"Precisamos saber usar o sol a nosso favor", diz dermatologista | A TARDE
Atarde > Muito

"Precisamos saber usar o sol a nosso favor", diz dermatologista

Baiana Camila Meccia é autora do livro "Beleza limpa – O que é e como praticar"

Publicado segunda-feira, 01 de janeiro de 2024 às 07:00 h | Autor: Renato Alban
Confira a entrevista completa
Confira a entrevista completa -

Autora do livro Beleza limpa – O que é e como praticar, a dermatologista baiana Camila Meccia participa de um movimento a favor de produtos estéticos sem ingredientes tóxicos para as pessoas e para a natureza. “O caminho é unir beleza e autocuidado, fugindo de padrões pré-determinados pela sociedade e pela mídia”, afirma. Com essa bandeira, a dermatologista lançou uma linha de maquiagem para crianças com ingredientes menos nocivos à saúde humana e ao meio ambiente. “Muitas pacientes e amigas me perguntavam qual maquiagem podiam oferecer aos seus filhos de maneira segura”. Especialista em câncer de pele, Camila também explica nesta entrevista os cuidados com a pele no verão e aborda novos procedimentos contra a doença, como exames já disponíveis em clínicas e hospitais e uma vacina contra o melanoma, ainda em desenvolvimento. Ela se diz uma “dermatologista amiga do sol”, por conta dos benefícios da luz solar na produção de hormônios da felicidade e de vitamina D pelo corpo humano. Mas alerta: “Vermelhidão, descamação ou bolhas aumentam muito o risco de desenvolver um câncer de pele futuro”.

Qual é a definição do conceito de “beleza limpa”, título do seu livro?

A expressão “beleza limpa”, apesar de não ser totalmente definida, nasceu de uma expressão em inglês chamada “clean beauty”, criada por um movimento que valoriza pequenos produtores e que prioriza ingredientes que não sejam sabidamente tóxicos para o ser humano e para a natureza.

No livro, você afirma que é a favor de uma beleza que conecta as pessoas com o interior delas. É possível buscar por equilíbrio quando o assunto são os tratamentos estéticos?

É possível e o caminho é unir beleza e autocuidado, fugindo de padrões pré-determinados pela sociedade e pela mídia e nos aproximando da nossa essência, valorizando nossas características únicas. A medicina e a tecnologia hoje nos permitem envelhecer melhor, com tratamentos que estimulam o colágeno ou renovam a pele, por exemplo. Lembrando também que nossos hábitos se refletem na nossa pele e na nossa beleza. Uma boa alimentação, exercício, bom sono e atividades como meditação são tão importantes quanto os melhores tratamentos dermatológicos.

Você sente uma mudança de relação com a beleza nos últimos anos com o aumento da exposição nas redes sociais? Como você avalia essa relação das pessoas com a internet e a beleza?

Quanto mais conectados com a nossa essência, menos chance de sofrermos más influências das mídias e redes sociais. O autocuidado pode ser um caminho para o autoconhecimento, um momento seu, de se cuidar, se aceitar e se gostar mais. Isso nos fortalece para qualquer influência externa. Grupos específicos como os adolescentes precisam de uma maior atenção, porque estão justamente num período de descobrimento e autoafirmação, mais suscetível a essas influências. A família deve estar junto com os médicos nesse momento.

Há pouco, você lançou uma linha de maquiagem especialmente para crianças, a FadaBella. Como surgiu a ideia?

A ideia veio de uma demanda de mercado. Muitas pacientes e amigas me perguntavam qual maquiagem podiam oferecer aos seus filhos de maneira segura. Eu lia os rótulos, pesquisava, e não achava maquiagens com ingredientes mais limpos para esse público. Hoje, já existem muitas maquiagens para adultos no conceito de “beleza limpa”, inclusive brasileiras, mas nenhuma com o apelo infantil, de vir colorida, com desenhos. Então, a FadaBella é a primeira maquiagem para o público infantil de “beleza limpa” brasileira.

Nas últimas décadas houve diversas campanhas sobre o cuidado com a pele no verão. As novas gerações já estão mais atentas ao uso do protetor solar?

As pessoas hoje em dia já têm uma noção maior dos riscos de câncer de pele e da necessidade de se cuidar. Alguns grupos como esportistas ou pessoas que trabalham no sol devem ter mais atenção. Sou uma dermatologista amiga do sol, pois acredito que o verão nos traz muitos benefícios na produção de hormônios da felicidade e de vitamina D, importantíssima para nossa saúde. Precisamos saber usar o sol a nosso favor, nunca queimando a nossa pele. Vermelhidão, descamação ou bolhas aumentam muito o risco de desenvolver um câncer de pele futuro.

Existe uma série de filtros solares para diversos tipos de pele. Como descobrir qual é o que mais indicado?

Dou preferência aos filtros solares físicos, aqueles com ingredientes menos tóxicos na formulação. Eles podem ser identificados nas embalagens pelas palavras “físico” ou “zinco”. Devemos lembrar também que a proteção solar envolve um conjunto de medidas além do uso do protetor, como usar chapéus, roupas e guarda-sol, procurar sombras, evitar exposição prolongada, especialmente, entre 10h e 15h.

Temos acompanhado o desenvolvimento de alguns procedimentos para a detecção do câncer de pele, como a demartoscopia e o mapeamento corporal digital. Para quem esses exames são indicados? Acha que em breve eles podem ser oferecidos para a ampla população, pelo SUS?

O mapeamento corporal total é um exame que fotografa todas as pintas do corpo, possibilitando comparação futura de imagens e detecção precoce do câncer de pele. Ele é indicado para pessoas com mais de 50 pintas ou pintas estranhas; pessoas muito brancas, com olhos e cabelos claros; e pacientes que já tiverem a câncer de pele ou que têm histórico de câncer de pele na família. Espero que o uso desses exames e os atendimentos dermatológicos se difundam o quanto antes por todo o Brasil. No exterior já existem serviços de diagnóstico por imagem à distância, onde médicos locais examinam e fotografam [as pintas], e as imagens são enviadas para centros especializados orientarem.

Qual é a recomendação para a população em geral? Quais sinais devem alertar a pessoa para um risco maior de câncer de pele?

A população em geral deve se autoexaminar, olhando a própria pele e procurando o dermatologista imediatamente caso ache alguma pinta estranha. Sinais de câncer de pele são feridas que não cicatrizam e ⁠pintas novas ou que mudaram rapidamente de características. Existe um “⁠ABCD” do câncer de pele para avaliar as pintas: assimetria, bordas irregulares, cores múltiplas e diâmetro maior que seis milímetros. Uma consulta para avaliação geral das pintas e da saúde da pele é indicada uma vez ao ano para a população em geral, salvo se houver necessidades específicas.

A farmacêutica Moderna anunciou que está desenvolvendo uma vacina para o melanoma que pode ser disponibilizada nos próximos anos. O que já sabemos desses estudos?

O melanoma é o câncer de pele mais agressivo e tem alto índice de letalidade. Quando ele é diagnosticado em estágios iniciais, é perfeitamente curável com cirurgia. Novos horizontes têm sido trazidos para os estágios avançados dessa doença e a imunoterapia já é uma realidade muito útil. Novos estudos estão sendo finalizados no desenvolvimento dessa vacina com tecnologia semelhante à da Covid-19 [a Moderna desenvolveu uma das principais vacinas contra o coronavírus] com a promessa de reduzir os índices de recorrência e morte da doença. Ela ainda não é uma realidade, mas a expectativa é grande para o seu êxito.

Publicações relacionadas