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METAVERSO DAS ARTES

Realidade virtual passa a fazer parte das exposições do Goethe-Institut

Por Bruna Castelo Branco

13/12/2021 - 7:20 h

Quase em 2022, talvez já não seja mais necessário comentar tudo o que a pandemia tirou – e vem tirando – de nós: estar perto de pessoas que amamos, pessoas que amamos, passear sem medo por aí, sair para tomar um café com bolo sem pensar “será que tem mesa ao ar livre?”, ir a cinemas, teatros, museus, ver arte.

E aí, como já vimos acontecer em outros momentos históricos de crise, algumas tecnologias foram desenvolvidas para nos ajudar, nem que seja só um pouquinho.

Uma delas, que até já existia antes, é o agora bem famoso metaverso – não é, Mark Zuckerberg? E foi assim, com essa tecnologia em mãos e muita vontade de fazer acontecer, que o Goethe-Institut Salvador ganhou um espaço todinho dele no metaverso – que é, aliás, um mundo inteiro feito de gráficos, dentro de uma realidade virtual.

O Goethe-Institut Salvador, como explica o coordenador de programação cultural da instituição, Leonel Henckes, foi o primeiro Goethe a levar o prédio inteiro para o metaverso – o prédio mesmo, amarelinho, com recepção e tudo, daquele jeito que a gente conhece.

Mas, antes de chegar lá, o instituto chegou a tentar outras tecnologias, como exibir fotos de obras em uma plataforma ou usar vídeos, por exemplo. Só que ainda parecia faltar alguma coisa.

“No ano passado, quando a pandemia se instala, a gente começa a pensar em uma programação cultural digital, e aí começamos a experimentar um milhão de possibilidades. Fizemos três exposições digitais, mas sempre havia aquela sensação de que tinha algo incompleto, porque você acaba tendo só um site com fotos”, explica.

E aí, veio o metaverso: o usuário, sem precisar criar um login, coloca o nome, escolhe um avatar (e tem para tudo o que é gosto, viu? Urso panda, raposinha, robô, pato e pessoinhas também) e pronto: já está dentro do Goethe. Para chegar lá, só digitar goethe.de/temporao.

A plataforma, que é gratuita, consegue receber 25 pessoas simultaneamente, 24h por dia. Como ressalta Leonel, a experiência é divertida, como se fosse um jogo de simulação mesmo, tipo o velho Second Life.

Chegando lá, quem quiser deixar o microfone aberto, vai poder passear e conversar com outros usuários que estiverem na hora. Se não quiser papo, basta seguir aquela velha tática que a gente já gosta: desliga o microfone e sai correndo toda vez que alguém chegar perto. É imitar a vida que a gente quer? Então, vamos de vida real!

Obras de Uýra Sodoma vistas na plataforma goethe.de/temporao, em que é possível interagir
Obras de Uýra Sodoma vistas na plataforma goethe.de/temporao, em que é possível interagir | Foto: Felipe Iruatã | Ag. A TARDE

Diálogos com a natureza

Quem aparecer por lá agora, tanto presencialmente quanto virtualmente, pelo metaverso, vai encontrar a última exposição do ano, Temporão, feita com curadoria de Tiago Sant’Ana.

São obras de dez artistas brasileiros e estrangeiros, que estabelecem, a partir da própria arte, um diálogo com a natureza: as folhas, os rios, a terra, os orixás. Tem fotografia, vídeo, pintura, lambe e performance, todos unidos sob um único e extenso tema: o mundo em que habitamos.

“Essa curadoria tenta refletir o tempo de agora, que é o tempo da consciência sobre a necessidade da preservação do planeta, mas também sobre como há grupos, comunidades, como as indígenas, que têm sido dizimadas em suas próprias terras. Justamente pessoas que, tradicionalmente, cuidam da preservação da natureza”, aponta o curador.

Um dos artistas da mostra, Dyo Cutt, que veio do Rio Grande do Sul para o programa de residência do Goethe-Institut Salvador, viu nas folhas grandes da cidade a possibilidade de fazer arte.

“Aqui, a primeira coisa que percebi foram as folhas das árvores, que elas eram maiores do que no Sul. E aí, logo depois conheci mais o lambe-lambe, e comecei a fazer essas experimentações usando as folhas de árvore”.

A folha utilizada por Dyo na obra Último sopro foi a da Noni, traz os dizeres “Ewé O!”, “oh, as folhas”. E, como um material vivo, ela se modifica a cada dia. “Ela vai morrer. A gente já está na segunda semana de exposição, e ela já está seca, distorcida, mas ela começou verde, viva. E ela também vai morrer, assim como as outras folhas”, comenta o artista. Por isso, todos os dias, desde que a mostra começou, Dyo fotografa a obra e cola a fotografia na parede ao lado. Assim, a transformação da folha fica ali, documentada: “Traz uma ideia do que é que fica e do que vai embora”.

Na versão do metaverso, porém, a obra está ali novinha, do jeito que foi exposta no primeiro dia. Então, fica o aviso: para ver a folha murchando e as fotos com as transformações pelas quais ela passou coladas na parede, por enquanto, é preciso ir ao instituto pessoalmente. Afinal, a obra é viva e se modifica a cada segundo – e o metaverso ainda não chegou lá.

Outra artista que também participou da residência no instituto e está na Temporão é a fotógrafa Vitória Leona, do Pará. Com a obra Fenda do tempo, que traz pedaços de troncos e suas linhas, algas, água e raízes, Vitória pratica o ato de olhar para a natureza.

“Ela já está ali, talvez modificada por ela mesma, talvez modificada pelo homem. Mas, ainda assim, é como eu a encontrei. Algumas imagens a gente entende o que são, outras ficam ali no subjetivo. Eu não precisei modificar a natureza para que pudesse interagir com ela com o meu trabalho, e sim trabalhar com ela como ela é, sustentá-la da forma que ela é”.

Acervo digital

De acordo com Leonel Henckes, o metaverso veio para o Goethe para ficar, mesmo em um mundo pós-pandêmico – seja lá quando ele chegar. Daqui para a frente, o objetivo é que todas as exposições tenham uma versão física e outra virtual.

A principal vantagem, além de atrair mais pessoas e possibilitar que as mostras tenham mais alcance, é que, com o metaverso, é possível criar um acervo digital de cada exposição. Em outras palavras: as exposições nunca serão desmontadas, ficarão ali para sempre, na realidade virtual, para quem quiser ver e rever.

“A ideia é que todas as exposições que venham a existir aqui fisicamente, tenham a sua versão lá no metaverso. Esse metaverso também funciona como um arquivo, né. Essa exposição que está agora não vai ser desmontada. Esse link vai virar um arquivo, não vai ser desativado. E aí teremos sempre esse arquivo vivo do que vai acontecendo aqui dentro”, aponta o coordenadorl.

E Tiago também esclarece: a ideia jamais será substituir o físico pelo virtual, e sim trazer uma nova ferramenta e explorar novas possibilidades. Afinal, queira ou não, o metaverso já está aí faz tempo, como opina o curador: “Os celulares são quase como que próteses dos nossos corpos. Então, eu analiso que as exposições virtuais continuarão, desde que sejam pensadas especificamente para a experiência do virtual. Não uma transposição de uma coisa ‘física’ para o virtual, mas sim um pensamento do espaço virtual dentro de suas particularidades”.

No mundo físico, a exposição Temporão vai até o dia 1º de março, aberta para visitação das 10h às 18h. No metaverso… até o mundo acabar e levar com ele a internet. E olhe lá.

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