Olimpíadas
Amazona mirin tem futuro promissor na modalidade
Por Pedro Hijo

A primeira vez que a atleta de hipismo baiana Nina Lua caiu do cavalo foi aos dez anos. O momento, que aconteceu no ano passado, poderia ter sido traumatizante para uma criança, mas, para ela, foi um combustível para seguir firme na meta de se especializar ainda mais no esporte. "Foi uma sensação nova e muito legal, porque vi que eu podia melhorar", conta Nina, hoje com 11 anos. “Quero chegar às Olimpíadas!”.
A estudante faz parte de um novo cenário de amazonas mirins que têm conquistado boas colocações em campeonatos regionais e que prometem ser as novas caras do hipismo na Bahia.
O primeiro contato de Nina com o esporte foi por meio de vídeos de hipismo nas redes sociais. Apaixonada por animais, ela sempre teve o desejo de andar a cavalo. Seguir para os treinos foi uma consequência. Toda terça-feira ela está presente na Academia Baiana de Hipismo (ABH) e conta com a parceria do cavalo Prodígio. “Conheci ele no meu terceiro treino e foi com quem eu competi pela primeira vez”, diz. Apesar da relação cada vez mais íntima, o temperamento imprevisível do animal é um desafio para Nina. “Quando o cavalo se ‘reta’ e não quer fazer a prova direitinho é sempre um problema”.
Foi ao lado de Prodígio que Nina conquistou o segundo lugar do ranking da Federação Hípica da Bahia (FHB) na categoria intermediária de 40 cm. O evento foi realizado nos dias 22 e 23 de fevereiro no Equus Clube do Cavalo, em Lauro de Freitas. Ela competiu com outras meninas de diversas idades.
Na Bahia, o hipismo tem atraído um público majoritariamente feminino nas escolas de treinamento. A professora Paula Solano observa que existe um preconceito com homens que praticam o esporte. "Muitos pais acreditam que o hipismo é um esporte feminino por causa da vestimenta e por ser considerado um esporte clássico", diz a professora, que também é sócia da Vila Hípica Verona (VHV), localizada na cidade de Camaçari.
Segundo ela, os pais preferem inscrever seus filhos no futebol, ou, quando demonstram interesse por cavalos, em vaquejadas. Essa predominância nas hípicas tem se refletido em campeonatos do esporte na Bahia, onde, de acordo com Paula, o número de inscrições femininas tem crescido ano a ano.
A jovem baiana Luiza Nunes ilustra bem esse interesse crescente pelo hipismo entre meninas. Com 11 anos, a amazona mirim conquistou o título de campeã geral da primeira etapa do ranking da FHB na categoria 80 cm. Para Luiza, a conquista é o reflexo de muita dedicação e confiança. "Eu me senti muito realizada por conseguir esse prêmio", comenta. "Eu não esperava esse resultado, mas entrei na pista confiante".
A paixão de Luiza pelos cavalos começou cedo. Com incentivo da família, que também tem membros praticantes do esporte, ela começou a assistir a filmes e séries sobre hipismo e ficou encantada. "Eu via as imagens e sonhava em começar a praticar", conta Luiza. O ambiente em que a relação com os cavalos era natural permitiu que a amazona ampliasse a parceria com eles e os transformassem em companheiros de treino. "São meus melhores amigos".
O começo no esporte, no entanto, não foi fácil. Aos sete anos, idade que Luiza começou a treinar, foram necessários esforço e dedicação para lidar com a pressão das competições. "Cair do cavalo é muito difícil, mas é preciso seguir em frente", relata a jovem. A rotina de Luiza é bem diferente da de uma criança de 11 anos. Ela divide o tempo entre treinos de hipismo e vôlei, outro esporte que adora, com os estudos regulares. "Tenho um dia para estudar, outro para as atividades, e no dia de montar me organizo para passar a manhã inteira na hípica", lista.
A principal inspiração de Luiza é Paula Solano, professora da atleta. "Um dia, quero montar como ela ou até mesmo ensinar, como ela faz", afirma a jovem. Assim como Luiza, Paula começou a praticar hipismo quando ainda era criança. Aos 10 anos, ela sabia que, maior do que o amor pelos cavalos era a paixão pelo esporte. Após anos participando de competições, inclusive em outras cidades, passou a ensinar o esporte para novas gerações. Em 2022, motivada pela escassez de hípicas próximas a Salvador, inaugurou a VHV.
