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Nova entidade busca fortalecer negócios no Pelourinho

Por Gilson Jorge

20/09/2020 - 6:04 h | Atualizada em 21/01/2021 - 0:00
O Pelourinho foi declarado Patrimônio Cultural da Humanidade, pela Unesco, em 1985 | Fotos: Felipe Iruatã | Ag. A TARDE
O Pelourinho foi declarado Patrimônio Cultural da Humanidade, pela Unesco, em 1985 | Fotos: Felipe Iruatã | Ag. A TARDE -

De camiseta, short e sandália e carregando algumas folhas de papel ofício na mão direita, Adriano Galiano caminha pela rua Frei Vicente, no Pelourinho, onde fica a Pão Pelô, a terceira unidade do negócio de panificação aberto pelo seu pai há 36 anos. A empresa familiar virou referência ao longo dos anos não apenas para os moradores e alunos das duas escolas públicas que funcionavam na região. Os sonhos e broas de fabricação própria conquistaram uma certa reputação e passaram a ser consumidos por funcionários de escritórios estabelecidos no Pelô e, eventualmente, por passantes.

As folhas brancas de papel que Adriano carrega são uma lista de compras. Nada de farinha de trigo ou produtos de mercearia. O empresário vai comprar fios, parafusos, tinta e outros materiais de construção. Desde o início da quarentena está sustentando a família e pagando as contas da padaria com reformas, pequenas obras e instalações elétricas.

Salvador tem atraído divulgação espontânea no exterior. Como o texto de uma jovem fotógrafa canadense que o The New York Times publicou no início deste mês, declarando-se apaixonada pela cidade, e a reedição do clipe de Spike Lee com Michael Jackson cantando They don’t care about us ao som da bateria do Olodum.

Imagem ilustrativa da imagem Nova entidade busca fortalecer negócios no Pelourinho
Leonardo Régis, Bruno Guinard, Simone Carrera, Telmar Santana e José Iglesias Garcia, alguns membros da diretoria da Ache, entidade criada para lidar com os desafios da retomada das atividades

Reação empreendedora

Muitos negócios no Pelourinho miram explicitamente o público de fora da cidade. Um bar foi batizado de Boteco do Viajante, e o banner de Rosana, que faz tranças em cabelos no Terreiro de Jesus, nem se preocupa em agradecer em português. É Gracias e Thank you.

Mas, por causa da pandemia, pouca gente acredita que os turistas estrangeiros voltem em número razoável ainda este ano, mesmo com o possível aumento na oferta de voos internacionais.

A abordagem a turistas, às vezes de forma agressiva, é um dos principais temas que preocupam os comerciantes – concordam o presidente da recém-criada Associação do Centro Histórico Empreendedor (Ache), José Iglesias Garcia, e Clarindo Silva, da veterana e esvaziada Associação de Comerciantes do Pelourinho e Centro Histórico (Acopelô).

“Já ouvi um caso em que o cara ofereceu uma pintura tribal e depois que terminou exigiu R$ 120, diz o presidente da Ache, criada em plena quarentena para tentar mitigar os efeitos da pandemia sobre as empresas da área que vai da Praça Castro Alves ao Santo Antônio Além do Carmo.

O direcionamento a determinadas lojas por parte dos guias que conduzem os turistas é outra questão. “Ouvi gente reclamando que pagou por um passeio e em vez de conhecer lugares históricos foi levado a lojas de souvenirs”, diz Iglesias, que também é dono da Tours Bahia e proibiu que seus guias levem os turistas a lojas.

Vocação

Em uma cidade com 17,5% de desempregados, segundo o IBGE, e com vocação turística, os viajantes que aparecem, brasileiros ou não, são inevitavelmente uma esperança de obtenção de renda, para quem usa CNPJ ou CPF.

Há mais de duas décadas, Rosalvo Marter sustenta sua casa com um carrinho que empurra pelas ladeiras do Pelô faça chuva ou faça sol. Para a primeira hipótese, ele tem sombrinhas à venda. Para a segunda, água mineral. Em ambos os casos, uma castanha para servir de aperitivo. “É melhor do que ter um emprego que paga pouco”, pondera Rosalvo.

