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10/09/2023 às 6:30 - há XX semanas | Autor: Renato Alban

MUITO

Parada do Orgulho LGBT+ da Bahia: um destino da diversidade

Essa é a primeira Parada de Salvador depois de três anos sem realização presencial por causa da pandemia

Presidente do GGB diz que “Salvador tem se posicionado" para coibir a discriminação contra comunidade LGBTQIAPN+
Presidente do GGB diz que “Salvador tem se posicionado" para coibir a discriminação contra comunidade LGBTQIAPN+ -

Os turistas cearenses Max Lima e Rafael Lopes desembarcaram em Salvador para participar neste domingo, 10, da 20ª edição da Parada do Orgulho LGBT+ da capital baiana. Os dois querem aproveitar o evento para ir a baladas LGBTQIAPN+ e curtir as atrações turísticas da cidade. A Parada é realizada no Campo Grande, das 11h às 21h30, com shows e desfile de trios elétricos, no Centro.

Essa é a primeira Parada de Salvador depois de três anos sem realização presencial por causa da pandemia de Covid-19. O governo da Bahia e o Grupo Gay da Bahia (GGB), um dos coletivos mais antigos e importantes da comunidade no país, pretendem aproveitar a Parada para firmar Salvador e o estado como destinos turísticos para essa população.

O primeiro desfile em prol dos direitos de pessoas LGBTQIAPN+ no Brasil foi em 1997, na cidade de São Paulo. Cinco anos depois, foi a vez de Salvador promover um evento semelhante, com 15 mil pessoas. Na última edição realizada na capital baiana, foram 200 mil participantes, segundo o GGB. A estimativa para este domingo é superar esse número.

De acordo com pesquisa realizada pelo site de viagens Booking.com, Salvador é a terceira cidade mais acolhedora e inclusiva para turistas LGBTQIAPN+ no Brasil. O estudo foi realizado com 11,5 mil viajantes desse nicho. A capital baiana ficou atrás apenas das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.

Para o presidente do GGB e coordenador do Centro Municipal de Referência LGBT, Marcelo Cerqueira, a cidade tem se beneficiado pelas ações do Poder Público nas diferentes esferas para coibir a discriminação contra a comunidade LGBTQIAPN+. “Salvador tem se posicionado no campo da proteção concreta”, afirma Marcelo.

Em 2020, foi sancionada lei que pune estabelecimentos da capital que discriminarem pessoas por orientação sexual ou expressão de gênero com cassação de alvará e multas que variam de R$ 10 mil a R$ 100 mil. No âmbito estadual, uma lei semelhante foi promulgada pelo governo da Bahia no ano passado.

Na esfera nacional, houve a equiparação da pena para homofobia e transfobia à punição pelo crime de racismo em 2019, pelo Supremo Tribunal Federal (STF). E, no mês passado, o STF estendeu esse enquadramento a ofensas à honra de pessoas da comunidade. Dessa forma, esses crimes se tornaram inafiançáveis e imprescritíveis em todo o Brasil.

Carnaval

“Além das leis que protegem a população, existe o fascínio pela nossa cultura”, diz o presidente do GGB. Segundo Marcelo, o principal evento de atração de turistas LGBTQIAPN+ é o Carnaval. Na última edição da festa, cantores que fazem parte da comunidade, como Pablo Vittar, Ludmilla, Anitta e Daniela Mercury puxaram trios elétricos em Salvador.

O bloco Os Mascarados, conhecido pela importância para a comunidade LGBTQIAPN+, foi puxado pela cantora Larissa Luz, que homenageou a ministra da Cultura Margareth Menezes. A artista foi fundadora e cantora do bloco por 10 anos e será homenageada também na Parada deste domingo, que tem como tema a inclusão no mercado de trabalho pós-pandemia.

