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MUITO

Salvador, Conceição do Almeida e Jequié são palcos do Festival de Rua 2025

Festival conta com espetáculos gratuitos de música, dança, teatro, circo e artes visuais

Por Gilson Jorge

16/03/2025 - 7:00 h
Evento está de volta após seis anos, quando ocorreu a última edição presencial
Evento está de volta após seis anos, quando ocorreu a última edição presencial -

Em 1999, um circo de São Francisco, nos Estados Unidos, chegou à Bulgária, que até a década anterior vivia sob a órbita de influência da União Soviética e não estava muito acostumada a receber atrações culturais do Ocidente. Era uma trupe que viajava pela Europa em bicicletas e fazia apresentações circenses no meio da rua. E naquele momento chegava ao Leste Europeu.

Na plateia, um jovem búlgaro chamado Plamen Mitev ficou muito impressionado com os artistas californianos. Foi a primeira vez que Plamen e seus amigos viram aquele tipo de arte. "Era um outro mundo, aquilo mudou as nossas vidas", conta o búlgaro, que seguiu os norte-americanos pelo interior de seus país por duas semanas, até que a trupe cruzasse a fronteira com a Turquia.

"No ano seguinte nós críamos a Fireter, uma das primeiras companhias de arte de rua da Bulgária, talvez a primeira. Deus abençoe aqueles caras de São Francisco", afirma Plamen, um palenteólogo especializado na reconstrução de animais pré-históricos que fez universidade em Lisboa e fala português. "Eu trabalhei em diferentes países europeus, usando resina de poliéster na reconstrução desses animais. Essa habilidade é muito útil na produção de figurinos e cenografia de nossa companhia", conta.

Plamen, que na companhia de arte de rua é um palhaço com perna-de-pau, vai estar em Salvador com a parceira Rozaliya no Festival de Arte de Rua, que está de volta após seis anos, quando ocorreu a última edição presencial, antes da pandemia de Covid-19. A 18ª edição acontece em três cidades: Salvador (21 a 23 de março, no Mercado Iaô), Conceição do Almeida (25 e 26 de março, na Praça da Matriz), e Jequié (28 e 29 de março, na Praça Ruy Barbosa), com espetáculos gratuitos de música, dança, teatro, circo e artes visuais.

Plamen declara-se muito feliz por vir com os seus amigos para se apresentar em Salvador. "Esses festivais são muito importantes para a audiência e trazem um ambiente de reunião familiar diferente dos tradicionais festivais de música, por exemplo", afirma o artista.

Para o búlgaro, um dos pontos altos da arte de rua é a possibilidade de surpreender a audiência. "Na sexta-feira, o público vai a um teatro para assistir uma determinada performance. Mas quando você se depara por acaso com a arte de rua, se ela for muito boa, pode te levar a um outro mundo", define Plamen.

Se os búlgaros foram chamados à arte de rua, uma perda familiar foi o motivo para que a dupla Mariana Acioly e Alan de Freitas se entregassem de corpo e alma à arte de rua com a criação do Mamulengo Água de Cacimba.

Pioneiro do teatro de bonecos no Piauí, o mestre mamulengueiro Afonso Miguel Aguiar estava inscrito na programação de um festival de teatro de bonecos em Teresina, em junho de 2019. Mas o artista faleceu dois meses antes do evento. Mariana, que trabalhava como atriz, foi convidada pela produção a fazer uma homenagem ao pai, que criou em 1975 o Teatro de Bonecos Mamulengo Fantochito e atuou durante 44 anos. "Mariana, que já era atriz de palco, me chamou para participar com ela da homenagem", conta Alan, que participou desse festival fazendo a música. Ele só integraria a brincadeira com os bonecos posteriormente. O curioso é que, assim como Mariana, Alan é pedagogo e na época ele estava aprendendo a tocar cavaco e pandeiro.

A apresentação da dupla no festival foi uma forma de usar a programação para celebrar a vida de Afonso, mas também uma maneira de permitir que a filha transformasse dor em arte. "Ela teve a experiência de viver o luto pela morte do pai e transformar isso em algo legal. Poder continuar encontrando o pai sempre que ela brinca com os bonecos", opina Alan.

Imagem ilustrativa da imagem Salvador, Conceição do Almeida e Jequié são palcos do Festival de Rua 2025
| Foto: Divulgação

Mariana pegou os bonecos do pai para trabalhar e em dois meses a dupla conseguiu montar um espetáculo, que estreou no dia 10 de junho de 2019. Ainda durante o festival, houve outras quatro apresentações. "A gente pegou um vídeo de uma brincadeira dele e tentou fazer igualzinho ele fazia", conta Alan.

Com o passar do tempo e assistindo a outros artistas, a dupla, que mora em Olinda, passou a fazer alterações no repertório e iniciar um trabalho próprio. "A gente decidiu embarcar nessa jornada de aceitar essa herança recebida do mestre e a gente começou a trilhar o nosso caminho. Nesses seis anos, entraram coisas autorais nossas, mas a estrutura continua sendo a brincadeira herdada de Afonso", declara Alan.

