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MUITO

Trabalho voluntário na pandemia reafirma a confiança em dias melhores

Por Yumi Kuwano

27/06/2021 - 6:00 h
O biólogo Paulo Moutinho na horta comunitária | Foto: Shirley Solze | Ag. A TARDE
O biólogo Paulo Moutinho na horta comunitária | Foto: Shirley Solze | Ag. A TARDE -

Em tempos difíceis como os vividos atualmente, ações que demonstram solidariedade e amor ao próximo acendem uma fagulha de esperança de que tudo vai ficar bem. Em meio à correria do dia a dia, se às vezes é difícil encontrar tempo para fazer todas as tarefas, e nosso sonho é que o dia tenha 48 horas, há pessoas que, além de cuidar da própria vida, conseguem tirar um tempo para ajudar a quem precisa.

A consciência moral está na base do voluntariado, que, de acordo com a Organização das Nações Unidas, é o trabalho desenvolvido por alguém que, devido ao seu interesse pessoal e espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração, a diversas formas de atividades, organizadas ou não, de bem-estar social ou outros campos.

E existem inúmeras formas e locais para atuar. O biólogo Paulo Moutinho, 26, por exemplo, encontrou na horta comunitária do seu condomínio no Imbuí uma maneira de aprender e aplicar os conhecimentos adquiridos no mestrado em ecologia.

Para ele, estar regularmente na horta Árvores do Vivendas, além de proporcionar doações para lares de idosos, escolas e locais que precisam do alimento, “é importante para aprender também a lidar com pessoas, com o alimento e com todos os seres vivos daquele ecossistema”.

Com a pandemia, a horta que existe desde 2013 também sofreu impactos negativos. O número de voluntários diminuiu e, sem gente, não há frutos. Por isso, as doações foram interrompidas.

“Estamos melhorando a produtividade agora, as pessoas estão voltando aos poucos, porque muitos ficaram com medo, mas estamos tomando todos os cuidados e logo vamos retomar as doações”, pontua.

Viveiro

E o espaço não é nada pequeno. Além de hortaliças, são cultivadas plantas maiores, como bananeira, e tem até um viveiro. Paulo conta que uma pessoa sozinha leva cerca de uma hora para regar toda a horta e são necessárias duas regas por dia: uma pela manhã e outra pela tarde.

“Sou responsável por levar composto orgânico e sempre vou aos domingos”. Ele também assumiu o gerenciamento do perfil da horta no Instagram, mas não considera o voluntariado como um trabalho, não por falta de compromisso, mas pelo prazer que sente quando está ajudando.

Não só os moradores do condomínio podem cuidar da horta. De acordo com Paulo, há voluntários até de outros bairros. Há alguns anos, o biólogo começou a frequentar a horta em eventos específicos, como aula de yoga e luaus, mas foi em 2018 que se sentiu de fato motivado para trabalhar com ela e percebeu que precisa estar em contato com a natureza frequentemente.

“Para mim é uma alegria muito grande, além de ser uma forma de socializar nesse momento de pandemia. Claro que são poucas pessoas, mas dá para interagir de forma segura. Sinto que estamos ajudando a desenvolver uma forte cultura de sustentabilidade”.

Solidários

O rapper e ator Carlos Santos, um dos educadores sociais da Rede de Protagonistas em Ação de Itapagipe (Reprotai) – uma rede que tem como objetivo criar oportunidades para adolescentes e jovens da região –, conheceu o projeto há nove anos, quando teve problemas em casa e não tinha onde ficar. “Tive contato com a Reprotai e conheci o trabalho deles e a Casa da Juventude, um espaço para produzir cultura que me acolheu”.

O jovem deixou de ser aluno para dar algumas oficinas para as crianças e adolescentes um tempo depois: “Ensino construção de poesia, aulas de teatro e música. Atualmente, estou um pouco afastado durante a semana por causa do trabalho, mas aos fins de semana sempre estou presente”.

Ele conta que essa migração entre ter sido um dos beneficiários da rede e passar a ser voluntário foi natural: “Trabalhamos muito a autoestima, são várias atividades e você vai se encontrando dentro disso. Isso me possibilitou estar onde estou. Devo muito à Reprotai e hoje tenho prazer em repassar esse conhecimento para jovens que precisam, como eu um dia”.

