GASTRÔ
Speculoos: por que esse biscoito deve virar moda em Salvador
De origem europeia, o Speculoos tem aparecido em confeitarias da capital
Por Pedro Hijo
Um biscoito de origem belga tem tudo para roubar a coroa do pistache no pódio dos sabores mais procurados nas confeitarias de Salvador. Apesar das vitrines ainda ostentarem doces da cor verde produzidos a partir da oleaginosa, a oferta de produtos feitos com o speculoos tem caído no gosto dos clientes soteropolitanos. Confeitarias da capital passaram a incluir nos menus doces criativos inspirados no biscoito importado que combina caramelo e especiarias.
No começo deste ano, a confeiteira Cecília Moura desenvolveu uma receita inspirada no biscoito para lançar na Páscoa. A Le Lapin, loja da qual é sócia, foi uma das primeiras confeitarias de Salvador a disponibilizar o sabor. Cecília conta que percebeu um crescimento da procura pelo speculoos na Europa e entendeu que a tendência chegaria à capital baiana. "Nos adiantamos", diz ela.
Apesar do nome difícil, o speculoos é um biscoito que mistura ingredientes que o baiano já está familiarizado. O caramelo, a canela e o gengibre estão presentes em vários quitutes comuns ao paladar baiano como o bolo de aipim e a cocada. A marca mais famosa do speculoos, a Lotus, produz os biscoitos desde 1932, na Bélgica. O produto também é conhecido por Biscoff. Há quatro anos, o neto fundador da empresa modificou o nome do biscoito para patentear uma nova marca. O termo Biscoff mistura as palavras "biscoito" e "café" em inglês (“biscuit” e “coffee”).
Em Salvador, é possível comprar a versão original da bolacha em supermercados selecionados. O biscoito é doce, mas o preço é salgado: o pacote de 250 g custa, em média, R$ 25. Para não repassar o custo para os clientes, Cecília produz artesanalmente o próprio speculoos: "É uma forma também de incluir mais especiarias e chegar ao sabor que a gente gosta".
O recheio do ovo que fez sucesso na Páscoa agora é usado no Panetone Speculoos (R$ 154,90), que acompanha uma ganache de chocolate branco caramelizado e uma pasta de avelã com o biscoito triturado. Além da sobremesa de Natal, a Le Lapin ainda oferece o biscoito banhado com chocolate (R$ 14,90) e uma cheesecake de maracujá com base de speculoos (R$ 27,90).
A confeiteira Nane Sampaio também produz o próprio speculoos. Foram quatro testes até chegar à receita que usa hoje. No cardápio, o biscoito está presente na Taça Speculoos (R$ 182), que serve 15 pessoas e pesa 1,2 kg. A confeiteira conta que precisou adaptar a receita original para chegar a um biscoito de gosto semelhante. "A receita belga leva açúcar de beterraba, então, para substituir eu criei uma mistura de açúcares e cheguei num sabor parecido", revela.
A sobremesa de Nane foi pensada para o calor de Salvador. A taça comporta uma mousse gelada de chocolate branco assado, farofa de speculoos e creme de cream cheese. “Assim, não fica tão doce”, aponta a confeiteira.
Aceitação
A receita do Cookie Speculoos"(R$ 17,50) da loja Mr. Cheney também precisou de ajustes para se adaptar à oferta de ingredientes locais e ao paladar do Brasil. Franqueado da loja localizada no Salvador Shopping, Luiz Tamanaga, explica que a inclusão do sabor no cardápio foi uma forma da marca driblar o aumento do custo do chocolate e surfar na tendência.
"Nosso cookie leva caramelo, especiarias e castanha-do-pará, que é para dar uma crocância", diz. O produto é um dos lançamentos de Natal da marca e depende da aceitação dos clientes para se tornar uma opção recorrente no cardápio do ano que vem.
Apesar de seguir a tendência gastronômica, Luiz afirma que o speculoos ainda é um sabor que tem crescido timidamente no gosto dos clientes. "Muita gente não conhece", diz. Antes de lançar o cookie, o empresário comprou o Biscoff e ofereceu às funcionárias da loja para que elas experimentassem e passassem a explicar o sabor do produto para os clientes. "O baiano ainda tem resistência à novidade", afirma.
Ao contrário da experiência de Luiz, a confeiteira baiana Joana Angélica Simões viu o faturamento aumentar depois da inclusão de um cookie com o sabor belga no cardápio. O Cookie Lotus (R$ 15) está entre os mais pedidos pelos clientes. O primeiro contato de Joana com o biscoito belga foi no começo deste ano, quando fez uma cheesecake utilizando o Biscoff e percebeu a versatilidade do produto.
“Todo mundo ficou apaixonado pelo sabor de canela com caramelo e leite maltado”, conta. Ela recheia o cookie com um brigadeiro de speculoos. “Trituro o biscoito até virar uma farinha e coloco no fim da receita do brigadeiro”.
O alto preço do insumo assustou a confeiteira durante a produção. “O que eu faço é colocar uma quantidade que dê sabor, mas que eu consiga economizar para não aumentar tanto o custo”, diz Joana. Já existem versões mais baratas do biscoito speculoos no Brasil. Marcas como Bauducco e Tostines lançaram as bolachas caramelizadas no segundo semestre deste ano e os preços variam entre R$ 3 e R$ 5. Joana ainda prefere o importado: “Não tem igual”.
Para o ano que vem, o cookie de Joana deve continuar no cardápio, mas, só será vendido sob encomenda. “Aí eu posso sair para comprar o biscoito e produzir, sem ter que fazer estoque”, conta.
Desafios
Para Cecília Moura, confeiteira da Le Lapin, o sabor speculoos tem potencial para virar moda, mas, não deve passar os concorrentes (e tão amados) brigadeiro e Ninho com Nutella. “São sabores muito carregados no açúcar, é por isso que fazem sucesso com o brasileiro”, opina. “O speculoos é um sabor mais adulto, para quem gosta de ousar”. Nane Sampaio concorda: “O pistache vem muito carregado no dulçor, talvez por isso tenha feito tanto sucesso, o speculoos é para quem tem um paladar mais apurado”.
O nome do sabor é um entrave na estratégia de dominação do speculoos, segundo Luiz Tamanaga. A Mr. Cheney não tem permissão para usar os nomes da marca belga que, segundo o empresário, têm uma assimilação mais fácil. “Então, no balcão, a gente explica para o cliente que é inspirado no Biscoff e ele entende melhor”, conta.
Outro entrave para a dominação do speculoos é a paixão do brasileiro pelo chocolate. Na Mr. Cheney, quase todos os cookies levam o produto do cacau. “A gente já teve um cookie sem chocolate, que era uma massa de baunilha com canela e açúcar por fora, e não teve aceitação”.
Apesar dos desafios, de acordo com Nane, o potencial do speculoos para se firmar como um sabor bem sucedido em 2025 é grande. “Cada vez mais pessoas estão dispostas a experimentar sobremesas mais complexas”, opina. “Tem muita gente que quer sair do básico e a gente precisa acompanhar isso”.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Cidadão Repórter
Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro
Siga nossas redes