A Acopelô mantinha um jornalzinho, fazia campanhas, cobrava segurança e auxílio do poder público. Já teve 270 associados, mas neste momento não tem sócios adimplentes. O mítico Clarindo, que pretende reabrir a Cantina da Lua em outubro, disse que a associação volta e apoia o nome do radialista e comerciante Paulo Axé para sucedê-lo. “Eles vêm para somar, mas o ideal é que estivéssemos unidos”, afirma Clarindo.

A Ache, por sua parte, começa a se movimentar para assumir o protagonismo e já conta com 54 membros. “Convidamos Clarindo para ser o presidente honorário, mas ele não quis”, declara Iglesias.

Nesta segunda-feira, 21, às 9h30, a nova associação apresenta à imprensa o carro elétrico que deve conduzir em breve turistas pelas ruas pavimentadas com paralelepípedos da região. Na terça, Igresias, o vice-presidente Leonardo Régis, e a diretora administrativa e financeira da entidade, Simone Carrera, reúnem-se com prepostos do Banco do Nordeste do Brasil para começar a discutir possíveis linhas de crédito. Eles também defendem que o poder público invista em cultura e projetos de moradia na área.

Mas a situação não é fácil. Uma parte dos empreendedores sequer está formalizada ou tem restrições cadastrais. Mesmo em empresas dos diretores da Ache há dificuldades financeiras. “Devo reabrir o Cuco Bistrô, mas preciso de R$ 15 mil para a adequação às novas normas sanitárias”, diz Iglesias.

Adriano Galiano, da Pão Pelô e membro da Ache, poderia solicitar empréstimo de até R$ 200 mil, com base no histórico de faturamento, pelo Programa Nacional de Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), criado pelo governo federal em maio deste ano, dois meses após o início da quarentena.

Mas o dinheiro não foi liberado porque, julgando pela movimentação financeira atual, o banco avaliou que a empresa não teria condições de honrar o débito. “Um cliente me emprestou o cartão de crédito dele para comprar produtos da padaria depois que viu nossa prateleira vazia”, relata Adriano.

Imagem ilustrativa da imagem Nova entidade busca fortalecer negócios no Pelourinho
Aos poucos, clientes estão voltando aos bares

Esperança

Muitos dos empreendedores que se aproximaram da Ache investiram no Centro Histórico com a esperança de que, a partir das intervenções públicas e de grandes investimentos privados, como o Fera Palace Hotel, o Fasano e até o mais distante Hotel da Bahia, o Centro Histórico de Salvador poderia reviver os tempos áureos da Rua Chile. No início do século passado, ali era o endereço chique da cidade. Ou mesmo a década de 1990, quando as obras de revitalização transformaram o Pelourinho em um importante polo gastronômico e de lazer.

Até pelo momento em que surgiu, em meio a uma pandemia, a nova associação tem buscado adotar a linha “eu te protejo, você me protege”. Os associados podem comprar para seus próprios negócios os doces da Chocolates Marrom Marfim, os pães da Pão Pelô e almoçar nos restaurantes da área, por exemplo.

Uma dificuldade comum é a pouca disponibilidade de mão de obra qualificada. “Às vezes, não consigo funcionários que façam bem as tarefas mais básicas, como atendimento”, afirma Bruno Guinard, proprietário do Hotel Villa Bahia, que está se preparando para retomar as atividades, mas acredita que só deve receber reservas de hóspedes a partir de novembro.

Problemas como a abordagem ostensiva de trabalhadores informais e a falta de mão de obra qualificada não são novidade. Mas o baque provocado pela quarentena levou os empresários a reagir.

“A gente percebeu que uma mudança estrutural precisava ser feita para essa retomada”, avalia o vice-presidente da Ache, Leonardo Régis, dono do restaurante Mariposa e da franquia da Havaianas.

“Eu não entendo, por exemplo, por que as praças do Pelourinho não podem funcionar durante 24 horas por dia”, questiona Adriano, que se diz esperançoso, embora lamente que a essa altura do campeonato tenha que buscar alternativas para a padaria não fechar. “Se o meu negócio estivesse em um bairro, eu estaria mais tranquilo”.

Por enquanto, os empresários vão se virando como podem. “Estamos buscando formas de fazer o dinheiro girar aqui dentro. Uma coisa que incentivamos é o consumo de produtos daqui pelos empresários”, diz Iglesias, que contratou os serviços da empresa de construção de Adriano para limpar os tanques de seus imóveis no Centro Histórico.

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