Ele define o trabalho da dupla como uma brincadeira tradicional, que mistura o mamulengo pernambucano com o babau da Paraíba. "Você vai encontrar figuras do boneco popular da Paraíba, como o Boneco Benedito e o Boi, mas também os bonecos de dança, que a gente tem muito aqui em Pernambuco", afirma Alan,

A baiana Vanda Cortez começou a se interessar por performances urbanas e pelo universo das artes de rua em 2004, durante a graduação em artes visuais. Seis anos depois, Vanda fez um curso de palhaçaria e começou a pesquisar o circo, na perspectiva de explorar nessa área elementos das artes visuais. Ela começou a trabalhar na rua em 2012, ocupando praças e fazendo apresentações públicas. Logo em seguida, Vanda se mudou para Buenos Aires, onde morou por dois anos. Nesse período, a artista circulou com seus espetáculos pela Argentina, pelo Paraguai e pelo Brasil. "Nesse processo, eu fui mergulhando nas artes urbanas a partir do parâmetro do circo, da ocupação, da abertura de roda", afirma Vanda.

A artista baiana tem atualmente duas linhas de trabalho. O Cabaré Fora da Casinha é uma ocupação que acontece há oito anos feita por mulheres circenses, numa espécie de varieté, modalidade de espetáculo que une teatro, dança e música, além do próprio circo. "Cada mulher apresenta uma cena e acontece na rua, também. A primeira apresentação aconteceu em um espaço no Rio Vermelho", diz Vanda.

A outra vertente, que vai ser apresentada no Festival de Rua, é um espetáculo com bolhas de sabão protagonizado por Vanda como a palhaça Serafina. "Eu desenvolvo uma ocupação que se chama Encontrinho borbulhando, que também começou em 2017 e acontece pelo menos quatro vezes por ano", declara a artista, que também oferece oficinas de bolhas de sabão gigantes abertas ao público.

Sobre o Festival de Rua, Vanda avalia ser uma proposta importante para a cidade. "É um festival que já tem uma história e traz essa dinâmica da arte de rua e abre espaço para outras linguagens. Isso fortalece a arte de rua, que ainda é marginalizada", afirma a artista.

Vanda ressalta, por exemplo, a dificuldade que os artistas de rua às vezes têm de serem vistos como profissionais oferecendo o seu trabalho, e que quando se passa o chapéu pelo público, a ideia é obter uma remuneração pela performance que foi realizada. "A gente às vezes enxerga apenas uma pessoa que está ali pedindo dinheiro. Se o artista não está em uma sala ou em cima de um palco, há uma tendência maior a ser marginalizado", afirma a artista, que já passou pela experiência de receber dinheiro como se fosse esmola, com a pessoa dizendo que queria ajudar. "A gente faz arte na rua, mas a gente participa de festivais e encontros, e o espaço público é o lugar que a gente escolheu para manifestar o nosso trabalho", declara Vanda.

Imagem ilustrativa da imagem Salvador, Conceição do Almeida e Jequié são palcos do Festival de Rua 2025
| Foto: Divulgação

Para ela, ainda se está abrindo espaço para a compreensão do que é o artista na rua e desmistificar o trabalho. "Arte de rua é o que? É só estátua viva? O festival traz essa diversidade e informa outros tipos de arte", afirma a artista.

Organizado pelos produtores culturais Selma Santos e Bernard Snyder, o Festival de Rua acontece desde 2002. A primeira edição foi realizada em quatro espaços: o extinto Aeroclube Plaza Show, o Campo Grande, o Farol da Barra e a Praça da Sé.

Além da oferta de arte em várias linguagens, este ano a produção está focando nas oficinas. O artista e produtor alemão Bernard Snyder, por exemplo, vai usar sua experiência de mais de 40 anos no setor para dar dicas a artistas de rua em início de carreira sobre como conduzir as suas performances do ponto de vista administrativo. Desde a escolha do lugar mais adequado para se apresentar até ao fato bem relevante de que passar o chapéu hoje em dia pode funcionar como uma metáfora para os pagamentos que agora são feitos em pix.

Bernard diz que vai falar sobre temas que são mais ou menos óbvios para ele e para quem está há mais tempo na estrada, mas que podem escapar a quem está começando. "Muitos artistas não sabem bem escolher os lugares onde se exibir. As pessoas têm que se reposicionar. O chapéu onde entra dinheiro não é mais aquele. E detalhes como se a música estiver muito alta você vai ter problemas com a polícia", explica Bernard, que mora na Itália e veio a Salvador especialmente para o festival.

Entre as atrações deste, Selma cita como destaques o Palhaço Xuxu, trabalho do artista Luiz Carlos Vasconcelos. O ator, que interpretou Dráuzio Varella no cinema, faz sua estreia no festival. Outro nome destacado é o dançarino Vitor Hamamoto. "Ele tem um trabalho de corpo muito interessante", afirma Selma. A produtora destaca também o fator especial de essa ser a primeira edição presencial após a pandemia.

Um fator que é significativo também para a atriz e bonequeira paulista Tabatta Iori, que participou da última edição, em 2019, e volta agora. "Há muitos artistas incríveis nesse festival e é uma honra estar aqui", declarou a artista nascida em Osasco, na Grande São Paulo, mas que começou a sua trajetória em Minas Gerais, quando cursava artes cênicas na Universidade Federal de Ouro Preto, onde teve contato com a arte de rua meio por acaso e hoje não se enxerga fazendo outra coisa.

"É um sonho viajar e fazer apresentações em locais diferentes", declara a artista, que trabalha com teatro de bonecos em miniatura. Mais informações sobre a programação do evento podem ser obtidas no site www.festivalderua.com ou nas redes sociais #festivalderua.

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