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Teatro Molière recebe artistas de outros núcleos culturais

Projeto colaborativo do teatro marca um ano da nova gestão

Publicado domingo, 14 de agosto de 2022 às 07:00 h | Autor: Vinicius Marques
Odara Ferreira no espetáculo de dança Ebós Peregrinos
Odara Ferreira no espetáculo de dança Ebós Peregrinos -

Em julho de 2021, ainda quando os números da pandemia da Covid-19 eram alarmantes, a produtora cultural Maria Prado de Oliveira tomou a iniciativa de alugar o Teatro Molière, da Aliança Francesa. Na época, mesmo com a liberação do funcionamento do teatro, ainda havia muitas restrições, a exemplo do número reduzido de poltronas e o uso obrigatório de máscaras.

Nada disso desanimou a gestora, que agora, celebrando o período de um ano de reabertura do espaço, dá início ao Agosto de Colegas, um projeto colaborativo do teatro com outras entidades culturais da cidade.

O Agosto de Colegas – nome que Maria Prado assume não ser o mais original e inspirado no projeto Agosto de Fotografia, em celebração ao mês da fotografia – é o resumo do DNA dessa nova gestão do Teatro Molière, que é o de colaboração.

Assim que reabriram o teatro, ela lembra de ter convidado o ator Ricardo Castro para fazer uma residência de cinco meses no espaço, que rendeu o espetáculo Quixeramobim, com estreia no Molière. Após isso, o ator ainda realizou um curso chamado Solo Fértil, que devido à pandemia só contou com cinco alunos. Para ela, isso deu o tom para o que viria a ser a marca de sua gestão.

Com o afrouxamento das restrições, o teatro voltou a receber o público com toda sua capacidade, além de realizar outros tipos de eventos em sua programação. O Agosto de Colegas chega para arrematar esse primeiro ano, que serviu para criar uma nova identidade para o local.

“Naturalmente, temos custos muito altos, porque manter um teatro é muito caro, mas a gente foi nesse intuito de trabalhar da forma mais colaborativa possível, com colegas da cidade, radicados em Salvador”, explica Maria.

Intercâmbio

De acordo com ela, o Agosto de Colegas surge com esse espírito de trocas, de intercâmbio com outros espaços. Nessa primeira edição, três entidades de Salvador compõem a programação: a Casa Preta, a Casa da Mãe e o Novembro Corpo Negro – 365 dias.

“São núcleos que eu respeito e admiro muito o trabalho, e nessa primeira edição decidi chamar a Casa Preta, que faz um trabalho muito bacana há anos; a Casa da Mãe, que faz um trabalho de escoar muitos artistas, especialmente da música; e o Novembro Corpo Negro – 365 dias, da coreógrafa Leda Maria Ornelas e da produtora executiva Maria Cláudia Dias, que também vêm fazendo um trabalho muito importante para a divulgação das atividades de dança do povo preto”, diz Maria Prado sobre os convidados.

A gestora destaca que o charme do projeto é que ela não se intromete na pauta desses grupos, ou seja: quem sugere a pauta é o espaço convidado. Para ela, isso cria um intercâmbio de ideias e a movimentação de um espaço para outro. O exemplo que ela dá é o fato de que a Casa Preta está localizada no bairro Dois de Julho e agora  traz uma pauta para outro espaço,  na Ladeira da Barra. Para Prado, isso forma a junção de dois públicos consolidados.

“Em um ano, a gente já tem cadastrado mais de duas mil pessoas no nosso cadastro. A gente está pautando sem parar, desde que reabrimos. Estamos pautando espetáculos, cursos, oficinas, atividades de pensamento”, conta.

 “Todas essas pessoas, esses eventos que estão acontecendo, trazem um público que já se tornou cativo do teatro e que vão assistir a esses eventos sugeridos por outras casas, então, a gente vai ampliando, fazendo uma rotatividade de ideias, de estética, de público. Acho que isso é muito importante”, afirma Prado.