Já Tiago Muniz, 36, é uma das pessoas que se dispuseram ao voluntariado logo cedo, com 19 anos, no início da Reprotai. Ele já tinha o desejo de criar um curso de informática que não deu certo por falta de recursos, e a rede possibilitou que as oficinas acontecessem. Realiza também cursos de formação profissional para o primeiro emprego e aulas de cidadania, buscando a transformação dos jovens.

“Passei sete anos trabalhando em uma empresa de telemarketing em que fiquei um pouco afastado da rede nesse tempo. Decidi voltar focado no trabalho voluntário e me envolvi totalmente nessa área social, porque dinheiro é importante, mas não é tudo. Hoje sou muito mais feliz e realizado”, conta.

Situação de rua

Imagem ilustrativa da imagem Trabalho voluntário na pandemia reafirma a confiança em dias melhores
| Foto: Adilton Venegeroles | Ag. A TARDE
'É um trabalho que mudou minha vida', diz Juliana | Foto: Adilton Venegeroles | Ag. A TARDE

Dedicar o tempo para outras pessoas é o que move o grupo Pão Nosso, que sempre nos terceiros domingos do mês sai para entregar alimentos para pessoas em situação de rua em Salvador, normalmente na região da Cidade Baixa. O grupo existe desde 2009 e há 10 anos a química e empreendedora Juliana Fonseca, 36, foi convidada por uma amiga para participar e abraçou o voluntariado.

“Quando você faz uma vez, se apaixona. Realmente, é um trabalho que mudou a minha vida”, diz ela. O grupo prepara 150 refeições por dia e também encaminha quem precisa para centros de recuperação.

“É um trabalho além das quentinhas, porque a gente não dá só o alimento, procura ajudar de outros jeitos também. Você chega na rua e se vê naquela pessoa. É uma pessoa que tem uma história de vida muito parecida com a sua muitas vezes, e você vê que um dia até você pode estar naquela situação, a gente conversa, troca experiências. Hoje eu olho a pessoa em situação de rua com outros olhos, converso com diretores de fábrica e com eles da mesma forma. Muitas vezes essa pessoa só precisa de atenção”.

Nem mesmo a pandemia fez Juliana parar. Ela conta que no ano passado, no início disso tudo, o grupo deu uma pausa porque toda a situação era mais complicada, mas hoje sai para fazer as entregas com toda a segurança, se protege ao máximo e as pessoas são muito organizadas, têm muito respeito pelo grupo.

“Vamos nos cuidando sem deixar de fazer o trabalho, porque sabemos que a fome é muito mais complicada”, diz. No entanto, neste período os voluntários tiveram que substituir quentinhas por sanduíches por causa da falta de espaço para produzir as refeições, antes feitas em uma escola.

Zika

Ajudar a quem precisa também é o foco da estudante Taynara Paranhos, 23, que sabe da importância social dessas ações. Tudo começou quando ela desenvolveu um projeto de pesquisa na faculdade com crianças que tiveram síndrome da infecção congênita pelo zika vírus.

Quando finalizou o projeto, decidiu continuar tendo a vivência com aquelas mães e procurou a ONG Abraço, que presta serviços sociais, de saúde e também o acolhimento às mães de crianças com microcefalia e outras más-formações decorrentes da doença.

“Comecei no ano passado porque com a pandemia tive mais tempo para me dedicar ao voluntariado, que atualmente é na parte administrativa da ONG. Em nenhum momento tive medo, porque lá todos os cuidados são tomados”, conta.

Mas o trabalho voluntário sempre foi um desejo dela. A estudante já tinha tentado, mas não conseguiu conciliar com os estudos. “Voluntariado não é para ser uma coisa a ser feita quando sobra tempo. Você tem que se dedicar como um trabalho mesmo. Na primeira vez, quando vi que não podia me doar, esperei um momento mais oportuno”, analisa.

Para Juliana, o brasileiro é caridoso, mas é preciso dar mais espaço para que notícias boas sobre pessoas ajudando umas às outras tenham espaço. “Quem está com receio de ajudar por causa da pandemia, procure entender como é o trabalho, no que você pode ajudar. Acaba sendo uma forma de ocupar a nossa mente também nesse momento de pandemia”, ressalta.

Se cada pessoa reconhecesse os seus privilégios, teríamos uma sociedade muito melhor, na opinião de Taynara. “Por que não se doar para que outras pessoas tenham atendimentos e possam acessar o mínimo de direitos que a lei garante? Eu acredito que o voluntariado é se doar para que a desigualdade seja um pouco reduzida”, conclui.

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