Atualmente, de acordo com a professora, Salvador e a Região Metropolitana já têm um número satisfatório de lugares próprios para a prática do hipismo. No entanto, outras cidades como Brasília e Fortaleza passam na frente e são referências nacionais para os atletas. "Ter estrutura é um dos pontos que ajuda na inserção de um público inclusive mais diverso e até na formação de mais profissionais no esporte", reflete.
Outro desafio apontado por Paula é a falta de patrocinadores. Participar de competições fora do estado envolve custos elevados, pois, além do cavalo, é necessário transportar tratadores, treinadores, veterinários e suplementos, além das despesas com viagem e hospedagem. "É essa estrutura que dificulta a participação de muitos atletas em eventos de grande porte", explica a professora.
Os altos investimentos exigidos pelo hipismo tornam o esporte inacessível para grande parte da população. Algumas iniciativas – como programas de bolsas e estágios em escolas de hipismo – têm buscado democratizar o acesso, mas essas ações ainda são limitadas. As mensalidades na VHV, por exemplo, iniciam em R$ 500. Segundo Paula, a transformação desse cenário depende da redução de custos e da criação de mais programas de incentivo, o que permitiria que o hipismo se tornasse um esporte acessível a um público mais amplo no Brasil. A VHV possui um programa de estágio com bolsas para formar professores, tratadores e auxiliares de veterinários.
Habilidades
Para além do investimento no esporte, a sócia da hípica explica que o atleta de hipismo deve ter habilidades técnicas como bom equilíbrio emocional e atenção às reações do cavalo. "É como um jogo de xadrez", diz. "Ganha quem tiver a melhor estratégia e a mais rápida adaptabilidade aos conhecimentos". No caso de um atleta mirim, acrescenta Paula, o suporte de pessoas de confiança pode ser fundamental.
O apoio da família é um pilar essencial na trajetória da amazona Luiza. "Meus pais me incentivam, me consolam quando preciso e sempre estão ao meu lado nas competições", relata a jovem. O apoio dos parentes é o incentivo que a mantém motivada para continuar em sua jornada, sabendo que, por trás de cada conquista, há um time que acredita nela. Este elo com a família também é fundamental para a amazona Beatriz Garcez seguir no esporte. A atleta, de nove anos, tem no pai o maior apoiador. "Ele vai comigo aos treinos, escolhe cavalos para mim, é uma torcida real", diz.
A primeira experiência da soteropolitana com o hipismo foi aos sete anos. "Soube que era ali que eu ia começar", lembra. Desde então, ela tem ganhado destaque. No primeiro dia do ranking da FHB, Beatriz conquistou o terceiro lugar nas provas de 80 e 90 cm. Apesar de ficar feliz com o resultado, a atleta admite ter buscado melhores colocações. "Eu sempre me esforço muito para ficar em primeiro lugar", conta. Para cumprir a meta, Beatriz investe em treinos diários, mantém uma dieta saudável e costuma ter uma rotina de sono regular.
O desempenho no campeonato mostrou como a conexão da atleta com o cavalo é fundamental no hipismo. Para Beatriz, a relação com o animal vai além da técnica. "O conjunto com o cavalo é fantástico e importante para que eu esteja bem", comenta a jovem acrescentando que esse elo é um dos fatores que a ajudam a diminuir o nervosismo antes das provas. "Para mim, as competições são um desafio. Já tive muito medo, mas hoje tenho segurança e trabalho a minha coragem para continuar dedicada".
A determinação é o ingrediente principal para o desenvolvimento de um atleta, de acordo com Paula. "O hipismo ensina a vida", diz a professora. "É um esporte em que se perde mais do que se ganha, a cada percurso que saltamos são desafios completamente novos, então, é preciso vontade, garra, superação".
Planos
A amazona Luiza Nunes tem todas essas habilidades e planos ambiciosos. Ela deseja continuar treinando para ter boas colocações nas próximas competições. A próxima meta é um campeonato no Sítio Chuin, localizado no município de Monte Gordo, em Camaçari, em outubro e novembro deste ano.
"Quero muito saltar categorias mais altas para conseguir muitos prêmios e quero construir uma boa carreira ao longo do tempo", projeta. A mesma gana também é compartilhada pelas jovens atletas Beatriz Garcez e Nina Lua. "Não quero parar", exclama Beatriz, enquanto Nina sonha com as Olimpíadas.
As três amazonas representam um futuro promissor para o hipismo baiano. Paula Solano acredita que a formação de novos talentos tem melhorado a cada dia e a participação em circuitos nacionais é inevitável.
"Há um crescimento no número de praticantes, uma melhora na qualidade dos animais que estão sendo adquiridos e no nível das provas", analisa. "Tenho boas expectativas, sem dúvidas".
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