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27/10/2024 às 5:00 | Autor: Gilson Jorge

ABRE ASPAS

“Nos livros há um universo maravilhoso a ser descoberto”, diz poeta

Confira a entrevista com Felipe Munita, educador e poeta

Felipe Munita, educador e poeta
Felipe Munita, educador e poeta -

Graduado em literatura pela Pontificia Universidad Católica de Chile, onde também se formou como professor de literatura, Felipe Munita é apaixonado por poesia, gênero de dois de seus livros, Diez pájaros en mi ventana (Ekaré Sur, 2016) e Trinares (Fondo de Cultura Económica, 2023). Mas Munita também é apaixonado pela tarefa de aproximar os livros de crianças, jovens e adultos que não costumam ler, através de um conjunto de ações para a formação de novos leitores. Uma atividade que se chama mediação de leitura e que serviu como ponto de partida para o livro Eu, Mediador(a) – Mediação e formação de leitores, publicado há dois anos e que ganha agora uma edição em português, lançada esta semana pela editora baiana Solisluna [solisluna.com.br] em parceria com o Instituto Emília, de São Paulo. Munita, que é professor da Faculdade de Filosofia e Humanidades da Universidad Austral de Chile, esteve em Salvador, onde participou também do VI Encontro de Leitura e Escrita, promovido pela Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia. Nesta entrevista, ele fala sobre a importância dos programas de formação de leitores e da experiência do Chile no assunto.

Como surgiu a ideia do livro e como ele veio a ser publicado no Brasil através da Editora Solisluna?

É um livro que publiquei há dois anos em espanhol e que agora, traduzido ao português, está sendo lançado no Brasil. É um livro que recobre 10 anos de trabalho de mediação de leitura, entendida como a ideia de construir pontes entre crianças, jovens e pessoas que passaram um tempo afastadas da literatura. Eu fiz esse livro porque há muitos anos, desde o início deste século, fala-se muito em mediadores de leitura. Em meu campo de atuação, todo mundo fala disso. Mas não havia um trabalho que realmente ajudasse a definir do que se trata. Por isso, dediquei tanto esforço a construir teoricamente a noção de mediação, como ela dialoga com outros campos. E, a partir dessa construção teórica, o livro dá lugar a práticas, experiências concretas de mediação desenvolvidas em múltiplos contextos no Chile e em outros países ibero-americanos. No Brasil, claro, na Espanha. E a partir disso foi-se construindo um olhar coletivo, através desse coro de experiências, práticas e projetos sobre as possibilidades que a mediação oferece para a formação de leitores. E tive a sorte de publicá-lo no Brasil com a Solisluna, por meio de uma parceria com o Instituto Emília, de São Paulo, que tem foco na literatura infantil e na promoção da leitura. Estou feliz por circular pelo Brasil pelas mãos da maravilhosa Editora Solisluna e do Instituto Emília.

O senhor usa o exemplo dos conflitos entre a Colômbia e as Farc e até o divórcio para ressaltar a importância da mediação. Mas como esse conceito se aplica na prática à leitura? Como é exatamente o seu trabalho e quando se deu conta de que gostaria de fazer isso?

Meu trabalho como mediador de leitura consiste em ser uma ponte entre as meninas, os meninos, os jovens e também, em alguns casos, adultos, e a cultura escrita, os livros, a leitura. Especialmente, as pessoas que viveram afastadas do universo da escrita, da leitura, da literatura. Viveram afastadas por diversos fatores, sociais, econômicos, familiares. Nesses casos, as pessoas necessitam que alguém as ajude a ver aquilo que nos livros pode lhes falar em um nível pessoal. Alguém que ajude a lhes mostrar que nos livros há um universo maravilhoso a ser descoberto. Esse é o trabalho de mediador de leitura, de promotor de leitura. Eu percebi que queria fazer esse trabalho maravilhoso porque me formei em literatura e, logo, trabalhando, me dei conta de que queria ajudar a outros, especialmente crianças e jovens, a descobrir as maravilhas da literatura.

O senhor declarou que a mediação de leitura não é uma função exclusiva do professor, mas uma tarefa que se compartilha com funcionários de biblioteca e também os clubes de leitura. Qual é a receita perfeita para a formação de leitores?

É muito bonita a ideia de que os mediadores não são apenas os professores. Agora, qual é a receita perfeita para formar leitores? Não existe. Não há uma receita única. Os leitores se formam de maneiras muito diversas. O importante é pensar que cada contexto de atuação tem os seus próprios objetivos. Não é a mesma coisa ser um professor na escola que ser, por exemplo, um mediador de leitura funcionário de uma biblioteca municipal ou uma biblioteca comunitária. Os objetivos socioeducativos são diferentes em cada contexto. E, portanto, mais do que pensar em receitas, há que se pensar em formas de atuação, em práticas educativas que atendam ao que cada contexto necessita e ao que cada leitor e cada leitora necessita.

