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11/08/2024 às 9:21 - há XX semanas | Autor: Gilson Jorge

MUITO

Palavras de pai

As experiências singulares de cinco pais escritores que se dedicam à literatura infantil e infantojuvenil na Bahia

Alessandro Marimpietri, autor de Quando somos um só e O que é o tempo?
Alessandro Marimpietri, autor de Quando somos um só e O que é o tempo? -

Aos nove anos de idade, Lucca, filho do psicólogo e escritor Alessandro Marimpietri surpreendeu o pai perguntando o que era o tempo. A questão surgiu no final da pandemia, quando o contato social ainda não havia sido retomado e o psicólogo vestiu uma fantasia para participar com o filho de uma festa de aniversário online.

Os dois conversaram sobre os efeitos da pandemia na vida das pessoas e o passar do tempo. "Foi muito impactante, para mim, ver uma criança de nove anos com esse tipo de questionamento", conta o psicólogo, autor do livro O que é o tempo?, lançado pela Editora Solisluna em outubro do ano passado.

Marimpietri é um dos pais que resolveram colocar em um livro respostas às perguntas que os pequenos fazem. E também questionamentos que os próprios adultos têm nas suas relações com os rebentos. E aí as dúvidas iniciais se transformam em livros, seja porque as respostas não haviam sido completamente dadas ou porque podem servir para outras relações entre pais e filhos.

O segundo livro do psicólogo é protagonizado pela mesma família de pinguins navegadores presente no primeiro livro de Marimpietri, Quando somos um só, com ilustrações de Esteban Vivaldi.

"Escrever para crianças é dificílimo e, ao mesmo tempo, incrível. É difícil porque as crianças são críticas, verdadeiras", afirma o psicólogo, assinalando que o público infantil tem a característica de expressar de forma direta o que gosta e o que não gosta. "A gente tem que estar preparado para ouvir as mais variadas perguntas", conta Marimpietri.

Sobre a importância da curiosidade infantil, o psicólogo assinala que grandes invenções da humanidade, desde a penicilina ao avião, saíram de mentes que guardavam algo da criança inquisidora que um dia existiu.

"Os criadores são adultos que mantêm dentro de si o ineditismo da infância, a capacidade de olhar para um fenômeno de uma maneira completamente nova", aponta Marimpietri. O livro tem um QR-Code que dá acesso à canção O que é o tempo?, composta especialmente para a obra por Carmelito Lopes e Letícia Lopes, da dupla Família que Brinca.

Pela mesma editora, o escritor e artista visual hispano-argentino Gusti escreveu o livro Não somos anjinhos, sobre crianças com Síndrome de Down. A obra surgiu a partir da experiência pessoal de Guti, pai de um menino com essa condição genética e que via o filho ser abordado por estranhos como se fosse uma figura angelical.

"São pessoas como as outras, que às vezes estão alegres, às vezes estão tristes, às vezes estão tranquilos e, às vezes, uma tormenta, como toda criança", afirma o escritor argentino, que lançou também o livro Mallko y papá, ainda sem versão em português, que se aprofunda na intimidade da família do artista, mostrando desde o desconcerto com a notícia da síndrome até o amor incondicional ao filho.

Hoje Mallko tem 25 anos e vive com os pais em Barcelona, onde mantêm uma ONG chamada WinDown, voltada para o convívio e desenvolvimento de crianças com Síndrome de Down, autismo e deficiências visual e auditiva.

Para o escritor e dramaturgo ilheense Pawlo Cidade, a inspiração para escrever livros infantis e infantojuvenis vem de um filho, um neto e quatro sobrinhos. "Eles sempre são personagens das minhas histórias. Aprendo muito com eles. Ficam encantados quando descobrem que, de repente, são personagens", derrete-se o autor dos livros As aventuras de João e Maria e O menino que sonhava com dragões, ambos infantis.

Os infantojuvenis são O tesouro perdido das terras do sem-fim (inspirado no filho), O caminho de volta, A batalha dos nadadores, O sequestro dos raios de sol e Mistério na lama negra. "O universo infantojuvenil é mais difícil que o do público adulto. Falar para eles é sempre um desafio. O grande lance é escrever como se escrevesse com eles", conta Pawlo, que ao encontrar o neto de dois anos lhe dá de presente um livro e explica a história.

Produtor cultural há 16 anos, Bruno Cássio Moraes Leal lançou ontem o seu primeiro livro, O travesseiro companheiro, um projeto que surgiu a partir do medo que sua filha Ananda, hoje com 10 anos, tinha de dormir sozinha quando tinha quatro anos de idade. A ideia ocorreu durante a pandemia, enquanto a Guaxe Produções, empresa de Bruno, produzia o livro infantil Casa de vó, de Nairzinha Spinelli.

