SÃO JOÃO
Tradição e alegria na Carroçada da Saúde
Hoje à tarde, na Carroçada da Saúde, ocorre a Despedida de Solteiro do Jegue
Por Gilson Jorge
A partir das 15h deste domingo, e até amanhã à noite, o Largo do Godinho, na Saúde, se transforma no arraial de refúgio para quem mora nas redondezas e não pôde ou não quis passar o São João no interior.
Criada em 1996 por um grupo de amigos, incluindo o professor de filosofia do ensino médio e comerciante José Jorge Luz, a Carroçada da Saúde gira em torno de um jegue alegórico. Um pretexto para a celebração de uma das festas mais importantes do Nordeste.
Hoje à tarde, na Carroçada da Saúde, ocorre a Despedida de Solteiro do Jegue. Munidos de latinhas de cerveja, os moradores levam a representação do animal para desfilar pelas ruas do bairro. Para facilitar a formação de casais de humanos durante o evento, e evitar confusão no arraial, a organização distribui pulseiras coloridas entre os participantes.
Os comprometidos usam vermelho, os abertos à paquera vão de verde e quem estiver indeciso usa um providencial amarelo. Já que a pessoa pode iniciar um flerte, mas depois amarelar.
E mantendo a tradição de três décadas, amanhã, no Dia de São João, o jegue percorre as ruas na companhia de sua noiva, antes da consumação do casamento. Um evento que se repete anualmente. Nem Fábio Júnior nem Gretchen se casaram tanto.
A despedida de solteiro e o casamento do jegue atraem "testemunhas" de bairros vizinhos, como a jornalista e produtora audiovisual Claudia Costa, moradora do Jardim Baiano. Frequentadora do Bar do Léo há dois anos, Claudia esteve pela primeira vez na Carroçada no ano passado, quando não conseguiu viajar para o interior no período junino. A jornalista se juntou às amigas Sabrina Cunha e Karina Vieira e foi para o arraial da Saúde.
"Eu gostei, achei bem animado. É a proposta de um São João que eu gosto, uma coisa mais tranquila, mais família, sem muita confusão. Parece mais com o clima do interior, sabe?", pondera Claudia.
A jornalista já passou as festas juninas em Amargosa, Cruz das Almas e, como define, "todos os melhores festejos dessa época na Bahia", mas por conta de sua agenda de trabalho, às vezes precisa ficar na capital. E 2023 foi um desses momentos, o que lhe permitiu ir à Carroçada.
Claudia, que acha o São João a melhor festa do ano, já gostou de muvuca, mas hoje sonha com a simplicidade de uma fogueira na porta de casa e um trio nordestino. Quando está em Salvador no período de festas juninas, opta pelas atrações perto de casa, como o Pelourinho e, agora, a Saúde. "Hoje, eu prefiro mais esse climinha de interior do que as festas maiores", afirma Claudia.
Assim como nos tradicionais arraiás do interior, há moradores da Saúde que se fantasiam de padre, de noivo e noiva. Mas o centro das atenções mesmo é o jegue, feito de papel marchê, nome de origem francesa que designa uma massa de papel picado, amassado e embebido na água, que após ser coado é misturado a cola e gesso.
Devidamente enfeitado, o jegue circula pelas ruas da Saúde com uma fanfarra e um trio nordestino (zabumba, triângulo e sanfona). Este ano, as atrações são a Banda de Fanfarra Mestre Prego e o cantor e sanfoneiro Daniel Frota.
Origem
Seu Jorginho e alguns amigos do bairro costumavam viajar para o interior no São João, como o faz boa parte dos soteropolitanos. Mas houve um ano na década de 90 em que o festejo caiu no fim da semana, impedindo a viagem de quem trabalhava pois sem a possibilidade de "enforcar" seriam apenas dois dias para ir, curtir e voltar. Os amigos então decidiram trazer o clima de São João para a Saúde.
Um dos amigos tinha visto no interior a celebração do casamento de um jegue durante o São João, o que se tornou o elemento inspirador da Carroçada.
Com a morte de "Seu Jorginho" em 2014, o comando do arraial está a cargo de um dos seus três filhos, o músico Leandro Alonso, comandante do antigo Bar do Jorginho, que, após a morte do proprietário, passou a ser chamado pelos vizinhos de Bar do Léo.
"Nós, os filhos, crescemos atrás do balcão, onde aprendemos o que é a vida. Desde essa época, ele fazia os eventos de São João aqui, o Dia das Crianças, o Dia dos Pais", lembra Leandro, que se refere ao fundador do bar como um líder comunitário, apesar dessa nomenclatura não ser usada na época.
Seu Jorge era quem se movia para fazer as coisas acontecerem. "Ele era a pessoa que gostava de agitar o bairro. Passava dias fazendo bandeirolas para enfeitar a rua, fazia quebra-pote, rasga-saco", afirma o comerciante.
Nos tempos de Seu Jorginho, as despesas com a festa eram custeadas com um Livro de Ouro, com os moradores anotando seus nomes e os valores com que contribuiriam. Desde que começou a comandar a festa ao lado da mãe, Dona Irlanda, Léo preferiu adotar o esquema de pedir colaboração aos outros comerciantes da área. A participação na festa é aberta ao público e gratuita.
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