Em algumas cidades do Brasil se realiza hoje o segundo turno das eleições municipais. E um tema que se debate, em São Paulo, por exemplo, é a proibição ou não do uso de celulares em sala de aula. Há professores que acreditam que os aparelhos podem ajudar no aprendizado, embora haja também muitas queixas por causa da distração dos alunos. De qualquer forma, existe outra discussão. Quem deve decidir isso é a escola ou o poder público? Qual a sua opinião e como se trata desse assunto no Chile?

Eu não sou especialista em cultura digital e celulares. Então, respondo sob minha perspectiva como formador de leitores. Esse é um tema que está sendo discutido no Chile agora. E ao nível internacional temos resultados de pesquisas que em alguns casos mostram argumentos para proibir os celulares em sala de aula, mas outros argumentos que alimentam a discussão porque apontam os celulares como um possível recurso interessante na aula. Eu acho que essa discussão deve ser travada nos contextos educativos, nas escolas e nas instâncias administrativas e burocráticas da educação. E não tanto com os políticos, que nem sempre contam com esses argumentos. Para mim, o fundamental é não decretar a proibição sumária, mas pensar que talvez em alguns contextos pode ser uma ferramenta interessante o uso dos celulares, limitado a tarefas escolares ou uma função em particular. Acredito que essa decisão tem que acontecer no interior das unidades educativas, mais do que em ambientes políticos.

Entre 2015 e 2020, o Chile pôs em prática o Plano Nacional de Leitura, com grandes investimentos em bibliotecas municipais, bibliotecas escolares, bibliotecas ambulantes e outros espaços de leitura. Que resultados houve?

Sim. No meu país houve grandes investimentos na criação de bibliotecas escolares e públicas, programas de fomento de leitura, e eu diria que agora estamos em um momento de avaliação desses investimentos. Porque, por um lado, sabemos que houve um aumento de leitores. Pessoas que talvez não liam e agora sim se interessaram, porque participaram de um clube de leitura em uma biblioteca pública. Ou participaram em suas escolas de um projeto centrado no fomento da leitura e, portanto, nesses casos houve sim um impacto positivo. Mas também sabemos que esse impacto positivo não aconteceu em nível nacional. Portanto, precisamos seguir avaliando as ações para que, oxalá, tenhamos melhores resultados globais.

Esta semana aconteceu a final do programa o Prazer de Ouvir Ler, que é transmitido para todo o Chile pela televisão. É um programa que há uma década leva crianças e jovens chilenos para ler um texto em cadeia nacional e já mobilizou cerca de 60 mil estudantes. Que efeitos práticos houve?

O Prazer de Ouvir e Ler é um lindo programa, centrado na leitura em voz alta. Eu conheço o programa de perto e sei que as meninas e meninos que participam dele aumentam a sua motivação para ler. Porque é empolgante participar de um concurso. Sobretudo aos que vencem, isso é muito importante em suas trajetórias como leitores ter participado do concurso e, principalmente, ter mais e melhores ferramentas para fazer o que chamamos de uma leitura expressiva. Uma leitura em voz alta, mas que procura transmitir os sentidos do texto.

O senhor sugeriu que as maratonas de literatura podem ficar na espetacularização da leitura sem necessariamente levar os jovens a lerem mais. E que os projetos de incentivo à leitura foram suplantados pela mediação de leitura. Quão ruins são as maratonas?

Não é que as maratonas sejam ruins em si mesmas. O que acontece é que faltam outras atividades para a formação de leitores. Ou seja. Os leitores não se formam apenas com maratonas de leitura. Necessitamos também de outras formas de atuação. Necessitamos, por exemplo, de clubes de leitura, círculos literários, espaços de discussão e socialização de leitores, espaços para a escrita que favoreçam respostas pessoais ao texto. Há muitas maneiras de se formar um leitor e por isso eu digo que o incentivo à leitura por si só não basta. A maratona é uma atividade chamativa, mas não oferece ajuda a esse esforço. A leitura é uma prática que requer esforço, silenciosa e, às vezes, difícil.

Quais são seus escritores e livros preferidos?

Meus escritores preferidos são poetas. Sou um leitor assíduo e gozoso de poesia, especialmente da poesia de nosso continente. Do Chile, por exemplo, eu gosto de Gonzalo Rojas. Há um livro dele chamado Contra a morte, que é muito importante para mim. Eu o descobri quando era adolescente. Há outros poetas, como Gabriela Mistral e Jorge Teillier. E também poetas do resto do continente, como o peruano José Watanabe, ou da literatura universal, como por exemplo Wislawa Szymborska, a quem sempre volto. Inclusive gosto também de alguns escritores que fazem prosa de forma poética. Um caso, que amo, é Clarice Lispector. Os livros me parecem muito poéticos em sua maneira de narrar.

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