No primeiro final de semana do projeto, que aconteceu nos últimos dias 12 e 13 de agosto, a Casa Preta apresentou o espetáculo Outras melodias, um show de Pedro de Rosa Morais em homenagem a Luiz Melodia, e o show Cantando Veloso, de Sandra Simões em homenagem a Caetano Veloso.

Para o gestor da Casa Preta, Gordo Neto, a iniciativa do Teatro Molière é “muitíssimo importante porque os espaços culturais são de uma importância muito grande dentro do contexto da fruição das artes, de maneira geral da música, do teatro, da dança, das artes visuais, porque é nos espaços que as coisas acontecem. Essa iniciativa mostra esse reconhecimento de que tem parceiros ali, que podem juntos talvez se ajudar, digamos assim”.

Gordo Neto conta que a escolha pelos shows que foram apresentados se deu pelo fato de que Sandra Simões e Pedro de Rosa Morais são artistas muito ligados à Casa Preta. Os artistas, além de já terem se apresentado algumas vezes lá, são artistas que têm um vínculo pessoal com a casa.

“Pedro, além de músico e cantor, é jardineiro também, então, nos ajudou com nosso jardim, e é morador do Dois de Julho, que é o bairro onde estamos inseridos. E Sandra idem, é uma cantora que já participou de muitos eventos na casa, já fez eventos gratuitos, shows… São dois artistas muito ligados ao espaço e achava, portanto, que era importante que fosse nessa perspectiva”, diz o gestor da Casa Preta.

Para o final de semana dos dias 19 e 20 de agosto, o Teatro Molière recebe o Sarau da Casa da Mãe, que conta com um show da cantora Stella Maris e artistas convidados, como o Samba Jazz, Claudia Cunha, Luciano Salvador Bahia, Carlos Barros, Gil Vicente Tavares e Mazzo Guimarães.

Celebrar

Gestora da Casa da Mãe, Stella Maris aproveita o convite do teatro para celebrar também os 16 anos da Casa da Mãe e os 14 anos do Sarau, que só não aconteceram nos anos de 2020 e 2021, devido à Covid-19. Para ela, essa ocupação ainda afirma a valorização dos espaços convidados, que há anos promovem arte pela cidade.

“É bacana essa visibilidade. Não somos um teatro, mas temos uma função de teatro no nosso espaço. Acho bacana o reconhecimento desse espaço como um pré-teatro”, diz Stella Maris, que promete levar a essência dos eventos da Casa da Mãe para o Molière, com a  experimentação e junção de artistas diversos no palco.

E já para o final do projeto, o movimento Novembro Corpo Negro – 365 dias chega para dar o arremate, nos dias 26 e 27, com o espetáculo de dança Ebós Peregrinos: Dança na Dança, que traz a ressignificação de gestos e elementos da cultura afro-brasileira no contemporânea onde algumas batidas do coração dos corpos dançantes remetem a atabaques ancestrais.

A direção artística do grupo é da coreógrafa Leda Maria Ornellas, que desde 2006 está à frente do projeto, que já foi residente do Sesc e da Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia. Desde 2020, no entanto, o grupo atua exclusivamente na internet, produzindo conteúdo para as redes.

“Maria Prado sempre foi uma artista atuante na cidade de Salvador, sempre foi uma gestora, produtora, e ela sempre esteve presente nas nossas rodas de conversa e construções. Principalmente, os grupos que trabalham com essa linha, da dança afro-brasileira”, lembra Ornellas.

“Sempre estive aqui, e Maria Prado sempre teve esse olhar. Sempre esteve presente e atenta a tudo que estava acontecendo. Mesmo sem a gente se encontrar muito, quando a gente se via sempre tinha algo em comum para conversar, trocar ideias e foi assim que a gente afinou e aceitamos estar de forma presencial com esse trabalho”, diz a diretora artística.

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