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"No comer intuitivo tudo é muito novo para a pessoa", diz nutricionista Helena Matos

Por Gilson Jorge

26/05/2020 - 17:00 h | Atualizada em 27/05/2020 - 19:57
Helena explica os conceitos básicos desse novo jeito de olhar para o prato | Foto: Divulgação | Freepik
Helena explica os conceitos básicos desse novo jeito de olhar para o prato | Foto: Divulgação | Freepik -

Todo mundo já passou pela experiência de dizer que não sabe se é a fome, mas que a comida está deliciosa. Pois em 1995 essa brincadeira obteve um verniz científico quando duas nutricionistas norte-americanas lançaram o método Comer Intuitivo, que, em 10 passos, busca fazer com que os adultos voltem a sentir a saciedade alimentar tal como fazem os bebês na amamentação: o corpo falando quando a fome acaba, sem a preocupação em deixar comida no prato ou qualquer estímulo externo a comer mais do que o necessário. Evelyn Tribole, uma ex-maratonista, e Elyse Resch, nutricionista no badalado distrito californiano de Beverly Hills, lançaram há 25 anos as bases para um movimento que gerou dezenas de estudos acadêmicos. Em 2017, o livro chegou às mãos da nutricionista baiana Helena Matos, durante a sua residência na Escola de Nutrição da Ufba. Desde então, ela se dedica a popularizar o conceito entre os clientes de seu consultório. Nesta entrevista, Helena explica os conceitos básicos desse novo jeito de olhar para o prato em busca de uma alimentação que seja saudável sem privar a pessoa dos sabores que a fazem feliz.

O que é exatamente o conceito do comer intuitivo e como você se aproximou dele?

O comer intuitivo traz um conceito de conexão do corpo com a nossa mente. Aparentemente, é algo muito simples, até porque é inerente ao nosso ser. Mas fatores sociais, culturais e ambientais fazem com que a gente se desconecte dessa forma de se alimentar. O comer intuitivo traz ferramentas, exercícios, práticas que auxiliam a pessoa a refinar essa conexão da mente com o corpo. O ser humano já nasce com essa programação interna. Na amamentação, quando a criança está satisfeita, a mãe sabe, a criança reage. É difícil insistir com um bebê amamentado. Ele cria formas de recusar e respeitar o seu limite. Da mesma forma como, quando tem fome, cria mecanismos de expressar aquilo. Essa comunicação e essa resposta ao estímulo fisiológico do nosso corpo muitas vezes é suprimida durante a nossa vida. A gente vai crescendo e recebendo estímulos externos, tipo coma até o final, tem que limpar o prato.

Qual o fundamento científico do comer intuitivo?

Apesar de ainda ser pouco conhecido no Brasil, já há bastante estudo científico que dão suporte à sua prática. Vários estudos mostram que pessoas com IMC (índice de massa corporal) adequado, quando fazem um teste para avaliar o nível de comer intuitivo – há uma escala feita por Tracy Brown – que mostra o quão próximo você está de comer intuitivamente. Os estudos observam que pessoas que têm um perfil natural de peso ideal têm essa rotina, esse hábito de comer intuitivamente, de observar o seu corpo, de responder aos sinais do corpo. De diferenciar a vontade de comer da fome física. De criar estratégias para extravasar suas emoções que não sejam só comida. Tudo isso faz parte do comer intuitivo.

Os defensores desse método pregam o abandono das dietas que prometem perda de peso. Não há problema em permanecer com uns quilos a mais? Qual o limite de gordura aceitável?

Isso é bem polêmico. É incrível como nos chama a atenção. As criadoras do método, Evelyn Tribole e Elyse Resch, dizem que é fundamental. É o diferencial do comer intuitivo. Existem outras ferramentas, outras técnicas que não utilizam dieta. No comer intuitivo, você rejeita a ideia de fazer qualquer restrição alimentar. Normalmente, o ato de fazer uma restrição calórica, de alimentos específicos, quando você deixa a pessoa com a sensação de que ela não vai ter acesso livre à alimentação, de forma até inconsciente ela acaba criando situações como o “dia do lixo” [como pessoas que seguem uma dieta chamam os dias liberados para guloseimas e álcool]. Essa mentalidade da dieta não é tão saudável assim, cria uma sensação de culpa.

Comer intuitivamente significa abandonar o controle de calorias?

Sim. Se isso se refere às pessoas que contam as calorias do dia. Quando é que fazemos algo na nutrição, que envolve o comer intuitivo, e é preciso de alguma orientação específica? Em situações de doença renal, que precisa de um controle e de um acompanhamento próximo sobre o que tem sido ingerido. Mas, ainda assim, os princípios podem ser mantidos para que a pessoa tenha o máximo de conexão com o próprio corpo e aproveitamento do momento da refeição. Eu gostaria de ressaltar que a dieta também é uma forma de conexão. Muitas vezes, as pessoas não têm um assunto e aí começa a conversa sobre comida. Uma está fazendo dieta, a outra também. Então, o princípio de abandonar o conceito da dieta é complexo porque as pessoas sentem que perdem algo. O grau de saciedade na hora das compras é diferente da sensação diante do prato pronto.

