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Projeto Baleia Jubarte celebra 30 anos de atuação e lança livro

Trabalho realizado pelo Instituto nas três primeiras décadas foi reunido no livro Salvas da extinção

Publicado segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022 às 06:00 h | Autor: Gilson Jorge
Visão espetacular na costa de Salvador
Visão espetacular na costa de Salvador -

Todos os anos, entre julho e novembro, hotéis, pousadas e operadores turísticos que atuam no litoral baiano promovem o turismo de experiência para quem quer conferir de perto a passagem das baleias jubarte, uma encantadora espécie que pode atingir até 16 metros de comprimento e pesar 40 toneladas.

Entre o inverno a primavera, esses mamíferos cetáceos de cor escura deixam a gelada Antártica em uma viagem de 4.500 km, que pode levar mais de um mês, para acasalar, gestar e amamentar seus filhotes. De quebra, oferecem aos humanos um lindo balé a cada vez que emergem do oceano em busca de oxigênio.

Estima-se que haja cerca de 20 mil indivíduos da espécie bailando pelos oceanos do planeta, mas há 30 anos eram muito menos, entre 500 e 800, segundo os pesquisadores, e a espécie esteve seriamente ameaçada de extinção, em função da caça predatória. Uma atividade tão intensa no fim da década de 70 e início da de 80 que, em terra firme, levou a dupla Roberto e Erasmo Carlos a compor a música As Baleias.

No mar da Bahia, sete anos mais tarde, uma outra dupla respondia ao apelo com ação. Uma das iniciativas que permitiram a continuidade do espetáculo da natureza foi o Projeto Baleia Jubarte, iniciado em 1988 pela bióloga Márcia Engel e pelo ambientalista Enrico Marcovaldi, cinco anos depois que a Ditadura Militar, tocada pelo protesto do Rei Roberto, criou o Parque Marinho Nacional dos Abrolhos, no arquipélago homônimo que concentra boa parte das baleias durante sua temporada pelo Brasil.

O trabalho realizado pelo Instituto Baleia Jubarte em suas três primeiras décadas de existência foi reunido no livro Salvas da extinção - A história do Projeto Baleia Jubarte, que está sendo lançado no início deste ano em diversas cidades, juntamente com uma exposição fotográfica.

O livro é uma parceria de Márcia com outro pesquisador que se uniria posteriormente ao projeto, o médico veterinário e consultor ambiental Milton Marcondes, que desde 2002 ocupa o cargo de coordenador do setor de pesquisa do Instituto Baleia Jubarte.

“Muita gente participou, das mais diferentes formas, do engajamento pela causa da conservação”, afirma a bióloga, que deixou o instituto em 2018, quatro anos depois que o Ministério do Meio Ambiente anunciou que a espécie havia deixado a lista de animais em risco de extinção.

O Instituto começou de forma amadora, com uma salinha no antigo Centro Abrolhos, em Caravelas, de onde partiram as primeiras expedições rumo ao arquipélago. O trabalho cresceu com o apoio da ONG WWF, das Fundações Boticário e Natura e o empresário e biólogo paulista Luiz Augusto Farnetani. Mas ganhou uma dimensão muito maior quando recebeu o apoio institucional da Petrobras, em 1996.

“Muitas pessoas olham a estrutura existente hoje, mas não sabem como foi o processo da ocupação da primeira sala, a contratação da primeira bióloga, o primeiro carro. O caminho foi super longo”, lembra Marcia, que destaca o privilégio de ter pesquisado as baleias jubarte, que classifica de “animais interessantíssimos em termos de comportamento e complexidade”.

Grandes asas

As baleias jubarte foram reconhecidas pelos cientistas no litoral dos Estados Unidos da América, na região conhecida como Nova Inglaterra. Em função das suas extensas nadadeiras peitorais e do local da descoberta, receberam o nome científico de Megaptera noavengliae – as grandes asas da Nova Inglaterra”.

Mas a grande ocorrência dos animais no Atlântico Sul e a base que eles estabeleceram em torno de Abrolhos acabaram por torná-los presença constante no litoral baiano. Quem nunca viu um desses mamíferos gigantes se exibindo em uma praia do estado que atire o primeiro mapa mundi.

A concentração das baleias no litoral brasileiro e a sua recuperação demográfica impulsionaram no país o Whale Watching, prática de observação das baleias em excursões de barcos desenvolvida em mais de 100 países, segundo o Instituto Baleia Jubarte.

No Brasil, desde 1988 existem as chamadas “Normas de avistagem”, que estabelecem sete proibições para quem quer transformar a estadia das baleias por aqui numa espécie de BBB marinho. Pelas regras, por exemplo, os barcos devem se manter a pelo menos 100 metros de distância do animal mais próximo do baleal.

“As jubarte eram raras e restritas a Abrolhos. Hoje você quase tropeça, entre aspas, em uma baleia quando sai de barco na temporada. Eu mesma não acreditava que o resultado ia ser tão bonito”, afirma a bióloga.

Para Milton Marcondes, a baleia-jubarte é um exemplo de sucesso de uma espécie que esteve à beira da extinção mas que agora nada ao longo de toda a costa. “Isso mostra que com esforço e embasamento científico é possível conservar a natureza. Essa é uma história que merecia ser contada e que traz um pouco de esperança para o atual momento que estamos vivendo", declara Milton.

O Projeto Baleia Jubarte tem sedes na Praia do Forte e em Caravelas, na Bahia, e outra em Vitória, no Espirito Santo. Entre as atividades desenvolvidas estão pesquisa científica, turismo, educação ambiental e conservação.

A exposição fotográfica relacionada ao livro estará disponível até esta segunda, 21, no Espaço Baleia Jubarte, na Praia do Forte; de 22 de fevereiro a 6 de março no Shopping Paralela; de 9 a 20 de março no Museu Náutico da Bahia, no Farol da Barra; e de 22 a 31 de março no Salvador Norte Shopping. Depois, segue para as cidades baianas de Itacaré, Porto Seguro e Caravelas, Vitória (ES), Rio de Janeiro (RJ) e Ilhabela (SP).

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