MUITO
O papel da atriz Sibel Kekilli, de Game of Thrones, no feminismo em Salvador
Por Gilson Jorge

Agente às vezes acha a folia aqui longa demais, não é? Pois em algumas cidades alemãs, o Carnaval começa em novembro e segue até 26 de fevereiro, caso de Dusseldorf. Em Colônia, houve até um carro alegórico com um boneco do presidente Jair Bolsonaro rodeado por passistas e árvores carbonizadas, em referência às políticas do governo federal para a Amazônia. Mas, seja no gelo alemão ou no calor dos trópicos, as crônicas carnavalescas não interessam muito à atriz alemã Sibel Kekilli, estrela da série Game of Thrones. De mundos surreais, basta o território fictício de Westeros...
Ela está em Salvador até o mês que vem, como artista residente do Goethe-Institut, mas pouco pisou nos circuitos carnavalescos. “Tenho a mentalidade de Hamburgo”, brinca a mulher que deu vida à personagem Shae, sobre o pouco apego momesco dos habitantes da maior cidade portuária da Alemanha, seu local de residência, onde não se faz essa festa.
Sibel chegou à capital baiana no fim de janeiro acompanhada do escritor e fotógrafo Andreas Daurerer, pensando em desenvolver atividades que ajudem a empoderar mulheres. É uma das fundadoras da ONG Unidas, que conecta virtualmente mulheres da América Latina, Caribe e Alemanha.
Ainda na primeira semana, teve uma reunião de trabalho na Secretaria de Políticas para as Mulheres e soube do plano de abertura da Casa Respeita as Mina no Pelourinho. Uma ligação para o Ministério das Relações Exteriores da Alemanha e, dois dias depois, recebia o OK. O governo alemão financiaria o projeto. “Foi realmente uma decisão muito rápida”, atesta o diretor do Goethe-Institut em Salvador, Manfred Stoffl.
A celeridade do processo é creditada em grande parte ao envolvimento da atriz, que se tornou uma celebridade na Alemanha após as quatro temporadas de Game of Thrones em que apareceu como a amante de Tyrion Lannister (interpretado por Peter Dinklage). E também por sua elogiada atuação em Contra a Parede (Gegen die Wand), filme alemão que lhe rendeu alguns prêmios. “E o fato de eu ser fundadora da Unidas também ajudou”, atesta.
Desigualdade
Do que já conhece sobre a realidade brasileira, Sibel destaca a desigualdade social e o racismo como grandes problemas, que se somam à desigualdade de gênero, comum a todo o planeta, e contra a qual se tornou ativista.
O racismo ela conhece de perto. Filha de imigrantes turcos, sabe o que é ter um status de cidadão de segunda classe. “Agora, sou uma mulher privilegiada, mas sei bem o que é o racismo”, declara.
No dia 19 de fevereiro, enquanto Salvador, Colônia, Dusseldorf e Mainz celebravam a folia momesca, a pequena cidade de Hanau, na Alemanha, chorava o ataque a dois bares frequentados por turcos que deixaram nove mortos. Tiros disparados por um extremista de direita, que depois foi encontrado morto em sua casa.
Sibel assinala que a ascensão da extrema-direita é um fenômeno que existe no mundo inteiro. “É algo que sempre esteve presente, de forma discreta. Agora, as pessoas têm coragem de fazer mais barulho”, afirma a atriz, que declara ter esperança em um mundo melhor. “A gente deve falar sobre essas coisas”, diz Sibel.
No ano passado, Sibel recebeu elogios do escritor George R.R. Martin por seu trabalho de resgate de meninas que haviam sido sequestradas para casamento à força. Autor do livro Crônicas de gelo e fogo, que deram origem a Game of Thrones, Martin escreveu em seu blog: “Não julgue um ator ou atriz pelo personagem... Sibel Kekilli é uma verdadeira heroína”.

Além do apoio à Casa Respeita as Mina, a atriz deve trabalhar até o fim de sua estada em um projeto de construção de monitorias. A ideia é que mulheres que tenham expertise em algumas áreas se disponham a formar outras, mas o modelo ainda não está definido.
Outra ideia é fazer ensaios fotográficos temáticos com mulheres baianas, juntamente com o fotógrafo e escritor Andreas Daurerer.
Essa é a segunda visita da atriz a Salvador. No ano passado, ela esteve por dois dias para o lançamento oficial da Unidas, indo em seguida para Brasília, Bogotá (Colômbia) e Cidade do México com o mesmo propósito.
Sibel conhece pouco sobre a cultura brasileira. Gostou de Cidade de Deus, filme de Fernando Meirelles, e arrisca algumas palavras em português. Mas declara sua vontade de aprender o idioma e se diz aberta a trabalhar em algum projeto audiovisual por aqui.
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