PERFIL
Paquito apresenta o show Voltei a cantar na Sala do Coro do TCA
Pedro Hijo
Por Pedro Hijo
Um dos primeiros presentes que o baiano Antônio José Moura Ferreira recebeu da mãe foi um violão. Nascido em Jequié, no interior do estado, Paquito, como é conhecido, estava acompanhado do instrumento no primeiro festival de música estudantil que participou, em 1978. "Eu tinha 15 anos e foi como se eu tivesse encontrado o meu lugar", diz o cantor e compositor.
Na próxima terça-feira, 28, Paquito mostra os frutos da relação entre ele e a música no show Voltei a cantar, às 20h, na Sala do Coro do Teatro Castro Alves. "Será um apanhado da minha trajetória".
O som que inspirou a composição da canção entoada no festival estudantil era variado. Em casa, Paquito ouvia as músicas de Roberto Carlos, as cantigas de roda populares cantadas em família, e se encantava pelas ousadias sonoras da turma do Tropicalismo.
Na adolescência, o cantor era extremamente tímido e encontrou conforto no palco. "Em frente ao público, eu me enchi de autoconfiança", conta, se referindo ao acanhamento que o atrapalhava de se relacionar com as pessoas. "Foi a arte que me desabrochou".
A mudança para Salvador, aos 10 anos, foi impulsionada por um negócio familiar. O pai de Paquito tinha uma loja de tecidos em Jequié e viu na capital uma oportunidade para ampliar a empresa. "Todo mundo se mudou para cá", lembra.
Abrir mão da pacata Jequié dos anos 70 para abraçar o caos da cidade grande foi uma mudança e tanto para ele. "Deixar Jequié foi a primeira grande dor da minha vida". A adaptação foi difícil, mas aproximou Paquito ainda mais da música.
O amor pela arte de Caetano Veloso e Gilberto Gil impulsionou a busca pelas referências dos tropicalistas. "Passei a me interessar pelo que eles ouviam, então, fui pesquisar sobre discos das décadas de 40 e 30", diz Paquito. Há quatro anos, ele abriu um canal no YouTube para comentar sobre discos populares antológicos.
Flores do Mal
Na página, o cantor baiano traz resenhas de álbuns como Clube da Esquina, de 1972, e Krig-ha, Bandolo!, disco de estreia da carreira solo de Raul Seixas lançado em 1973. Na lista, ainda estão clássicos dos Beatles, principal influência para a formação da primeira banda de Paquito, a Flores do Mal.
Composta por Paquito nos vocais; Heyder, na guitarra; Eduardo Luedy, no baixo; e pelo baterista Tony, a banda gravou o primeiro LP no começo dos anos 1980. O som da Flores do Mal mesclava rock e MPB e tinha influências variadas como Luiz Gonzaga e Noel Rosa.
"Era um rock, mas um rock tropicalista", aponta Paquito. A banda, que recebeu o Troféu Caymmi na categoria Revelação em 1985, se juntou novamente em 2020 para a gravação de seis músicas inéditas.
O sucesso do grupo levou Paquito a se mudar para o Rio de Janeiro em busca de oportunidades. Na ocasião, virou parceiro do cantor J. Velloso com quem produziu o disco Diplomacia, do compositor baiano Batatinha, em 1998.
"Fomos produzir porque não surgiu ninguém disposto a fazer isso”, conta Velloso em publicação sobre o álbum no site oficial. O cantor explica que o processo de produção do disco foi capitaneado por Batatinha. "Ele não registrava nada, só na memória. Fomos pedindo para ele lembrar as canções com um gravadorzinho, em casa. Acabamos gravando mais de 70 músicas".
Eu e o violão
O retorno para Salvador no fim da década de 1990 marca também um momento importante para Paquito. Depois de um período dedicado à banda, ele estava, novamente, sozinho com o violão. “Era um momento para me reencontrar”, diz. Após o lançamento do álbum solo Falso Baiano, em 2002, o músico seguiu em busca de uma sonoridade mais simples e autoral.
Seis anos depois, lança Bossa Trash, disco que marcou uma estética mais pessoal e semelhante à de outra referência musical de Paquito. “João Gilberto é o meu mestre supremo e eu me identifiquei com o estilo ‘voz e violão’ de fazer música que ele tinha”.
Segundo o jornalista e amigo Claudio Leal, Paquito compõe canções com consciência do que houve de mais importante na música e poesia brasileiras. “Ele é um artista que dialoga com compositores como Caetano e Gil, mas também com poetas concretos como Décio Pignatari e Haroldo Campos”.
É esse conhecimento da história cultural brasileira que favorece a relação entre eles, diz o jornalista. Claudio conta que, por muito tempo, ia nadar no Porto da Barra, na companhia de Paquito. “Mas, com a pandemia [do vírus Covid-19, em 2020], ele passou a nadar pela manhã, então, posso dizer que a faixa de areia fica mais curta sem a presença de Paquito”.
Projetos
Entre os próximos projetos do músico está um álbum em parceria com o cantor baiano Geronimo Santana. “Ele é a Bahia em seu esplendor”, diz Paquito sobre o intérprete de É d'Oxum e Jubiabá. A dupla compôs 12 canções e o disco ainda não tem data de lançamento.
“É um projeto que me anima muito”, afirma Paquito, que se vê, aos 61 anos, mais maduro musicalmente, mas com a mesma paixão pela música que o impulsionou no início da carreira.
O show Voltei a cantar é uma oportunidade para o público revisitar as canções do repertório autoral do músico e clássicos da música brasileira. O nome do show faz referência a uma música de 1937, de Lamartine Babo, interpretada pelo cantor Mário Reis, uma das influências de Paquito. "A canção que dá nome ao show é muito simbólica para mim”, conta. “Ela fala sobre a saudade e a volta ao palco, e é isso que sinto agora".
O lançamento de um disco solo também está entre os planos de Paquito. Será o primeiro álbum de músicas inéditas desde Xará, de 2019. O cenário político atual é uma das influências para as composições do novo projeto.
“Estamos vivendo um momento apocalíptico e de muita reflexão”, comenta, ao ratificar a importância do tempo para o processo criativo de um artista. “Há que se ter tempo para compor, para viver, e até para não fazer nada”.
Serviço
Show: Voltei a cantar
Dia: 28 de janeiro, terça-feira
Horário: 20h
Endereço: Sala do coro do Teatro Castro Alves. Praça Dois de Julho
Onde comprar: Ingressos entre R$ 20 e R$ 40 na plataforma Sympla
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