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28/07/2024 às 7:36 - há XX semanas | Autor: Pedro Hijo

ABRE ASPAS

Psicóloga infantil fala sobre cultura de famílias superprotetoras

Dani Rita diz que o uso excessivo de aparelhos como celular ou tablet pode influenciar negativamente

Dani Rita, psicóloga infantil
Dani Rita, psicóloga infantil -

Em meio ao processo chamado em estudos acadêmicos de “hiperdigitalização da sociedade”, profissionais de saúde têm debatido sobre o impacto das telas no desenvolvimento de crianças, especialmente até os seis anos de idade. De acordo com a psicóloga infantil baiana Dani Rita, o uso excessivo de aparelhos como celular ou tablet pode influenciar negativamente o desenvolvimento social e cognitivo da criança. Pode, por exemplo, ampliar problemas como falta de atenção, ansiedade e irritabilidade. Para os pais, encontrar um equilíbrio no uso de telas é um desafio constante. No entanto, para a psicóloga, é crucial que os tutores encontrem alternativas que permitam à criança ter momentos de qualidade sem depender da tecnologia. A psicóloga também fala nesta entrevista para A TARDE sobre impactos do divórcio dos pais na criação dos filhos e sinais de dificuldades emocionais que eles podem vir a ter pelos conflitos dos responsáveis.

Como que o uso excessivo de telas pode influenciar no desenvolvimento infantil?

O uso de telas afeta as relações, principalmente. Estamos numa era digital e vivemos um momento em que as crianças estão mais dentro de casa, então, elas são mais absorvidas por esse universo tecnológico, naturalmente. É difícil pensar em um mundo sem telas. Mas, expor uma criança de forma precoce a um celular, televisão ou tablet prejudica ainda mais esse desenvolvimento porque, na primeira infância, a criança está num momento que não tem muita ideia do que fazer com aquilo. Muitas vezes, ela acaba consumindo um conteúdo que não está pronta para consumir. Com a tela, é possível notar problemas clássicos, como a falta de atenção, o excesso de irritabilidade, de ansiedade. Algumas vezes, faço testes dentro do processo terapêutico. Eu convido a criança para jogar um jogo no computador, uma criança maior, que já tem acesso a esse mundo. E no momento que a criança está ali naquele jogo, ela muda completamente. É impressionante. Ela fica mais irritada, mais acelerada, ela fala palavras que normalmente não falaria, termos inclusive mais pesados para aquela idade.

De que idade você trata quando fala sobre essa precocidade do uso de telas?

Estou falando de crianças na primeira infância, entre o nascimento e os seis anos de idade. Essa é uma fase em que o sistema neurológico está completamente em desenvolvimento, em que essas crianças estão aprendendo sobre como se relacionar socialmente e entendendo as emoções.

Muitos pais, especialmente os de baixa renda, que precisam sair para trabalhar e delegam a educação dos filhos para vizinhos ou parentes, não conseguem monitorar o uso de telas. O movimento anti telas [com ações estimuladas por campanhas nos EUA e Reino Unido, como a Wait until 8th e Smartphone Free Childhood, para a diminuição da exposição de crianças a telas de eletrônicos] ainda faz parte de um nicho privilegiado?

Com certeza é privilégio porque a sensibilidade a esse tema ainda não é para todo mundo. Mas há outro lado que é importante discutir: antes das telas, essa mãe que precisava sair para trabalhar deixava o filho brincando na rua. Essa criança ficava no mundo, aprendendo a se relacionar com as pessoas que estavam em torno dela. Hoje, essa criança tem a tela de um vizinho, tem a tela de um colega, tem a tela de um amigo. Muitas famílias de baixa renda acabam proporcionando a tela também para as crianças, mesmo abrindo mão de outras coisas, de outras necessidades, até mais importantes, obviamente. É o celular que está mais próximo dessas pessoas, muitas vezes sem monitoramento, o que eu acho muito mais perigoso. Porque, neste caso, as crianças têm acesso a conteúdos muito mais baixos, às vezes até do que a própria rua pode estimular.

Existe algum tipo de equilíbrio no uso de telas?

O fato é que estamos muito imersos na tela e é muito difícil dizer não para o filho quando você é um pai que está diante de uma tela de forma sobrecarregada. Tem pais e mães que chegam para mim com dúvidas. Questionam dizendo que dar o celular para uma criança é ruim, mas, se não der é ruim também porque todos os coleguinhas já têm e o filho sofre por não ter. Eu me lembro de um paciente que me disse que os pais dele não queriam que ele ficasse no celular ou no videogame, mas que quando ele ia brincar, reclamavam de tudo que ele fazia. “Não pode brincar porque quebra os objetos da casa”, “não vai para lá porque é perigoso”, “não corre porque cai”. A gente vive uma cultura de famílias superprotetoras.