Até que ponto o comer intuitivo altera a atitude no momento em que se faz o abastecimento da casa?

Se a gente vai fazer as compras com fome, a tendência é de comprar mais, até coisas que estavam fora da programação. No comer intuitivo, isso transpassa porque envolve organização. Antes de ir às compras, fazer a lista do que realmente precisa. Do que realmente gostaria de comer naquela semana. Isso envolve frutas, hortaliças, leguminosas, grãos... Uma das coisas que mudam no abastecimento é que as pessoas se permitem ter em casa coisas que consideram ruins, mas se tiver não vão durar uma semana. Isso pode realmente acontecer, mas é importante refletir a respeito. Faz parte do comer intuitivo. A gente tem muitas reflexões inicialmente, porque no comer intuitivo tudo é muito novo para a pessoa.

Como é possível treinar o organismo para identificar que está saciado?

Depende de cada caso. Já encontrei várias pessoas que pergunto: “Como você sente a sua saciedade?”. E as pessoas, simplesmente, não sabem. “Não sei, paro de comer porque a comida acabou no meu prato”. Ou: “Tenho o costume de comer determinada quantidade e quando chega nisso eu paro”. Sem ter uma conexão, uma boa percepção do corpo. Depois de alguns minutos comendo, você vai identificar uma sensação de peso no estômago que não é desconfortável, é até uma alegria. Você começa a sentir essa sensação de saciedade e felicidade. Ela é bem sutil. É o início da saciedade. Você para de sentir os sinais da fome e começa a sentir uma neutralidade, que é essa alegriazinha que a comida traz.

Quais são os sinais que o corpo emite para avisar que a fome acabou?

Depende de cada um. À medida que você vai comendo, vai sentindo a plenitude. O gosto da comida muda. Mas para perceber isso tem que estar atento. Se você começa a comer um pedaço de torta, com fome, vai estar uma delícia. Daqui a alguns pedaços, a sua fome já diminuiu, já passou aquele estágio de ‘ai, que maravilha’, e começa a achar que a torta não está tão boa assim (risos). Você começa a dizer ‘está doce demais isso aqui’. Você percebe que o sabor muda. É gradativo. A escala de saciedade, que existe por sinal, é como a escala de cores. Daí em diante, a gente vai sentir um peso maior, às vezes sonolência. O mal-estar é o último estágio da saciedade, quando a gente come e começa a sentir aquela sensação de suor.

Um dos conceitos apresentados é não se privar de nada. Essa é uma verdade absoluta? Sabemos que alguns cardiologistas comem mais coxinhas com catupiri do que dizem ser o recomendável. Como esse campo da nutrição lida com a noção de alimentação saudável?

Eu mencionei isso em uma pergunta anterior, mas agora eu vou explorar mais o tema falando sobre o que eu chamo de alimentação gentil, alimentação amorosa. Os princípios do comer intuitivo são rejeitar a dieta, honrar a fome, fazer as pazes com a comida, desafiar o controle alimentar, sentir a saciedade, descobrir a satisfação, lidar com os sentimentos sem usar comida, respeitar o corpo e exercitar-se sentindo a diferença. Nesse item, a gente tira o foco da perda de peso e estimula os outros benefícios trazidos pela atividade física, o bem-estar, a respiração. E o último princípio é honrar a sua saúde com uma nutrição gentil. Quando a pessoa vai passando por essas fases nas consultas com o nutricionista, ela já consegue comer essa coxinha com catupiri do exemplo de forma que ela crie uma satisfação.

Uma das noções difundidas pelo movimento é que a comida não resolve a questão da ansiedade ou outros problemas existenciais. Nesse período de confinamento, como se pode trabalhar o fator emocional para não comer demais? A ansiedade afeta a maneira como se percebem os sinais de saciedade?

A ansiedade, assim como outras sensações de nosso corpo quando submetido a uma situação de estresse, raiva, angústia, pode levar as pessoas a confundirem essas sensações com fome. Dá um embrulho, uma sensação de vazio na barriga. O corpo emite o sinal e a pessoa, por falta de conexão, interpreta como fome. A comida não resolve o problema em si, mas traz um conforto muito grande. E isso também é construído desde a infância. Quando a criança

cai e recebe depois uma comidinha, um chocolate ou um pirulito porque se acidentou. Para parar de chorar, ela recebe aquilo para comer. Vai crescendo e a recompensa porque tirou uma boa nota ou porque fez algo de positivo é uma comida. E a gente vai associando momentos felizes, de prazer, com o comer.

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