Para o diretor-fundador do grupo San Sebastian, que promove eventos para a comunidade LGBTQIAPN+, José Augusto Vasconcelos, o Carnaval de Salvador está na melhor fase. “Estamos num momento de auge da festa, com lotação quase máxima da hotelaria, a economia da cidade como um todo está bem satisfeita”. O grupo produz seis blocos no Carnaval de Salvador.

Gerente de membros da Associação Internacional de Viagem de Gays e Lésbicas (IGLTA, na sigla em inglês), Clovis Casemiro afirma que a festa se tornou um evento importante para o público gay masculino de todo o Brasil. “Mas todas as outras letras participam do Carnaval de Salvador”, afirma o profissional.

Clovis explica que, além de atrações de lazer, como o Carnaval e festas, eventos corporativos, como palestras e cursos, têm se destacado no turismo LGBTQIAPN+. Outro ponto de atração de viajantes, diz o gerente da IGLTA, são as Paradas LGBT+. “São fundamentais, é um momento em que as cidades estão abertas para os turistas”.

José Augusto, do grupo San Sebastian, concorda: “A data da Parada LGBT+ tem potencial de atração de turistas e pode vir a crescer bastante”. Para isso, o empresário acredita que é necessário haver uma programação mais extensa, que leve em consideração a agenda da cidade, que, na perspectiva dele, “já é atrativa por natureza para o público LGBT”.

À frente do grupo organizador da Parada em Salvador, Marcelo Cerqueira afirma que o evento da capital baiana já se consolidou como destino turístico. “A gente recebe pessoas do Brasil inteiro, sem falar daqui do Nordeste, que é muito grande. É enorme o número de pessoas que vêm para Salvador se divertir na Parada”.

Com intenção de provocar maior interesse no público jovem, no ano que vem, o evento, que é realizado tradicionalmente no Campo Grande, será transferido para o circuito Barra-Ondina. “Para quem tem 50 anos, o circuito do Centro tem um significado profundo pela luta política, mas a geração nova não vivenciou isso e se identifica mais com a área da Barra”, diz Marcelo.

A Parada deste ano será, portanto, a despedida do Campo Grande. Os turistas cearenses Max e Rafael, que também viajaram para a Parada LGBT+ de São Paulo, vão participar pela primeira vez do evento em Salvador. “Quero aproveitar a viagem para visitar baladas e comemorar o aniversário do meu melhor amigo”, conta Max.

Atrações

Entre os locais de interesse dos turistas desse público em Salvador nos últimos anos está o Boteco do Paulista. Localizado no bairro do Rio Vermelho, o bar tem apresentações de quarta-feira a domingo e, segundo o dono, Vinicius Antoneli, recebe turistas de todo o país. “Já somos uma grande referência não só na Bahia, mas em outros estados”, diz o empresário.

Há um ano, o local que começou exclusivamente como uma pastelaria, abraçou a arte drag e se tornou um bar destinado ao público LGBTQIAPN+. A clientela mudou e a equipe do estabelecimento passou a ser formada por membros da comunidade. Vinicius afirma que viajantes de pelo menos 14 estados do Brasil já visitaram o Boteco.

Com marca consolidada entre a população LGBTQIAPN+, o grupo San Sebastian começou com uma boate de mesmo nome em 2009. Desde então, já promoveu festas em destinos baianos, como Salvador, Morro de São Paulo e Trancoso, em outros estados, como Rio de Janeiro e Ceará, e até em outros países, como a Grécia. No Rio Vermelho, a San Boate segue aberta.

Para o diretor-fundador do grupo San Sebastian, o Carnaval de Salvador está na melhor fase para comunidade
Para o diretor-fundador do grupo San Sebastian, o Carnaval de Salvador está na melhor fase para comunidade | Foto: Rafaela Araújo | Ag. A TARDE

Destinos

José Augusto destaca, assim como Clovis Casemiro, que o público LGBTQIAPN+ não viaja exclusivamente para festas. “Ele viaja como qualquer outro público para curtir destinos paradisíacos com suas famílias e amigos”, diz o empresário. Para ele, além das praias, a gastronomia e a cultura são os principais chamarizes de Salvador.

