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Ricardo Spencer: "Hoje faço parte dessa saga chamada Segundo Sol"

Por Tatiana Mendonça

07/05/2018 - 13:49 h | Atualizada em 07/05/2018 - 14:20
A primeira experiência de Spencer na televisão foi com a série Mister Brau, protagonizada por Lázaro Ramos e Taís Araújo
A primeira experiência de Spencer na televisão foi com a série Mister Brau, protagonizada por Lázaro Ramos e Taís Araújo -

Fazer novela nunca tinha passado pela cabeça do diretor baiano Ricardo Spencer. Até que, três meses atrás, ele recebeu um convite para integrar a equipe de Segundo Sol, nova produção das 21h da Globo, ambientada na Bahia. Spencer será um dos assistentes do diretor-artístico Dennis Carvalho e da diretora-geral Maria de Médicis, ao lado de Marcelo Zambelli, Cristiano Marques e Noa Bressane. A estreia só acontece no dia 14, mas antes disso a novela já está sendo criticada pela suposta ausência de atores negros – que não apareceram, de fato, na primeira chamada de divulgação da trama. Spencer preferiu se manter distante da polêmica. Curiosamente, ele estava trabalhando no roteiro de uma série para apresentar à Globo sobre a Salvador dos anos 1970 e o “apartheid que vemos até hoje”, como contou por e-mail. Com a correria das gravações, o projeto teve que ser adiado. A primeira experiência de Spencer na televisão foi também uma série, Mister Brau, protagonizada por Lázaro Ramos e Taís Araújo. Foi chamado inicialmente para dirigir os videoclipes do personagem-título, formato que o consagrou. Apaixonado por música, Spencer virou nome cobiçado na cena rocker local e nacional. Dirigiu clipes para Cascadura, Cachorro Grande, Vanguart, Rita Lee, Pitty – essa, de longe, sua parceria mais profícua e longeva. Muitos deles eram exibidos em loop na MTV, canal que o premiou um par de vezes. Foi a avó, a atriz Nilda Spencer, quem lhe deu o primeiro curso de cinema, nos Estados Unidos, e uma Super 8 que ele usa até hoje. Quer abrigar memórias e reverenciar sua trajetória no longa Tudo sobre Minha Avó, projeto que começou como documentário, mas que talvez vire ficção.

Você é um dos diretores de Segundo Sol, nova novela das 21h da Globo. Como aconteceu o convite?

Quando entrei na Globo, há dois anos, fui conhecendo e reencontrando pessoas mágicas desse mundo da dramaturgia, que me é tão familiar. Então, a adaptação à quarta cidade da minha vida – Salvador, Los Angeles, São Paulo e agora Rio – acabou sendo muito mais acolhedora do que imaginei. Logo após esse ponto de virada, estava dirigindo Fernanda Montenegro, Luis Miranda, Taís Araújo e Lázaro Ramos, nas temporadas de Mister Brau. Foi ele que em uma festa brincou e disse para mim e para a diretora Maria de Médicis que ambos trabalhando juntos não “daria em boa coisa”. Dois diretores intensos e com a loucura necessária só poderia resultar em um big bang. Ele estava rindo, mas isso acabou fechando um trato subliminar entre mim e Maria. Meses depois, a encontrei e recebi o convite para a novela. Levei um susto na hora, pedi uns dias para mudar meus planos e nunca recebi tanto incentivo. O elenco do Mister Brau foi fundamental em toda a transição. Hoje faço parte dessa saga chamada Segundo Sol e tenho muita satisfação em viver a dramaturgia diariamente.

A novela teve cenas rodadas em Trancoso e também em Salvador. Como foi a experiência de voltar a filmar na Bahia?

É sempre emocionante. Admito uma certa apatia da minha parte com a cidade nos últimos anos, quando estava muito dedicado ao novo trabalho e colocando a vida em ordem. Eu também mantenho minha casa em São Paulo e, nos pequenos intervalos do trabalho, costumava ir mais à capital paulistana tirar a poeira dos discos e livros, receber lambidas dos buldogues Bacon e La Toya, comer um arroz de hauçá no restaurante do meu irmão, o Sotero; e rever minha gangue, de todos os lugares do Brasil, incluindo muitos baianos. Eu precisava voltar à Bahia por um período maior. Aquele que dá para matar todas as saudades, ir ao terreiro pedir a bênção, comer uma moqueca de carne no Moreira e me atualizar com o dialeto. E esse momento chegou, felizmente. Estou até agora nostálgico. Fiz algumas promessas pessoais com minha terra e pretendo não ficar mais tanto tempo distante.

Novela é, de longe, o formato audiovisual mais popular do país. Era algo que você já pensava em fazer quando estava dirigindo clipes para a cena underground do rock baiano?

Eu não pensava nisso até três meses atrás. Meu plano após o término desta temporada de Mister Brau era o de finalizar o roteiro de uma série que se passa em Salvador nos anos 70 e apresentar para a Globo. Passaria meus dias no Rio apenas como roteirista. Mas o convite para novela e continuar dirigindo os maiores atores do Brasil me fez adiar a série Roma Negra. Se já passava meus dias com Lázaro, Taís, Luis Miranda, George Sauma, Kiko Mascarenhas e Marcelo Flores, agora é com Zé de Abreu, Vladimir Brichta, Adriana Esteves, Emílio Dantas, Fabíula Nascimento, Arlete Salles, Fabrício Boliveira, Luísa Arraes, Chay Suede, Giovanna Antonelli e Débora Secco. Estou encantado.

De que maneira, na sua opinião, um formato tradicional como o da novela vem sendo influenciado pelas produções mais inovadoras dos serviços de streaming? Falo em termos de linguagem, narrativa e também de temática.

