MUITO
Restaurante serve o melhor do mar com preços camaradas

Por Carla Bittencourt

O carpaccio de polvo chega em lâminas finíssimas, a carne do molusco em delicada textura é coberta com azeite de oliva, alcaparras e espera apenas uma fatia de pão caseiro para completar-se como iguaria. A ostra vem crua e polpuda, para ser sugada da concha, de olhos bem fechados, depois de uma chuvinha de limão-siciliano. E o leitor que imaginou a cena em qualquer endereço granfino errou feio: o restaurante é em Tancredo Neves.
Não que ao chef Osmar Santos, 37, falte desenvoltura em salões mais pomposos, ao contrário. Foi no Mistura, no Bella Napoli e no La Figa que ele fez escola. Mas, depois de tantos anos cozinhando para os outros, o chef entendeu que já era hora de estabelecer o próprio território, e é esse que ele reinaugura agora, depois de uma bem-sucedida estreia em 2015.
A ideia de Osmar é antiga. Quanto mais foi entendendo de comida italiana, mais ele tinha vontade de levá-la para a vizinhança. O curso de gastronomia na FIB foi decisivo para tocar o projeto adiante. "Eu sabia que não ia vender lagosta todo dia, mas que o pessoal do bairro poderia provar, se quisesse, a um preço acessível".
E ele não estava brincando. Seu fettuccine com frutos do mar leva polvo, lula, mexilhões, camarões e, claro, a lagosta aberta e equilibrada no topo da massa fresca. O crustáceo também é servido na versão com espaguete ou grelhado com risoto de limão-siciliano. Figura como o item mais caro do cardápio (R$ 49), numa individual porém generosa porção que serve bem duas pessoas mais comedidas.
Os vizinhos se permitem, vez por outra, embora sejam mesmo fãs das pizzas, assadas à noite. Mas o boca a boca e as redes sociais acabaram levando ao La Celestrina clientes de bairros bem distantes dali, diz Osmar. Para o almoço de sábado e domingo, a estreita rua São Paulo costuma ter engarrafamento de carro na porta, todos disputando uma das 20 mesas na cantina adaptada na garagem do chef.
Mediterrâneo
E pensar que Osmar Santos deixou Antônio Cardoso, município próximo de Feira de Santana, sem saber fritar um ovo. Em Salvador, ele se matriculou no Senac e foi crescendo, de ajudante até chegar a chef. O caminho foi ajeitado assim: "Nunca me limitei aos lugares onde estava e sempre ouvi os bons professores que tive".
Por isso, sem nunca ter ido à Itália - Veneza e Positano já estão nos planos de uma próxima viagem -, o chef inseriu no antigo Beiru, ali entre a Engomadeira, Sussuarana, Narandiba e Paralela, uma cultura mediterrânea. Osmar garante que os clientes italianos elogiam o ponto das massas e a comida quase sem condimento. Sua filosofia é cozinhar para que as pessoas sintam o gosto do preparo e não do tempero.
Para quem conhecia o restaurante antes da reforma, há novidades. Um pene com abobrinha, o camarão firme e, ao mesmo tempo, desmanchando na boca. A salada de atum (veja receita ao lado) só não estava mais saborosa por uma desconfiança de que esse peixe funciona melhor com a mínima quantidade de fogo possível.
O atendimento continua desenvolto no pequeno espaço entre as mesas, outro pretexto para voltar e provar o ravióli ao molho de laranja. Uma dica preciosa é guardar espaço para a sobremesa. Apesar do pavê de chocolate, do pudim de leite, do semifredo - creme de chantilly com um crocante de castanha -, apesar disso tudo, existe o sorvete de pimenta biquinho.
Esse, Osmar quem faz, e tem consistência de sorvete de avó, aquele que ainda não sabe ser veludo, mas agrada justo por isso, por ser rústico. No caso do ingrediente, também pela refrescância e pelo ardorzinho que deixa na boca. E, por falar em vó, foi com o nome da mãe de seu pai que o chef batizou o primeiro restaurante.
Dona Celestrina fazia a melhor galinha de molho pardo que Osmar tem lembrança. No modo antigo, matando a ave e cozinhando-a no próprio sangue. Com a comida italiana do neto ela nunca quis conta, mas o bem-querer era tanto que ficou a homenagem. "Pense numa avó que tapeava o mundo para defender os netos". Pensamos. E o clima da casa tem esse afeto.
Receita > Salada de atum (serve duas pessoas)
200 g de atum fresco
1 litro de azeite de oliva
1 folha grande de alface
1/2 cebola pequena
1 tomate
1 litro de vinagre balsâmico
200 g de açúcar
sal a gosto
Como fazer:
Cozinhe o atum com um pouco de sal. Desfie e coloque em uma vasilha com azeite. Reserve na geladeira por três dias.
Monte o prato com o atum, o alface, o tomate e a cebola, cortados em rodelas. Com o balsâmico e o açúcar, faça uma redução. Primeiro, aqueça a panela em fogo bem alto. Mexa sempre, antes e depois da fervura, para sua redução não queimar. Fica pronta quando chegar à consistência de xarope. Rende mais ou menos 400 ml. Tempere a salada a gosto.
Onde encontrar
La Celestrina | Rua São Paulo, 73, Tancredo Neves (Condomínio Arvoredo) | De segunda a sexta, das 18h às 23h, e sábados e domingos, das 12h às 23h | Tel. 71 3306-8325
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