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08/05/2022 às 6:03 - há XX semanas | Autor: Gilson Jorge

CULTURA

Projeto registra cânticos para o orixá do meio ambiente

Iniciativa de Ekedy Sinha tem a produção da diretora Isa Trigo

A grafia Ekedy Sinha foi adotada para as atividades artísticas, separando a atuação cultural da vida religiosa e social
A grafia Ekedy Sinha foi adotada para as atividades artísticas, separando a atuação cultural da vida religiosa e social -

Nascida dentro do Terreiro da Casa Branca, em 1945, como Gersonice Brandão, a Ekedy Sinha costuma dizer que as pessoas de santo foram os primeiros ambientalistas do mundo. Não há Candomblé sem folhas, sem água doce, e para reverenciar os orixás é preciso estar perto da natureza.

A grafia Ekedy Sinha foi adotada para as atividades artísticas, separando a atuação cultural da vida religiosa e social que cabe a uma equede, “zeladora e porta-voz do orixá” , como ela diz. Sinha, 76, veio ao mundo exatamente um século depois que a Casa Branca se instalou no matagal que, décadas depois, seria conhecido como Avenida Vasco da Gama.

E a sua preocupação pessoal com a preservação ambiental reflete a necessidade de conservação dos saberes ancestrais que eram praticados pela comunidade da Casa Branca em 1830, na Barroquinha, de onde o terreiro foi expulso pelas autoridades do Império do Brasil, após a Revolta dos Malês (1835).

Essa inquietação ecológica foi a base do projeto Na seiva da voz, que resultou na gravação, por parte da ekede, de 15 cânticos religiosos de conhecimento público em homenagem a Ossaim. "É o orixá representante do meio ambiente", declara Sinha.

Sassanha

No Candomblé, cada orixá tem suas próprias folhas sagradas, mas Ossaim é o detentor do conhecimento sobre todas folhas. Também é conhecido por outros nomes, inclusive Sassanha e Ossanha, usado por Baden Powell e Vinícius de Moraes ao comporem o Canto de Ossanha.

O trabalho, em parceria com a A atriz, diretora teatral e pesquisadora Isa Trigo, foi feito durante o programa de residência artística no Instituto Sacatar, na Ilha de Itaparica, durante o mês de abril.

As duas, que se conheceram em 2014, na Casa Branca, e se tornaram amigas, chegaram a cogitar, como projeto de residência, a elaboração de um panfleto de conscientização ecológica. Mas ao ouvir o canto suave de Sinha, desse cantar que é uma forma de oração, Isa sugeriu uma sessão de gravação com cânticos religiosos.

"Nesse ritual, há uma rara beleza estética e sagrada, e é a parte do canto que pretendemos registrar, não de forma religiosa, mas cultural e artística", afirma Isa.

No projeto apresentado ao Sacatar, Sinha descreve Ossaim como o dono das folhas e o dono do mistério. As folhas são o pilar da religião e da cultura que tem na Casa Branca um dos mais antigos representantes do país.

A equede descreve a energia de Ossaim como especial, curativa e litúrgica: "Cantar Sassanha – ou cantar as folhas – significa cantar para as folhas que serão utilizadas e ofertadas para cada orixá e para todos; em rituais de confraternização, de agradecimento e de preservação”.

Os cânticos de Sassanha, apesar de não serem proibidos fora dos rituais, são pouco conhecidos do grande público.

Para registrar o material, as duas convidaram a fotógrafa Lia Cunha, o artista multimídia João Milet Meirelles e o músico Jair Rocha. Os arquivos podem dar subsídio a futuros projetos artísticos em diferentes linguagens. "Eu mesma sou da área de teatro e pode ser que esse material inspire uma peça, mas ainda não há nada definido", afirma Isa.

Sinha, por sua vez, ressalta que, no tempo do Candomblé, não há pressa para que as coisas aconteçam. "Agora é pensar no que vai ser melhor. É uma coisa que tem muito compromisso, não é só fazer por fazer. Nós cultuamos os elementos da natureza, não é só cantar por cantar", pontua.

Um dia, acontece

A pressa para que as coisas aconteçam não é uma característica de Sinha ou da religião. Em 2010, ela participou de uma sessão de gravação de músicas religiosas na Ilha do Sapo, estúdio de Carlinhos Brown, para o que seria um CD com canções da Casa Branca. Mas ainda não foi materializado. "Um dia, acontece", diz a equede.

Sinha entrou no Sacatar, pela primeira vez, em 2019, com o projeto No corpo também se lê. O projeto se transformou em um livro homônimo, ainda não publicado. Em 2018, Isa fez residência, com o projeto Histórias de sereias em Ponta de Areia e alhures, que resultou na peça teatral Me calarei para você em todas as línguas da terra, apresentada no Teatro Gamboa, em 2019 e 2020, sob a direção de Maria Millet, e no livro Protocolo das águas, também ainda não publicado.

Sinha descreve o Sacatar como um local mítico, perfeito para trabalhar e deixar as coisas fluírem: "É um local em que se ouve a voz do silêncio". A religiosa publicou em 2016 a biografia Equede - A Mãe de Todos, assinada pelo jornalista Alexandre Lyrio e pelo designer Dadá Jaques, que também participou da gravação do disco inédito da Casa Branca.

O livro conta episódios como a participação da jovem Gersonice nas manifestações contra o regime militar, instalado no Brasil depois do golpe de 1964, e a sua confirmação no cargo do candomblé aos 25 anos de idade, antes mesmo que ela desse à luz seus quatro filhos biológicos.

Esta semana, Sinha voltou para a Casa Branca para exercer as funções de Equede, em assuntos religiosos mas também sociais: cuidar das questões administrativas do santuário, organizar a lavagem das roupas, apresentar as demandas de Oxóssi à Ialorixá. A vida para a qual foi escolhida quando ainda tinha sete anos de idade.

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