Acredito que seja a própria evolução da TV no mundo. As séries hoje são gêneros cinematográficos, e algumas novelas têm recebido essa influência, admitindo uma estética mais sofisticada, com grandes ganchos ao final dos capítulos, tramas não tão epicizadas, personagens com muitas camadas. E só vai aumentar. O GloboPlay, serviço de streaming da Globo, tem séries exclusivas, lançamentos antecipados. É uma das provas desse interesse do brasileiro pelo novo.

Mister Brau foi sua primeira experiência na Globo? Sentiu muita diferença entre fazer televisão e dirigir videoclipes?

Foi minha primeira experiência, mas a transição foi sutil porque entrei no Mister Brau justamente para dirigir os clipes do personagem. Então, fui ganhando espaço, confiança de todos, e logo estaria dirigindo a dramaturgia da série. Entrar na emissora tem um peso, obviamente, por ser uma das maiores estruturas do mundo, e com seu elenco estelar, mas como convivi a vida inteira com essas pessoas diferenciadas que são os atores, eu praticamente dei prosseguimento a essa minha relação, iniciada na infância, na casa de minha avó e na Escola de Teatro da Ufba.

O clipe Flutua (de Johnny Hooker e Liniker), que você dirigiu, é bem político. Como está vendo esse momento do país, em que obras de arte são censuradas e em que setores mais conservadores da sociedade ganham força? Como transitar entre campos tão polarizados?

Obviamente, bem assustado. Eu odeio regredir em algum ponto da vida, e no golpe que sofremos, dar milhões de passos atrás, em diversos setores, me tirou o chão. Censura, racismo, homofobia, ódio, embutidos em um discurso sem sentido. Como alguém pode se opor ao amor de outras pessoas? Não tem cabimento algum. O quanto o povo sofreu para ter um mínimo de dignidade e espaço vai ruindo por conta de um delírio coletivo. Flutua veio como um manifesto, um ato político de enfrentamento. Hoje estamos mais munidos para desarticular o sistema.

Os videoclipes, que lhe fizeram reconhecido no mercado, perderam espaço na televisão, especialmente nos canais abertos, mas ganharam uma força absurda na internet. Essa mudança de plataforma teve impacto significativo na linguagem, na sua opinião? Os investimentos são parecidos?

Acredito que o melhor impacto possível, porque veio a democracia. Você agora não precisa ser um diretor reconhecido por uma gravadora. Você usa um celular, o YouTube e em pouco tempo seu vídeo pode ter passado a barreira de um milhão de visualizações. Mas sinto falta dos tempos da MTV, de gravar o Lado B em VHS nas noites de domingo, das premiações. Sinto-me sortudo por ter feito parte dessa história.

A direção de videoclipes ocupa que espaço hoje na sua vida? Ainda é algo que você faz muito?

Agora com a novela ficou bem difícil. Ano passado, eu consegui fazer três, sendo um para a novela Deus Salve o Rei (da cantora norueguesa Aurora), e outros de dois artistas independentes: Johnny Hooker com participação de Liniker e Rico Dalasam. O flerte continua, porque amo a música igualmente ao cinema, mas agora fico apenas imaginando como teria sido... Posso citar os engavetados recentemente, como os do Vanguart e da Maglore. Mas nada é impossível.

A quantas anda o seu projeto para dirigir um documentário sobre a sua avó, a atriz Nilda Spencer (1923-2008)?

O Tudo sobre Minha Avó não andou muito em termos de produção, mas é algo que certamente continua nos planos. Nesse tempo de avaliação, me foi sugerida uma reviravolta nessa obra tão importante para mim. A de fazer um longa de ficção sobre ela. Revisitar as décadas mais importantes para a cultura baiana, com esses personagens que convivi ganhando vida, é um objeto de desejo. Seria meu segundo filme, uma vez em que o roteiro de A Morte Sozinha, meu primeiro longa, já está pronto. Esse certamente será o primeiro. E algo que habita minhas pesquisas e escrita diárias é Roma Negra, a série sobre a Salvador dos anos 70, sobre o apartheid que vemos até hoje, sobre esse embate racial e o consequente surgimento dos movimentos negros e dos blocos afros. É uma série sobre resistência e luta.

Você dirigiu a sua avó no videoclipe da banda baiana Sangria. Que memórias guarda dessa experiência?

De ter dado tudo certo. De ter amigos lutando pelo audiovisual. De ter dirigido minha avó pela primeira e única vez. Poeticamente falando, nos dirigimos mutuamente na vida. Foi ela quem me deu o primeiro curso de cinema e minha Super 8 que uso até hoje, mas para a câmera essa foi a única vez. Ao mesmo tempo, na foto que tiramos ao término do clipe, já não sou capaz de encontrar três pessoas das que mais amava: minha avó Nilda, Wilson Mello e Pedro Rocha.

Qual é sua relação com Salvador hoje? Como vê as mudanças urbanísticas pelas quais a cidade está passando? E o que gosta de fazer quando está por aqui?

Minha última casa em Salvador foi em um Rio Vermelho que não existe mais. Mas posso dizer que não me decepcionei com o bairro recauchutado que vi agora. Enxerguei vida noturna, movimento, locais conectados com o mundo. Porém o fechamento do Mercado do Peixe trouxe danos à história soteropolitana. O Porto do Moreira no Largo Dois de Julho e o Filé do Juarez são restaurantes indispensáveis nestas temporadas, junto aos casos que se escuta por lá. Visitar minha outra família no Ilê Axé Jitolu, no Curuzu, e passar tardes na cidade antiga, observando a baianidade atentamente, são programas certos. E a praia é uma só: o meu amado Porto da Barra. E a trilha sonora sempre começa com Batatinha.

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