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OLHARES

Performances agitam o verão na RV Cultura e Arte

Milene Migliano

Por Milene Migliano*

09/02/2025 - 3:00 h | Atualizada em 09/02/2025 - 10:43
Imagem ilustrativa da imagem Performances agitam o verão na RV Cultura e Arte
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A RV Galeria de Arte promove no início do ano mais uma edição de PRONTO, o programa de verão que produz encontros entre artistas representados pela galeria e o público, durante as quartas-feiras, no começo da noite. A programação de Larissa Martina e Ilan Iglesias, a partir de conversas sobre as possibilidades com os artistas, organiza os desejos buscando trazer experiências diferenciadas para as pessoas presentes.

Larissa explica: “Como somos uma galeria contemporânea que representa uma geração de artistas locais que transita de maneira fluida entre desenho, pintura, gravura, escultura, arte têxtil e publicação, a gente precisa investigar com eles quem tem interesse em se experimentar na performance, por exemplo, ou na produção de um mural de grande escala, como o que ocupa a nossa fachada”.

A programação performática para as quatro noites de 2025 trouxe desafios para os artistas, que têm produzido resultados arrebatadores. Na primeira noite, a performance foi do XilinDRAW – Laboratório de Desenho Experimental da Escola de Belas Artes da Ufba, coordenado pelo professor Zé de Rocha, com a participação de seis estudantes: Laís Anjos, Lia Mai, Rayana França, Rebeca Vieira, Juliana Paraguassú e Francieli Xavier.

Ao chegar à galeria, as cadeiras e bancos posicionados contra a porta de entrada chamaram a atenção para o que estava próximo ao centro das atenções: uma mesa de luz com uma câmera sustentada por um suporte sob o vidro. O número de pessoas foi aumentando e a abertura da programação, com algumas palavras de Larissa, deu espaço para o apagar das luzes e uma acomodação de menos da metade das pessoas nas cadeiras – lotação entusiástica.

No centro da parede com a projeção, acompanhada de uma trilha sonora digna de uma experiência cinematográfica, as imagens em preto e branco começaram dar forma para Aparição, produção artística apresentada pela equipe do laboratório, peça coletiva de animação com areia, conhecida internacionalmente como “sand animation”.

Diante da mesa estavam quatro pessoas que, neste primeiro momento, executavam uma coreografia para desvelar paisagens, personagens e formas em preto e branco, que, em sua dimensão lacunar dos sentidos aguçados, abriam um campo imaginativo imenso em cada uma das pessoas que assistiam com toda sua atenção ali depositada.

Depois do primeiro fragmento, foi projetada uma vinheta anteriormente animada, em stop motion, criando o tempo da pausa para organização da próxima execução; outras vinhetas vieram e, cada uma com sua trilha sonora, encadeavam a experiência imersiva. Para que as imagens da mesa de luz aparecessem, punhados de areia eram manipulados, apresentando técnicas de desenho fiéis aos resultados programados pela criação coletiva.

Zé de Rocha expõe sobre a criação sonora dos espetáculos visuais/cênicos apreciados na primeira noite de PRONTO. “Apesar de sermos do campo das Artes Visuais, compreendemos que esse tipo de trabalho transita por multimeios. Além da proximidade com o cinema de animação, também possui características do cinema de artista, do teatro de animação (principalmente, o teatro de sombras e de objetos), da música visual, da performance art. Nesse sentido, a sonoplastia é elemento imprescindível na criação de nossos espetáculos. Cada participante propõe a trilha sonora para seu roteiro, que pode ser produzida das mais diversas maneiras: desde ruídos gravados ou baixados em sites de copyright gratuito, que passam por edição, composições autorais ou parcerias com músicos convidados. Antes de me tornar professor, atuei como músico, então, também componho algumas trilhas”.

Primeira apresentação de XilinDRAW fora da universidade, a avaliação foi extremamente positiva e estimulante para os próximos projetos do grupo, que pode ser acompanhado pelo perfil do Instagram: @xilindraw.

Na segunda noite de PRONTO, a programação performática estava com a artista Milena Ferreira, que foi a responsável pela pintura externa da RV Galeria, a fachada, com a obra intitulada Quintal. Em entrevista, Milena Ferreira explica que o trabalho “é um recorte de uma série minha que se chama Habitar é obra, onde eu faço pinturas em azulejos, pinturas que trago o cotidiano de outras pessoas – pequenas composições do cotidiano. Assim, vou representando as formas de organização e objetos que fazem parte da memória, que constroem a memória afetiva delas dentro de suas casas”.

