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Biden e Putin têm reunião de três horas e fazem gestos para apaziguar relações

Publicado quarta-feira, 16 de junho de 2021 às 16:29 h | Atualizado em 16/06/2021, 16:37 | Autor: Jerome CARTILLIER | AFP
| Foto: Brendan SMIALOWSKI | AFP
| Foto: Brendan SMIALOWSKI | AFP -

A primeira reunião de cúpula, em Genebra, entre os presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e da Rússia, Vladimir Putin, foi "construtiva", afirmou esse último ao comentar o encontro de três horas e meia. "As conversas foram absolutamente construtivas", afirmou Putin durante uma coletiva de imprensa em Genebra. 

Os dois líderes concordaram com o retorno de seus respectivos embaixadores, um gesto de apaziguamento nas tensas relações entre os dois países. Os embaixadores "voltarão aos seus locais de trabalho. Quando exatamente é uma questão puramente técnica", disse Putin, que também apresentou possíveis "compromissos" para uma troca de prisioneiros. 

As relações diplomáticas entre Moscou e Washington estavam muito abaladas desde que o atual presidente dos Estados Unidos chegou ao poder em janeiro. Depois que Biden comparou Putin a um "assassino", a Rússia convocou o seu embaixador Anatoli Antonov para os EUA para uma conversa em março, e anunciou que o homólogo americano em Moscou, John Sullivan, deveria retornar a Washington. 

Aperto de mão

Apesar das tensões, a cúpula realizada na elegante Villa La Grange começou com um aperto de mão entre os dois líderes. Biden tomou a iniciativa e estendeu a mão para Putin. "É sempre melhor nos encontrarmos cara a cara", disse o presidente dos Estados Unidos no início da reunião, a primeira com o líder russo desde que o americano chegou à Casa Branca. 

Putin chegou a Genebra nesta quarta-feira ao meio-dia, meia hora antes do início da reunião, e Biden o fez na terça-feira, procedente de Bruxelas, onde participou das reuniões de cúpula da Otan e com seus aliados na União Europeia.

Desde que assumiu o poder, o 46º presidente dos Estados Unidos adotou um tom firme em relação a Putin, para deixar clara a diferença com seu antecessor, Donald Trump. Biden também prometeu que destacará ao russo quais as "linhas vermelhas" que não deve ultrapassar.

"Não busco um conflito com a Rússia, mas responderemos se a Rússia continuar com suas atividades prejudiciais", disse o presidente americano antes da cúpula. 

Embora a Casa Branca tenha insistido que nenhum avanço espetacular deve ser esperado, o presidente de 78 anos sabe que em Genebra terá a oportunidade de polir sua imagem de excelente negociador. 

Nos últimos dias, os observadores relembraram a famosa cúpula em Genebra entre os presidentes Ronald Reagan e Mikhail Gorbatchov em 1985, que marcou o início do degelo da Guerra Fria. 

"Estou sempre pronto", declarou Biden ao chegar a Genebra e ser questionado sobre seu estado de espírito antes desta reunião que concentra as atenções do mundo.

Mas o presidente russo também tem uma longa experiência com encontros de cúpula. Desde que assumiu o poder, no final de 1999, ele conheceu quatro presidentes americanos. Biden é o quinto.

Muitos especialistas concordam que Putin já conseguiu o que mais desejava: realizar a cúpula como um sinal da importância da Rússia no cenário mundial.

Em entrevista à NBC, Putin disse esperar que o presidente democrata seja menos impulsivo do que seu antecessor republicano. Mas ele aproveitou a ocasião para descrever Donald Trump como um homem "talentoso".

"Sabia que estava infringindo a lei"

O único ponto de acordo entre a Casa Branca e o Kremlin era que as relações entre os dois países estão em seu ponto mais baixo em décadas. As questões polêmicas são numerosas e as discussões prometiam ser ásperas e difíceis, principalmente em relação à Ucrânia e Belarus.

Um dos tópicos mais delicados é a desinformação online e os ataques cibernéticos. Putin assegurou neste sentido que acordou com Biden sobre "abrir uma conversa sobre cibersegurança". 

Além da tentativa de interferência na eleição de 2016, os ataques cibernéticos recentes registrados contra empresas como SolarWinds, Colonial Pipeline e JBS e atribuídos a Moscou ou grupos de hackers russos irritaram Washington. 

Genebra está sob forte segurança, mas um pequeno grupo de manifestantes quis mostrar seu apoio a Alexei Navalny, líder da oposição russa que está na prisão após sobreviver a um envenenamento que atribuiu ao Kremlin. Muitos gritavam "Uma Rússia sem Putin".

Na terça-feira, de Bruxelas, Joe Biden emitiu um claro alerta sobre o ativista russo. A morte de Navalny "seria uma tragédia", disse.

Navalny "sabia que estava infringindo a lei" por não respeitar as condições de uma condenação em suspenso quando foi tratado na Alemanha por envenenamento, afirmou o presidente russo após a cúpula desta quarta-feira. "Isso deterioraria as relações com o resto do mundo e também comigo", alertou.

O presidente da Suíça, Guy Parmelin, por sua vez, mostrou-se otimista com este encontro. "O mundo está há 18 meses em uma pandemia que atingiu terrivelmente. A reunião de Genebra representa uma oportunidade para os presidentes dos Estados Unidos e da Rússia inspirarem um pouco mais de otimismo, um pouco mais de esperança na política mundial", disse ele.

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