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29/09/2024 às 2:00 - há XX semanas | Autor: Daniela Castro*

MUITO

Você é capaz de encarar seu preconceito?

Confira a coluna escrita por Daniela Castro

Imagem ilustrativa da imagem Você é capaz de encarar seu preconceito?
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Não faz nem um mês que a atuação do Brasil nas Paralimpíadas de Paris rendeu ao país 89 medalhas e a quinta colocação no ranking mundial. Pouco antes, vimos atletas sem deficiência trazerem 20 medalhas, ocupando a vigésima posição na lista. Além das diferenças que gritam nesses números, você reparou mais alguma coisa? Pois é, o espaço desproporcional que as duas competições ocuparam na mídia. E outra: você gostaria (mesmo) de ter visto uma ampla cobertura da competição?

Esse foi um dos assuntos que puxei com Carlos Eduardo Oliveira do Carmo – ou, como ele prefere, Edu O.– sobre a (in)visibilidade que as pessoas com deficiência ainda precisam enfrentar na maratona cotidiana. Ele começa logo me dizendo que de-tes-ta esse discurso da “superação”, “inclusão”, “inspiração”. Palavras que até rimam mas, para ele, só reforçam os estereótipos que orbitam em torno dele desde a infância, quando teve pólio e nem chegou a dar os primeiros passos.

“Eu sei que o conceito de superação é visto como sinônimo de sucesso, especialmente no esporte, mas mostra que as pessoas não esperavam que fosse possível. A ideia de inclusão também pressupõe que não deveríamos estar ali. Se isso não for capacitismo, é o quê?”, questiona o coreógrafo, que há mais de 25 anos atua entre a arte e a militância. E a superação, hein? “Ah, vão se inspirar na p… que pariu!”, ele larga, para depois explodir em deliciosa gargalhada.

Quem conhece Edu O. sabe que o deboche é sua marca registrada. E, por que não dizer, também arma de combate. Seu perfil nas redes sociais (@eduimpro) está cheio de conteúdos em que ele ironiza o preconceito, provocando a audiência com questões desconcertantes como “Você já se aleijou hoje?”, ou o já clássico “Aaaah… Vocês, bípedes, me cansam!”, que ele repete durante nosso papo, entre um performático suspiro de cansaço e mais uma gargalhada daquelas.

Mas se engana quem pensa que tudo fica só na brincadeira. Depois da graduação em Artes Plásticas, Edu O. seguiu para um mestrado em Dança e um doutorado em Difusão do Conhecimento, além de uma especialização em Arteterapia. Atualmente, ele é professor da Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia, onde também coordena o Grupo X de Improvisação em Dança.

Ainda é autor de cinco livros, entre os quais Dança como mediação educacional para diversidade e ações afirmativas (2018). Se você soltou um “uau” com o currículo do rapaz, vamos fazer um exercício: se fosse uma pessoa sem deficiência, você também acharia incrível ou apenas “normal”?

“Eu correspondo a todas as expectativas sociais do que se considera uma pessoa bem-sucedida. Sou professor doutor, casado, financeiramente independente. Mas o fato de eu ser deficiente, para muita gente, me coloca num lugar de coitado ou de especial. Eu apenas precisei encontrar modos específicos de realizar as coisas”, ele diz. Claro, ao longo do caminho foi necessário enfrentar obstáculos que não estão impostos à maioria das pessoas, como a falta de acessibilidade – mesmo sendo um direito assegurado por lei – e de representatividade.

Foram questões como essas que motivaram a criação do Mapeamento Acessa Mais, realizado pelo Ministério da Cultura em parceria com a Universidade Federal da Bahia. Tendo Edu O. como coordenador nacional, a iniciativa está levantando dados sobre pessoas com deficiência que atuam como artistas ou agentes culturais, além de pessoas com ou sem deficiência que trabalham com acessibilidade cultural. É possível se cadastrar gratuitamente no site mapeamentoacessamais.com.br até 21 de dezembro.

“Geralmente, não somos vistos como agentes produtores de conhecimento e cultura. Mas o corpo def é o mais contemporâneo que existe porque nós provocamos a reorganização dos espaços. O propósito do mapeamento é promover uma mudança de paradigmas, saindo do lugar de queixa para reconhecer a contribuição dessas pessoas para a cultura do Brasil”, diz o coordenador.

*Daniela Castro é jornalista, mestra em Cultura e Sociedade e criadora da Inclusive Comunicação. Ela assina a coluna Plural sempre no último domingo do mês

Dicas plurais:

Cinema: Dirigido por Daniel Gonçalves e com Edu O. no elenco, o documentário Assexybilidade aborda mitos e preconceitos criados em torno da sexualidade de pessoas com deficiência. Além de contar com recursos de audiodescrição e Libras, é a primeira produção brasileira a ser exibida com legendas descritivas em 100% dos cinemas. Em Salvador, está em cartaz na Saladearte - Cinema da Ufba.

Exposição: O MAB (Museu de Arte da Bahia) abriga a exposição Def Contexto, que reúne obras de três artistas: Gustavo Reis, autista; Dêivide Monteiro, pessoa com deficiência visual e Jefferson Carvalho, pessoa com deficiência física. A mostra segue até 17 de novembro, de terça a domingo, das 10h às 18h. O acesso é gratuito.

Redes sociais: O influenciador potiguar Ivan Baron (@ivanbaron) compartilha com mais de 500 mil seguidores recortes de sua experiência como pessoa com paralisia cerebral. O conteúdo inclui repercussão de notícias, dicas para tornar o cotidiano de PCDs mais funcional e posicionamentos de combate ao capacitismo.

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