A solução talvez seja oferecer tempo de qualidade?

Sim, mas o lazer da maioria das crianças que vivem em centros urbanos é visitar um shopping center. É mais trabalhoso para os pais levar uma criança para a praia ou para um parque, porque nessas situações é preciso se conectar com aquela criança. Quando eu ofereço a tela para meu filho, eu não preciso me conectar com ele, dar atenção, perder esse tempo. É preciso disponibilizar para a criança momentos com outras crianças, momentos ao ar livre, com a natureza, situações em que possa explorar o desenvolvimento dela, que não seja apenas de forma passiva numa tela.

Quais são as possibilidades além da tela?

Eu gosto de dizer que a gente precisa trocar a culpa por responsabilidade. Não vai ter jeito, então, ofereça a tela quando for importante oferecer. Mas, também, ofereça para essa criança outras perspectivas de aprendizagem e de desenvolvimento. Jogar jogos de tabuleiro com a criança, conversar com ela, brincar com coisas que estimulem a parte motora e mental, em família, juntos. Alguma coisa que possa oferecer para essa criança possibilidades que vão além da tela. É um grande desafio, sem dúvidas.

Há alguns anos, a atriz Luana Piovani tem usado a internet para fazer críticas ao pai dos filhos dela, que supostamente não corresponde aos deveres de um genitor. Ela recebe o apoio de muitas mães que passam por situações semelhantes, mas também há muitas críticas de quem acredita que isso pode causar traumas aos filhos. Qual é a sua opinião sobre isso?

Eu entendo que esse não é um problema para a criança. Isso faz parte do social. Pais que cobram um ao outro é algo natural e aí, quando parte para a internet, isso acaba aparecendo de forma ampliada. Mas não é algo que vai trazer trauma para o filho. O trauma surge da relação, não da cobrança por responsabilidade entre pais. Eu acho que o pior, o mais problemático, é a mãe que faz perfil no Instagram para o filho e posta fotos dessa criança. Publica o dia a dia desse filho, mostra essa criança se comportando, chorando, fazendo birra. Essa exposição realmente torna a criança vulnerável. Porque é uma exposição de uma pessoa que não tem capacidade de dizer se aceita ou não ter sua imagem publicada.

Mães costumam expor mais os filhos na internet do que pais?

Sim. Porque o acesso à rede social e a esse tipo de conduta de mostrar o filho como troféu é muito mais feminino ainda. Justamente porque essas mães precisam mostrar que exercem uma grande maternidade, que elas são mães incríveis para essa sociedade julgadora e que cobra isso delas. A segurança que uma criança tem não está baseada no fato de os pais estarem casados, mas no respeito mútuo entre eles e na relação com essa criança. O que eu percebo que Luana Piovani faz é cobrar uma responsabilidade do pai, o que é diferente de dizer coisas contra ele de forma gratuita. Se ela não está conseguindo fazer pessoalmente, ela vai para a rede social e faz. Muitas vezes, as crianças são usadas para que um pai atinja a mãe e vice-versa. Acontecem absurdos, coisas que eu ouço dentro do consultório. Certa vez, uma mãe relatou que estava discutindo com o pai no meio da noite, e ele acordou o filho de seis anos de idade para presenciar a discussão. Isso é traumatizante, isso realmente gera trauma. Se eu falo mal de uma mãe ou de um pai para uma criança, eu estou automaticamente falando dessa criança também. Porque o pai e a mãe fazem parte dela.

Como identificar se uma criança está enfrentando dificuldades de ordem emocional relacionadas à separação dos pais?

O comportamento da criança muda e, muitas vezes, ela tem prejuízo no desenvolvimento. Uma criança que costuma ser doce, que se comporta razoavelmente bem, e começa a ficar agressiva, impulsiva e reativa, pode estar passando por alguma questão. Essas mudanças de comportamento bruscas, que a gente não espera, deixam transparecer o que essas crianças estão sentindo, o que elas estão vivendo. Outro ponto a ser notado é se a criança adoece de forma mais recorrente. Principalmente com doenças dermatológicas, porque a pele é um órgão diretamente ligado ao Sistema Nervoso Central. Se existe um sofrimento declarado, como o de um casal que está se separando, que está em conflito, é possível entender que essas consequências têm a ver com essa razão.

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