Titular da secretaria de Turismo da Bahia (Setur), Maurício Bacelar diz que o governo do estado tem investido no turismo LGBTQIAPN+ em todos os eixos do setor. As prioridades, no entanto, são os destinos do litoral do estado, que, segundo ele, são os preferidos dessa comunidade. “Temos feito um trabalho de qualificação e capacitação de profissionais para atender a este público”.

Sócia da agência especializada no público LGBTQIAPN+ Free To Be Travel, Mariana Rago explica que esse trabalho é necessário. Ela conta que já lidou com casos em que os viajantes foram constrangidos por serem gays por fornecedores de serviços turísticos. “Devemos preparar as pessoas para esse atendimento”, pontua.

Apesar das leis já preverem punições para homofobia e transfobia, a Bahia é líder em homicídios de pessoas LGBTQIAPN+ entre os estados brasileiros, com 27 casos no ano passado, de acordo com o GGB. E não é apenas a violência contra essa comunidade que tem se destacado na Bahia. No Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgado em julho, o estado liderou o ranking geral de mortes violentas do país em 2022.

Para os empresários e profissionais do setor, a violência tem afastado os turistas da Bahia, incluindo a população LGBTQIAPN+. “O preconceito pega bastante, mas o principal é a segurança”, afirma Mariana Rago. “Para irem a Salvador, os turistas precisam dessa afirmação de que a cidade é segura”, elabora.

O diretor-fundador do grupo San Sebastian também reclama do sentimento de insegurança em Salvador. “Acredito que esse é o grande problema da cidade”. Dono do Boteco do Paulista, Vinicius afirma que a situação já afeta a frequência de clientes de outros estados no bar: “A falta de segurança está fazendo os turistas escolherem outros destinos”.

Bacelar diz que a Setur tem trabalhado com a Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP) para oferecer segurança aos turistas que visitam os destinos baianos. A sócia da Free To Be Travel aponta, no entanto, que existem outros entraves para o turismo LGBTQIAPN+ na capital baiana: “Em Salvador, não tem hotéis standard [básicos] quatro ou cinco estrelas”.

Mariana pontua que hotéis como o Fasano e o Fera Palace têm atendido ao perfil de viajante com mais dinheiro, mas o setor hoteleiro ainda precisa melhorar. Ela também afirma que a cidade deveria investir na qualidade do atendimento ao turista. “Quando contrato um serviço em Salvador, acho difícil ter segurança de que ele será bem feito”.

Território

O mais importante nesse atendimento aos turistas LGBTQIAPN+, ratifica Marcelo, é que não haja discriminação. Para ele, ainda que existam espaços especializados para esse público, como a San Boate e o Boteco do Paulista, é preciso que a comunidade possa frequentar qualquer lugar: “A gente tem que circular com normalidade dentro de todos os espaços”.

José Augusto, do grupo San Sebastian segue a mesma linha. “A San Boate nasceu num momento em que o público LGBT+ precisava de um lugar só seu. A realidade hoje é outra, apesar da programação ainda ser mais voltada ao público LGBT+, claro”, diz o empresário.

O presidente do GGB destaca que, para a militância, já foi mais relevante ter espaços próprios do que atualmente. “Foi importante para a afirmação do movimento, em um momento de encontrar os iguais, mas o público mais jovem está frequentando todos os lugares, entendendo que a cidade é nosso território”.

MAIS:

O que significa a sigla LGBTQIAPN+?

Lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queer, intersexuais, assexuais, pansexuais e não-binários. O “+” no final da sigla é para indicar a inclusão de mais pessoas que estão excluídas pelos padrões sociais de identidade de gênero e orientação sexual. Esses padrões, segundo estudos da filósofa americana Judith Butler, correspondem à identificação das pessoas ao sexo biológico e à heterossexualidade como orientação sexual. Tudo o que foge dessas normas, explica a pesquisadora, é rechaçado.

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