ELEIÇÕES
Veja as questões que mobilizam eleitores com 18 anos na Bahia
Pauta da segurança pública é uma das motivações para os jovens votarem
Por Pedro Hijo
O estudante Pedro Henrique de Jesus chega atrasado à faculdade quase todos os dias. Ele mora no bairro de Brotas, em Salvador, e depende do transporte público diariamente. "O problema é que a frota de ônibus é pequena, demora a passar e, quando passa, sempre está lotado", relata o estudante de Medicina.
As queixas sobre a mobilidade urbana, segurança, educação e representatividade de grupos minoritários na política partidária são alguns motivos que levam Pedro e outros jovens baianos de 18 anos às urnas, neste domingo, 6, para votar em candidatos para prefeituras e câmaras de vereadores.
Essa é a segunda vez que Pedro participa de uma eleição. Na primeira, em 2022, ele fez questão de votar, mesmo com 16 anos, idade em que a participação é facultativa. “Eu tinha muito forte em mim tudo aquilo que eu concordava e sabia que eu precisava fazer alguma coisa”, conta o estudante. Este ano, ele é uma das 155.848 pessoas com 18 anos aptas a votar na Bahia. Um grupo que representa 8% do eleitorado com esta idade no Brasil, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Também com 18 anos, a estudante Alice Machado se movimenta apenas de carro pelas ruas de Salvador. A razão para isso é a insegurança da capital baiana. "Meus pais têm medo de que alguma coisa aconteça comigo dentro do ônibus", relata. Aluna da terceira série do Ensino Médio de um colégio no bairro do Garcia, em Salvador, Alice diz que Salvador é “uma cidade de causas urgentes”. “O transporte e a educação são péssimos, e as últimas tentativas dos gestores não deram certo”, opina a estudante moradora do bairro da Barra.
A pauta da segurança pública é uma motivação importante para Alice comparecer às urnas neste domingo. Ela e a mãe costumam distribuir marmitas para moradores de rua na capital e notam que o número de beneficiados com a ação tem aumentado. “É muita gente na rua”, diz.
Depois das eleições majoritárias de 2022, Alice cortou o contato com todas as pessoas próximas que votaram no adversário do candidato à presidência que ela preferiu. "Quem eu não deixei de falar, eu convenci de que estava errado", esclarece a estudante.
Mesmo assim, ela percebe uma falta de interesse em discutir pautas políticas no grupo de amigos da escola. "As pessoas acham que falar desses assuntos é um saco", opina. Pedro Henrique concorda: “Parece que todo mundo só se informa na véspera das eleições”.
Apesar do desinteresse pontuado pelos estudantes, os jovens baianos são eleitores fiéis às urnas. Segundo dados do TSE-BA, o estado tem o terceiro maior eleitorado com 18 anos no Brasil. Está atrás apenas de São Paulo e Minas Gerais. Nas últimas eleições, em 2022, por exemplo, a faixa de baianos com 18 anos teve uma taxa de comparecimento de 86,1%. Número acima da média de todo o eleitorado do estado, de 78,7%, de acordo com o TSE.
Com essa idade, a estudante Caroline Santos tirou o título eleitoral assim que completou 16 anos. O incentivo veio dos pais. "A possibilidade de voto demorou séculos para vir à tona no Brasil, então, eu queria muito fazer parte desse momento", diz. Para este ano, ela segue ansiosa para votar. Pesquisou informações sobre os cargos municipais na internet e, a partir disso, escolheu os candidatos.
Para Caroline, as pautas sociais devem receber atenção, especialmente na criação de leis. "Todos devem ser incluídos na sociedade e ter seus direitos garantidos", opina a estudante. Pedro Henrique é taxativo quanto ao comportamento de candidatos que rejeita. “Se eu vejo um vereador dizendo que defende a religião e a família, sendo sensacionalista, eu não voto jamais”, afirma o estudante. “É um discurso muito perigoso”.
A escolha dos candidatos de Pedro foi inspirada também pela representatividade. Autodeclarado preto, ele acredita que questões econômicas devem vir acompanhadas da inclusão de grupos minoritários no debate. De acordo com o levantamento do TSE, o grupo de eleitores que se identificam como pretos ou pardos é maioria na Bahia entre os que têm 18 anos, somando mais de 84 mil pessoas. Desses, quase 25 mil se declaram pretos. São 15,8% de todos os eleitores baianos nessa idade, o maior percentual do país. E esses números podem ser ainda maiores, já que 34% dos eleitores baianos com 18 anos não informam como se identificam.
Futuro –
Pedro diz que escolheu cursar Medicina porque sempre quis estar numa posição em que pudesse movimentar mudanças sociais: "Eu queria ter essa associação entre ser médico e ter algum alcance político". Esse desejo de provocar alterações positivas na sociedade também inspirou Alice na escolha da carreira no Direito: “Eu sempre quis mudar as coisas ao meu redor, achava que o que as pessoas faziam não tinha muito impacto, então, fiz minha parte”, comenta.
Estudante da terceira série do Ensino Médio de um colégio estadual, Carolina Santos também pretende cursar Direito na faculdade. Ela tem feito um curso preparatório para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e pré-vestibular por meio do projeto municipal Ingressar. A iniciativa tem como objetivo auxiliar os estudantes na preparação para esses exames.
Carolina conta que a escolha do curso universitário também está associada a uma mudança social efetiva que ela pode exercer por meio da profissão. “Com o Direito, eu poderia ajudar as pessoas, especialmente com a aplicação das devidas leis”, diz ela. “E isso tem muito a ver com as eleições, porque é por meio do voto que nós temos a possibilidade de construir essa mudança e encontrar pessoas que trabalhem junto com a cidade”.
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