A artista conta, rindo, que a obra/série circula por vários espaços e que, portanto, “merecia uma atenção maior, de 8 metros de altura”. Em três trechos da fachada, as pinturas fragmentadas de azulejos conectam com a obra referência, assim como os motivos desenhados: carranca, plantas, cadeiras, objetos “do meio do caminho entre o dentro e o fora da casa”.

A porta, como um lugar de passagem e proteção, se conecta com a territorialidade da galeria ocupada pela criação. O desafio da cobertura da área abriu uma nova possibilidade de engajamento artístico, antes trilhado em outras frentes de trabalho por Milena Ferreira.

A terceira noite da programação de verão apresenta a performance com desenhos de dois artistas, Desencontrar nossos relevos mais agudos, George Telles e Marcos da Matta, que desejavam há um tempo voltar para a experimentação da técnica, depois de um tempo sem fazê-lo, diante dos rumos de suas carreiras individuais.

No desenvolvimento dos estudos para a performance, experimentos foram sendo realizados ao longo das últimas semanas no Recôncavo, resultando em um momento de ativações, preparação corporal e descobertas. George Telles conta: “Estamos nos preparando para a performance como quem se prepara para uma brincadeira. Percebemos ao longo desse processo que o que estava em questão para nós era justamente esse lugar do descanso, do prazer do processo… então, nos dedicamos a permanecer nesse lugar ao trazer para a galeria”.

Em entrevista, Marcos da Matta traz mais uma visão para o projeto: “Minha expectativa é que apesar de já estarmos em Salvador, outro território, essa imersão no Recôncavo se mantenha nas nossas musculaturas no momento da performance e estar com alguém que esteve imerso comigo nesse processo ativa a memória e ajuda a trazer de novo e embaralhar também essas paisagens, que é o que eu busco, pois isso torna possível criar novas obras”.

A conexão com o Recôncavo também será ativada com a derradeira noite de PRONTO, com o lançamento e leitura da segunda edição do livro Inês – Pequena Antologia do Passado, da artista, poeta e professora Laura Castro que afirma: “Sempre sinto um pouco a energia de fevereiro no bairro, a festa de Iemanjá, que acabamos de passar; a leitura tem muito a ver com isso, com a louvação de Oxum, que é a Orixá que me acompanha na feitura desse livro.”

O livro de capa vermelha de tecido com uma imagem da moldura do rosto de uma mulher na capa teve a segunda edição (também) impressa entre Cachoeira e São Félix, com o apoio e manufatura de muitos mestres, pessoas e mãos – Mestre Rony Bonn, tipógrafo, e Seu Antônio Nascimento, da gráfica São Felista, por exemplo.

O poema-trama traça uma rota de reverência à tataravó da artista – Inês de Castro – que veio de África e é estabelecida no Recôncavo durante o perverso processo de escravização, marcando esse primeiro trânsito/conexão territorial fundante da trama-poema.

“A leitura cumpre esse papel de fazer essa cerimônia anônima, de fazer, de uma certa maneira, honrar essa e esses ancestrais que caminham comigo nesse livro, honrar a memória, honrar a presença, e não o apagamento, o esquecimento. Fazer esse feitiço-homenagem”, explica Laura Castro sobre sua expectativa.

Seu desafio, de pela primeira vez fazer uma leitura do livro em uma galeria de arte, promete uma performance iluminada por tantas articulações e afetos, de seres viventes e entidades pulsantes, que propiciam o encantador trabalho da artista.

A última performance do PRONTO, com a artista Laura Castro, está programada para o dia 12 de fevereiro e contará também com o happy hour que oferece água, refrigerante e chopp da cervejaria artesanal Mindubier ao público presente na galeria. No espaço expositivo da RV Galeria de arte também é possível entrar em contato como obras dos artistas em outros formatos, diferentes das criações escolhidas para o programa de verão.

*O conteúdo assinado e publicado na coluna Olhares não expressa, necessariamente, a opinião de A TARDE

*Doutora em Arquitetura e Urbanismo, jornalista e integrante da Associação Filmes Quintal

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