MUITO
Reabertura do Museu da Misericórdia é um presente para Salvador
Coluna Olhares
Por Celso Cunha Neto, arquiteto e artista visual
No dia 16 de dezembro de 2024 , sem alardes, Salvador recebeu um grande presente cultural, que foi a reabertura do seu Templo das Musas, o Museu da Santa Casa da Misericórdia da Bahia, totalmente reformado.
Nesse mesmo dia, houve o lançamento do livro Santa Casa da Misericórdia da Bahia, quando palavra é ação, do escritor baiano Antonio Risério e também a abertura da exposição O cotidiano lírico, que apresenta uma seleção de obras de Floriano Teixeira, com curadoria da museóloga e historiadora Simone Trindade. A mostra ficará aberta ao público até o dia 20 de fevereiro de 2025.
Neste mês de janeiro de 2025, a Santa Casa comemora 476 anos de existência, sendo a terceira Santa Casa mais antiga do Brasil e 41 anos mais jovem que sua matriz em Lisboa.
O Museu da Misericórdia encontra-se instalado no belíssimo prédio da Santa Casa de Misericórdia da Bahia, sendo um dos principais centros culturais da Bahia. Construído no século XVII, na condição de patrimônio histórico pelo Iphan desde 1938, a edificação é de grande importância histórica e cultural.
Fundado em 2006 pela Santa Casa, o museu encontra-se no Centro Histórico de Salvador, ocupando um belo imóvel que, originalmente, foi o primeiro hospital da cidade de Salvador, construído pela Santa Casa.
Com acervo estimado em 3.874 peças, composto de alfaia, mobiliário, pinacoteca e imaginária, esses itens datam do século XVII à contemporaneidade, documentam nosso rico patrimônio histórico cultural de 476 anos.
Assim, o Museu da Misericórdia desempenha sua função precípua na conservação e valorização do patrimônio artístico e cultural da Bahia e do Brasil. Um museu que nasceu espontaneamente quando os religiosos da Igreja da Misericórdia deram-se conta que tinham em mãos um acervo vasto e valiosíssimo que datava do século XVII.
Daí iniciou-se o trabalho de inventariar, selecionar e, sobretudo, encontrar onde abrigá-lo adequadamente – problema que foi perfeitamente solucionado com a eleição do belíssimo conjunto arquitetônico da Igreja da Misericórdia. Nos anos 60, A Santa Casa da Misericórdia da Bahia decidiu tornar disponível aos olhares da população o seu belo e rico acervo.
Ao chegarmos ao Museu, observamos um item que foi doado recentemente pela família Lanat, o primeiro automóvel da Bahia. Logo mais está o amplo, moderno e confortável foyer e salão de recepções do museu que se interliga com um auditório de porte médio e dotado de confortáveis poltronas e estrutura adequada.
A reforma contemplou melhorias no atendimento aos visitantes, como a criação de novos espaços expositivos, o Auditório Baía de Todos-os-Santos, com confortáveis cadeiras para 100 pessoas, além de seu foyer com painel de led no 1º subsolo. E também a completa restauração da Capela Nossa Senhora da Misericórdia, no térreo, e seu belíssimo teto artístico e forro com 45 painéis de pintura e a abertura da sala do baixo coro e do alto coro.
O imponente palacete do século XVII é um dos mais importantes registros da História da Bahia e do Brasil. Nos seus espaçosos e bem cuidados corredores e salões, respira-se uma atmosfera que reconta eventos de saúde, políticos e sociais da cidade de Salvador. O conjunto arquitetônico já abrigou o Hospital da Caridade, primeira unidade de saúde do estado, iniciado no mesmo ano de nascimento da cidade de Salvador, 1549.
O acervo possui obras que documentam materialmente parcela importante da história do estado e do Brasil. Destacam-se a cadeira feita exclusivamente para a visita de D. Pedro II, em 1859, e a escrivaninha de Ruy Barbosa, quando era funcionário da Santa Casa da Misericórdia da Bahia.
Esse acervo é composto de 3874 mil peças catalogadas, abrangendo um período histórico da Bahia de quase 500 anos. Adentrando um dos grandes e imponentes salões do Museu, somos recepcionados pela série de painéis de azulejos portugueses, que retratam a Procissão do Fogaréu e a Procissão dos Ossos.
No salão dedicado a inúmeros utensílios e objetos da Farmácia, encontra-se exposto um armário de 1867, exclusivamente construído para armazenar frascos com substâncias farmacêuticas do Hospital da Caridade. Nesse salão há também uma réplica da primeira Roda dos Expostos do Brasil, implantada pela Santa Casa da Bahia, em 1734, que faz parte da coleção de objetos de arte do acervo.
Uma forma de pensar costumes e hábitos da antiga Bahia e Brasil são expressos por meio dessa rica coleção de objetos do cotidiano da época com painéis de azulejaria e pintura, fantásticos entalhes em madeira e em Liós, telas Alfaias e um vasto mobiliário e imaginárias. Disponibilizados agora para um público diverso através de ações socioculturais e educativas, promovidas pelo Museu.
Além do grande acervo museológico, conta também com um grande salão para exposições e eventos temporários, com fabulosa vista para a Baía de Todos-os-Santos e uma galeria de Arte Moderna, onde mantém uma rica mostra do seu acervo de obras de artistas baianos, como Mário Cravo Júnior, Juarez Paraíso, Juracy Dória, Maria Adair, Bel Borba, entre outros.
Quanto ao estilo arquitetônico, observa-se a predominância do Barroco, do Rococó e do neoclássico, entre seu patrimônio imóvel e móvel. Em relação às melhorias depois da grande reforma, foi instalado um elevador, atendendo ao quesito acessibilidade, já que o Museu conta com quatro pavimentos. Foram devidamente reformadas duas salas técnicas no 2º Subsolo, o anexo administrativo, a copa e as salas de exposições temporárias no 1º subsolo e no térreo. Sanitários para PCDs foram construídos atendendo às normas assim como a reforma dos sanitários dos funcionários.
Ademais, foram reformadas as salas multiuso, a sala de restauração e a da coordenação, assim como o escritório da administração e almoxarifado, localizados no térreo. O terraço ao ar livre foi totalmente requalificado. A escada que leva ao campanário foi reconstruída.
Dentre os serviços de infraestrutura, reforma da sala da subestação, instalação de um gerador novo e uma ampla sala de climatização. A grande fachada foi totalmente pintada e a edificação recebeu novas instalações hidrossanitária e elétrica, com cabeamento estruturado.
Enfim, temos em nossa cidade um Museu dotado de um dos mais ricos acervos de obras que preservam e traduzem nossa história, um exemplo da competência baiana em museologia e administração dos nossos bens culturais, através da Santa Casa da Misericórdia, referência de 476 anos.
Um Museu que vale a pena ser conhecido pelos baianos, uma obra que nos enche de orgulho por ser equivalente aos melhores e maiores Museus do mundo. Uma verdadeira aula que o nosso passado nos dá. Não podemos perder a oportunidade de aprender com essa rica herança.
*O conteúdo assinado e publicado na coluna Olhares não expressa, necessariamente, a opinião de A TARDE
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Cidadão Repórter
Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro
Siga nossas redes