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OLHARES

O amor e sua diversidade na representação fotográfica

Confira a coluna Olhares

Por Cristina Damasceno*

22/09/2024 - 2:00 h
Imagem ilustrativa da imagem O amor e sua diversidade na representação fotográfica
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Recentes pesquisas revelam que o amor é um sentimento que desperta muito interesse em diversas gerações. Só nos Estados Unidos, a palavra amor é uma das mais pesquisadas no Google, sendo acessada cerca de 1,2 milhão de vezes por mês. No universo artístico, o amor sempre foi um tema que esteve presente. Sendo uma experiência humana universal, ele continua fonte de inspiração para muitas obras.

Se formos observar, podemos encontrar na arte ocidental desde o Renascimento algumas figuras mitológicas que personificam o amor, a exemplo: Afrodite, Eros, Vênus, entre outros.

Contudo, essa temática teve seu ponto alto como influência cultural e artística no período Romântico, entre o final do século 18 até a primeira metade do século 19, na Europa, onde se tornou conteúdo principal na literatura, música, filosofia e arte.

Na pintura, as representações deste movimento estético refletiram não só as experiências emocionais vividas pelos artistas, mas também uma diversidade de formas de abordagens, incluindo o amor coletivo com cunho político, reproduzindo aspectos relacionados à complexidade social da época.

Nos primórdios da fotografia este tema não teve muita relevância, entretanto, na segunda metade do século 20, principalmente no pós-guerra, começa a aparecer com mais frequência associado ao amor romântico. Uma das imagens mais simbólicas do gênero foi capturada pelo fotógrafo francês Robert Doisneau, intitulada O Beijo do Hôtel de Ville, em 1950.

A imagem fazia parte de uma reportagem da revista Life sobre o amor em Paris na primavera. Doisneau capturou o momento em que um casal furtivamente se beijava na calçada; ao fundo, se vê a prefeitura da cidade. A cena dá a impressão que o fotógrafo estava sentado em um dos bistrôs típicos de Paris, onde as mesas ficam do lado de fora, no passeio, observando o movimento dos passantes. Embora exista uma polêmica em torno desta imagem ter sido encenada, ela se tornou muito famosa.

A atmosfera romântica parisiense também influenciou os fotógrafos Edouard Boubat e André Kertész, que também produziram imagens com a mesma temática no período, associando a ideia no imaginário popular que Paris é uma cidade romântica.

Fotos simbólicas

Outra fotografia emblemática, com as mesmas características, é a do fotojornalista Alfred Eisenstaedt. Com o título VJ Day in Times Square, a imagem ficou conhecida por marcar o fim da Segunda Guerra Mundial com a rendição dos japoneses. O fotógrafo estava no cruzamento da Rua 44 com a Broadway, nas imediações da Times Square, em Nova York, cobrindo a comemoração popular quando foi surpreendido ao ver a euforia de um marinheiro americano abraçar e beijar uma enfermeira no meio da rua. Eisenstaedt, em frações de segundo, capturou o momento com sua câmera Leica.

Na imagem pode-se notar a atmosfera contagiante nas feições dos transeuntes que observam a cena com alegria. Na ocasião, esta foi a fotografia mais reproduzida da revista americana Life, entretanto, existe também uma controvérsia em torno do beijo não ter sido recíproco.

Mais um exemplo que acredito ser inesquecível são as imagens feitas pela fotógrafa Annie Leibovitz, em 8 de dezembro de 1980, com John Lennon e Yoko Ono. Leibovitz queria apenas fotografar o cantor para a capa da revista Rolling Stones, mas ele se recusou a ser fotografado sem a sua mulher, então, a fotógrafa agendou fazer as fotografias na residência dos dois, em Manhattan.

Leibovitz fez uma imagem íntima e marcante do casal. Deitados, Yoko Ono vestida e ao seu lado, abraçando-a, está Lennon nu, em posição fetal. Uma composição inusual e muito forte refletindo a potência amorosa do relacionamento do casal. Contudo, a história por trás desta imagem fez com que ela se tornasse ainda mais interessante. Cerca de cinco horas após a sessão fotográfica, o ex-Beatle foi assassinado, sendo as fotos deste ensaio suas últimas imagens.

Desabrochando o amor

Inspirado pelo amor nas suas diversas manifestações, o fotógrafo Dodô Villar criou um ensaio fotográfico intitulado Amor Enraizado, que está em cartaz na Caixa Cultural Salvador, podendo ser visitado até 13 de outubro. Com curadoria de Uiler Costa-Santos, a exposição apresenta 12 fotografias coloridas com dimensões grandes, cerca de um metro por um e meio.

Fotógrafo desde 2010, Dodô decidiu trocar a profissão de designer gráfico pela fotografia.

As imagens fotografadas em estúdio seguem um padrão na escolha da pose e iluminação. Os diferentes corpos dos modelos nus da cintura para cima exibem marcas trazidas desde o nascimento e as adquiridas no percurso da vida.

Todos carregam no centro do peito uma rosa vermelha que desabrocha, onde o coração se aloja. Neste lugar vê-se uma ferida e dela surge o caule com a flor. Na pele dos abdomes nota-se as raízes que se espalham dando a impressão de estarem internamente nos corpos. Também todos os modelos estão com os olhos fechados, dando a impressão de estarem imersos em um mergulho interior.

As imagens são potentes e o trabalho da maquiadora Aline Oliveira é impecável, ela também faz parte da mostra como modelo.

Dodô escolheu fotografar corpos comuns, que não se enquadram aos padrões estabelecidos de beleza ditados na sociedade. Ele procurou abordar a diversidade da beleza relacionando-a com o amor que emerge do âmago do ser. Ele propõe o olhar amoroso para o outro e suas diferenças, levando em consideração que na essência todos guardamos a mesma semente do amor que é representado nesta série pela rosa vermelha.

Símbolo

Vendo a flor como símbolo do amor, imediatamente lembrei do fotógrafo francês Marc Riboud, que fez, oportunamente, uma das fotografias mais marcantes na história do fotojornalismo durante um protesto em Washington, Estados Unidos, contra a Guerra do Vietnã, em 1967. O instantâneo registra soldados com fuzis e baionetas apontando para uma jovem com uma flor nas mãos. Segundo declarações da própria moça, ela só queria falar sobre o amor com os soldados.

Já Dodô Villar foi movido pelo amor incondicional ao seu irmão, que aos oito anos começou a desenvolver vitiligo e passou por muitos preconceitos. Ele não foi fotografado para este trabalho, mas está representado por outra pessoa no ensaio.

O fotógrafo teve que encarar alguns desafios e declara: “Como representar o amor interno das pessoas? Como fazer entender que se dermos oportunidade esse amor pode aparecer? E como fazer entender que o preconceito está em várias camadas e aspectos e não apenas no contexto racial? Como trazer essa reflexão sem trabalhar o assunto fotografado no photoshop?”.

Ele ainda explica que a ferida no peito é o rompimento da barreira do preconceito, próprio e do próximo, é a forma encontrada de representar a raiz no corpo, que quando regamos faz brotar amor.

Sem dúvida, representar o amor e suas histórias em imagem não é uma tarefa fácil, contudo, este sublime sentimento continua contagiando e sendo impulso de muita criatividade.

*Doutora em Artes Visuais e professora de fotografia na EBA (Ufba)

*O conteúdo assinado e publicado na coluna Olhares não expressa, necessariamente, a opinião de A TARDE

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