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21/02/2021 às 6:02 - há XX semanas | Autor: Maria Clara Andrade*

MUITO

Perspectivas da militância das contradições do debate público sobre o BBB 21

Bruna diz que atitudes dos participantes são mais um “egoativismo” | Foto: Olga Leiria | Ag. A TARDE
Bruna diz que atitudes dos participantes são mais um “egoativismo” | Foto: Olga Leiria | Ag. A TARDE -

Em 2020, a edição do reality show Big Brother Brasil entrou para o livro dos recordes como o programa de televisão que recebeu mais votos do público no mundo, com 1,5 bilhão de votos na disputa entre Felipe Prior e Manu Gavassi.

Enquanto que, naquele ano, a audiência estava dividida entre as “fadas sensatas” e a “tropa do Prior”, em 2021, todas as tribos parecem ter se unido contra um único grupo de vilões, batendo mais um recorde, desta vez de participante com maior rejeição pelo público. O comediante Nego Di saiu da casa com 98,76% dos votos, na última terça-feira, 16, em um paredão triplo.

Nego Di era um dos integrantes do grupo formado pelo rapper Projota, a psicóloga baiana Lumena Aleluia e a cantora Karol Conká. A última foi acusada de tortura psicológica contra o participante Lucas Penteado pelos internautas aqui fora, e a penúltima tem sido duramente criticada por falas consideradas desproporcionais, que utiliza, principalmente, pautas raciais e de sexualidade como base.

Uma dessas falas (“eu não quero ser palco para sua performance”), quando a psicóloga questionou o fato de o participante Penteado ter se revelado bissexual em uma festa após beijar um outro homem, foi considerada o estopim para que o brother optasse por desistir de sua participação no reality.

Como se tudo precisasse do aval de Lumena para acontecer, até mesmo o beijo entre dois homens, a expressão “Lumena não autorizou” virou meme na internet. As falas da participante têm sido colocadas como exemplos de “militância errada”. Mas, afinal, o que seria uma militância errada ou, até mesmo, ser militante?

Processo

Ícaro Jorge tem 23 anos e, desde os 16, participa de movimentos sociais. Começou no movimento estudantil, quando participou da ocupação da reitoria da Universidade Federal da Bahia, em 2016, contra a PEC 241, que propunha restringir os gastos públicos com saúde e educação. A PEC foi aprovada, mas, para Ícaro, isso não o desestimulou, e, a partir de então, iniciou o seu processo no movimento estudantil e na militância pela educação.

Imagem ilustrativa da imagem Perspectivas da militância das contradições do debate público sobre o BBB 21
| Foto: Felipe Iruatã | Ag. A TARDE
Para Ícaro, no BBB indivíduos estão no primeiro plano, e não o coletivo | Foto: Felipe Iruatã | Ag. A TARDE

Ao mesmo tempo, mantinha com um grupo de amigos uma entidade chamada Ocupa Preto, em que promovia rodas de conversas em vários bairros de Salvador e em outras cidades baianas acerca da questão racial. Além disso, ainda com esse mesmo grupo, conseguiu montar um cursinho pré-vestibular social. “Era algo que a gente fazia, mas sem muita organização política e estratégica que os movimentos negros possuíam. Fazíamos as atividades pelas ideias que surgiam, pelos comentários nas redes sociais”, conta o estudante.

Hoje, Ícaro cursa sua segunda graduação e mestrado, está na direção de direitos humanos na União Nacional dos Estudantes (UNE), é conselheiro universitário na Ufba e também ingressou há pouco no Movimento Negro Unificado (MNU). Para ele, a militância relaciona-se muito mais ao coletivo do que ao individual. “Aquele jogo, necessariamente, coloca o indivíduo em primeiro plano, e as pessoas, erroneamente, por falta de informação, ou por falta até de entendimento do que é ser militante, se coloca naquele espaço como um detentor da verdade”, comenta Ícaro, ao avaliar a postura de participantes do BBB.

Diversidade

Para Lara Carina Amorim, 26, microempreendedora e mestranda no Programa de Pós-graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo, existem diversas formas de militância. Ela, que pensa em seguir a carreira acadêmica, já foi vice-presidente da União dos Estudantes da Bahia e participa do MNU, não tão ativamente quanto antes. Agora, quer direcionar a sua militância para o espaço acadêmico. “A academia é um espaço hegemonicamente branco e masculino. Eu, enquanto mulher negra, utilizando referências feministas e negras no meu trabalho, estou desenvolvendo um tipo de militância”, afirma.

Imagem ilustrativa da imagem Perspectivas da militância das contradições do debate público sobre o BBB 21
| Foto: Rafael Martins | Ag. A TARDE
Para Lara, banalização da militância acaba desqualificando luta cotidiana | Foto: Rafael Martins | Ag. A TARDE

Em casa, a discussão política sempre foi muito ativa, mesmo que não fosse de uma maneira partidária ou ligada a algum movimento social. Ao entrar na universidade, Lara passava por um momento de autodescoberta, por ser uma mulher negra de pele mais clara, não era reconhecida nem como negra nem como branca em alguns espaços. “Eu tinha a sensação desse não lugar. Correr atrás desses movimentos sociais foi muito importante para me entender como pessoa, como uma mulher negra”, lembra.

Mesmo defendendo a pluralidade de tipos de militância, Lara concorda com Ícaro que a militância se trata, enfim, de um movimento coletivo e não de movimentos individuais. Ela considera ainda que a banalização da militância nas redes sociais, sendo chamada constantemente de “mimimi”, acaba por desqualificar uma luta cotidiana que ocorre em diversas frentes.

Ativismo

A jornalista baiana Bruna Rocha, 31, doutoranda em Comunicação e Culturas Contemporâneas e fundadora da plataforma Semiótica Antirracista, deu uma entrevista recente para o El País Brasil em que discorre sobre o debate racial e a abertura que as pessoas, aqui fora, estão tendo para serem racistas, por conta do que tem acontecido no programa.

A artista que mais vem perdendo seguidores nas redes sociais e tendo contratos cancelados é Karol Conká. Para Bruna, o cancelamento – termo muito usado no programa para designar quando uma pessoa é submetida a julgamentos pelos internautas – pode ter consequências ainda mais graves para pessoas negras. “O cancelamento, enquanto essa ideia de criminalização, silenciamento, perseguição sistemática, é um fenômeno que a população negra sofre estruturalmente no Brasil”, afirma. No entanto, Bruna também acredita que nenhuma condenação ou coroação sejam eternas.

Partilhando da ideia de pluralidade de militâncias, Bruna também entende que é preciso saber diferenciar o militante do ativista. Com base em um texto do também jornalista Cristiano Rodrigues, Bruna analisa as atitudes dos participantes do reality muito mais como um “egoativismo” do que militância propriamente dita. “É como se a principal mobilização desse tipo de ativismo fosse o fortalecimento da imagem própria”, pondera a jornalista.

Os debates acalorados na internet acabam ainda por impulsionar esse tipo de ativismo tanto para quem está dentro da casa quanto para quem está aqui fora julgando de maneira autoritária, avalia Bruna.

*Sob supervisão do editor Marcos Dias

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