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MUITO

O mundo está ficando velho e nós precisamos falar sobre isso

Confira a Plurais

Por Daniela Castro*

27/10/2024 - 1:00 h
Daniela Castro
Daniela Castro -

O ano era 2016 e Maria Isabel Carvalho lembra como se fosse hoje do dia em que recebeu a primeira notificação do governo depois de se aposentar. A mensagem automática e impessoal que chegava ao celular não a chamava pelo nome, naquele momento ela descobriu que tinha passado a ser apenas mais uma “Prezada Inativa”.

“Na época eu estava com 60 anos e tinha trabalhado durante 40. De repente, me tornei inútil?”, questiona a administradora e a advogada, que transformou aquele incômodo em combustível para desenvolver um trabalho com foco na questão do envelhecimento. Hoje ela está com 68 anos e segue mais ativa do que nunca.

De lá para cá, ela foi cruzando com pessoas que tinham interesse semelhante e a ajudaram a pavimentar o caminho que levou à criação da Rede Inventividade (@rede.inventividade). O coletivo investe em ações que impulsionam a representatividade das pessoas com mais de 50 anos, com foco em saúde, bem-estar e cultura.

Uma dessas iniciativas acontece sempre na terceira quarta-feira do mês na Biblioteca Pública do Estado da Bahia, nos Barris, com acesso gratuito para qualquer pessoa interessada. Curiosa que sou, fui conferir de perto a edição deste mês, realizada no último dia 16, e tive a sorte de bater um papo com Maria Isabel e Jane Carvalho, pedagoga de 60 anos que também integra o grupo.

Elas me contaram que a Rede Inventividade atua principalmente em dois eixos: o incentivo à criação de espaços de convivência e a realização de atividades com foco em arte e criatividade. E, sempre que possível, promovendo a intergeracionalidade, para que pessoas mais jovens possam desconstruir preconceitos e encarar a velhice como algo que também está em seu horizonte.

“Os grupos de convivência são importantes por conta da socialização, para que a vida da pessoa idosa não se resuma ao âmbito da família e ela tenha espaços em que o diálogo é de igual para igual”, diz Maria Isabel. “Arte estimula o autoconhecimento e a autoestima. Na nossa abordagem, a criatividade não está vinculada apenas à criação de produtos estéticos, mas à criação de soluções diante de desafios cotidianos”, emenda Jane.

Os encontros, pesquisas, palestras e oficinas que lotam a agenda da rede são realizados com a colaboração de mais três pessoas – uma psicóloga, um psicólogo e uma produtora cultural – que atuam de forma voluntária, além de parcerias institucionais. O grupo atua em diversas frentes para promover uma visão mais positiva do envelhecimento e lembra que essa missão é de todas as pessoas, o tempo todo.

Por exemplo, cabe a mim e a você repensar e combater atitudes como a infantilização da pessoa idosa ou a pressuposição de que ela é fisicamente incapaz ou intelectualmente inferior. É claro que o passar do tempo impõe transformações ao corpo e à mente, mas julgar ou discriminar alguém por conta da idade avançada não passa de etarismo.

A quem ainda não atentou para a necessidade de tratar as pessoas idosas com respeito, sugiro dar uma olhada nos indicadores mais recentes do IBGE. Os dados revelam que o número de pessoas idosas praticamente duplicou nas últimas duas décadas e, segundo projeções, a população vai parar de crescer em 2041. Em 2070, calcula-se que cerca de 37,8%, ou seja, 75,3 milhões de pessoas, terão 60 anos ou mais no Brasil.

“Os fatos já estavam aí antes de virarem estatísticas. O Censo veio apenas bater o carimbo numa situação da qual já falávamos. Mas as autoridades não tomam consciência disso e não agem porque é algo visto como um problema de médio prazo e a visão é muito imediatista”, alerta Maria Isabel.

Os dados jogam luz sobre a necessidade de pensar em políticas públicas voltadas para essa fatia da população, especialmente as pessoas socialmente mais vulneráveis. Em tese, esse assunto está na pauta da 6ª Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, que será realizada em agosto de 2025, após as prévias municipais, que devem acontecer até março, e estaduais, até junho. Já anotei aqui na agenda para acompanhar!

*Daniela Castro é jornalista, mestra em Cultura e Sociedade e criadora da Inclusive Comunicação. Ela assina a coluna Plural sempre no último domingo do mês.

Dicas Plurais:

Workshop:

Ana Cláudia Arantes, médica especialista em cuidados paliativos, aborda Os 7 pilares para envelhecer bem em três aulas on-line e gratuitas. A programação começa nesta segunda, dia 28, e segue nos dias 30 e 1º, sempre às 9h. Inscrições ndo Instagram: @anaclauquintanaarantes

Cartilha:

A Defensoria Pública do Estado da Bahia criou a cartilha A idade não é um problema, o idadismo sim para sensibilizar a população e combater o preconceito contra pessoas idosas. A instituição distribui a publicação gratuitamente, nas versões impressa e digital. Acesse o site: defensoria.ba.def.br

Série:

Sabe aquela combinação boa de humor e reflexão? Essa é a pegada da série O método Kominsky, disponível na Netflix. Protagonizada por Michael Douglas, a trama acompanha a saga de um professor de teatro e de seu melhor amigo, às voltas com as dores e as delícias de envelhecer.

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