"Eu pensei: poxa, já plantei uma árvore, já tive uma filha, agora vou escrever um livro", brinca o produtor, que pensou em lançar uma obra útil a outras famílias a partir da sua relação com a filha. "Aí veio a questão dos medos noturnos, de ela não querer dormir sozinha e eu criei uma historinha a partir do que a gente tinha em casa", diz Bruno, que na empreitada contou com o apoio da escritora Emília Nuñez, vencedora no ano passado do Prêmio Jabuti na categoria infantil com o livro-imagem Doçura, feito em parceria com a ilustradora Anna Cunha.

Bruno Leal com a filha, Ananda; ele lançou ontem O travesseiro companheiro
Bruno Leal com a filha, Ananda; ele lançou ontem O travesseiro companheiro | Foto: Denisse Salazar / Ag. A TARDE

Bruno descreve o seu primeiro livro como um abraço ao sentimento de sua filha. "Eu subestimei os medos dela. Os pais têm que estar atentos para esse acolhimento na hora em que a criança diz que está com medo de dormir sozinha", afirma o escritor.

Cada exemplar do livro de Bruno vem acompanhado de um minitravesseiro, conhecido como naninha. "Um primo meu tem uma filha que dorme sozinha com o travesseirinho na casa dela. Não sei se vai funcionar com todo mundo, mas acho que isso vai ajudar um pouco os pais", avalia o produtor.

O filho que eu quero ter

Já o jornalista Bito Teles desejava ser escritor desde criança e aos nove anos escreveu um livro que não foi publicado. Com a chegada do primeiro filho, nascido em Salvador, Bito criou o blog O filho que eu quero ter, produzido entre 2011 e 2013, em que narrava as suas expectativas em relação à paternidade, como, por exemplo, a de transformar o menino Gabriel em um aguerrido torcedor do Bahia. O nome do blog é uma referência à canção homônima composta por Toquinho e Vinícius de Moraes na década de 1970.

No blog, Bito escrevia sobre a preparação para ir ao estádio, a roupa, o estado de ânimo. Mas não deu muito certo. Avesso a xingamentos, o garoto detestou a experiência de um Ba-Vi na Fonte Nova lotada. O menino que preferia ter ficado em casa jogando videogame naquele dia, torce moderadamente pelo time do pai, mas desistiu das arquibancadas.

A estreia literária de Bito aconteceu quando ele morava em Brasília com a família e a sua mulher estava grávida pela segunda vez. "Eu decidi criar algo enquanto aguardava o nascimento, então, eu atribuo a minha carreira à própria paternidade", conta o escritor, autor de sete livros voltados para crianças.

O mais recente, O trovão e o rio, foi lançado no início deste ano pela Editora Story Time, do próprio Bito, e aborda a saudade. Uma forma de lidar com a tristeza de sua filha Lia, quando a família voltou para Salvador há dois anos e a menina deixou para trás a sua rede de amigos em Brasília.

A relação de Bito com a espera de um filho mudou drasticamente quando Lia se preparava para vir ao mundo. Até porque foi uma gravidez de alto risco desde o primeiro mês de gestação. Dessa vez, a única expectativa plausível era que mãe e filha sobrevivessem à gravidez e ao parto.

Saúde

"A gente antecipou os exames para saber o sexo e a escolha do nome, coisas que normalmente podem esperar mais tempo", lembra Bito, que evitou fazer planos de médio e longo prazo para a filha.

Tudo era a urgência do nascimento com saúde. E nesse momento surgiu o livro O menino que aprendeu e ensinou a olhar, produzido às escondidas, como forma de escapar da angústia.

“Atribuo a minha carreira à própria paternidade", diz o escritor Bito Teles, autor de sete livros para crianças
“Atribuo a minha carreira à própria paternidade", diz o escritor Bito Teles, autor de sete livros para crianças | Foto: Uendel Galter / Ag. A TARDE

O livro gira em torno da caminhada de pai e filho em direção à escola e a procura de uma carta de baralho que ajuda o menino a ver o mundo de uma forma que ele nunca tinha visto.

Lia cresceu com saúde, a família se mudou para o Distrito Federal por questões profissionais e a volta para a Bahia anos depois inspirou Bito a escrever O trovão e o rio, uma referência às tormentas no Cerrado, usadas como analogia para explicar a uma criança a necessidade de partir.

"Foi uma forma poética que encontrei de falar da distância, dizendo que a gente troveja muito quando está longe de quem a gente gosta. Quando minha filha estava pequena e sentia medo ao trovejar, eu dizia a ela que o trovão estava querendo falar com alguém", explica Bito, que estimulou a filha a ouvir os trovões e lhe disse que eles estavam com saudade do rio que mora mais abaixo da casa deles.

O escritor afirma que a mudança de eixo na sua vida com a paternidade o ajudou muito em sua produção literária. "Quando a gente escreve um livro, muitas vezes a gente perde a perspectiva de que essa história que a gente está criando tem um fim no outro. E a paternidade ajuda nessa percepção", diz Bito.

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